Aguirre Talento
O Globo
Preso pela Polícia Federal (PF) em junho de 2017, depois de ter sido filmado arrastando pelas ruas de São Paulo uma mala recheada com R$ 500 mil, Rodrigo Rocha Loures, o ex-assessor do presidente Michel Temer, apresentou à Justiça Federal, pela primeira vez, a sua versão sobre o episódio. Em uma petição de 49 páginas obtida pelo Globo nesta quarta-feira, Rocha Loures afirma que recebeu a mala do delator Ricardo Saud, ex-executivo da J&F, “sem saber qual era seu conteúdo” e disse que “desconhecia quaisquer acertos, pagamentos e condições” relacionadas à mala.
LONGA MANUS – Na denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) acusou Loures de ser um emissário do presidente Michel Temer. Nas palavras do então procurador-geral Rodrigo Janot, o então assessor presidencial seria o “longa manus” de Temer, que teria sido encarregado apenas de buscar a mala e entregar a seu destinatário final, que foi acusado de corrupção passiva no caso, mas livrou-se momentaneamente de responder ao processo porque o Congresso rejeitou a denúncia.
No documento entregue à Justiça, Loures não explica por que correu com a mala, não diz por que devolveu os R$ 500 mil recebidos, não explica por que estavam faltando R$ 35 mil, tampouco entra em detalhes sobre o assunto.
“É impossível demonstrar qualquer liame subjetivo porque tal vínculo nunca existiu, pois Rodrigo Rocha Loures desconhecia quaisquer acertos, pagamentos ou condições, (…) tendo recebido a mala de Ricardo Saud sem saber qual era seu conteúdo”, diz a peça de defesa de Loures.
OUTRAS PROVAS – As gravações feitas pela Polícia Federal na Operação Patmos, porém, colocam em dúvidas a versão apresentada por Loures. Em uma das conversas gravadas por Saud antes de se encontrar com Rocha Loures em uma pizzaria no dia 28 de abril para entregar a mala de dinheiro, o delator afirma: — Você por ter nos ajudado já tem quinhentos mil guardadinho. Tá guardado comigo em casa e eu não quero ficar.
Loures responde, de acordo com a transcrição da PF: —Tá.
A defesa, apresentada pelo advogado de Loures, Cezar Bitencourt, em fevereiro, foi obtida com exclusividade pelo Globo. O documento foi protocolado na ação penal à qual Loures responde na Justiça Federal de Brasília, após desmembramento determinado pelo STF. Temer também havia sido denunciado no caso sob acusação de corrupção passiva, mas não se tornou réu porque a Câmara dos Deputados suspendeu a abertura da denúncia. Com isso, o processo passou a seguir somente contra Rocha Loures, também acusado de corrupção passiva.
DEFESA DE TEMER – Na peça, Rocha Loures defende Temer, afirmando que não houve comprovação de que a mala seria para o peemedebista.
“O simples fato de Rodrigo ter exercido a posição de assessoria do presidente não caracteriza concretamente o acerto de vontades para o cometimento de ilícitos. Afinal, a presidência da República conta com diversos assessores, sendo pouco razoável presumir que, ao exercer um cargo próximo ao chefe do Executivo, esses profissionais estão automaticamente anuindo com toda e qualquer ação do presidente da República”, diz a defesa.
Loures se tornou réu do caso em dezembro do ano passado, quando o juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal do DF, aceitou o recebimento da denúncia.
“GRANDE ARMAÇÃO” – Sua defesa argumentou ainda que ele foi vítima de uma armação entre o então procurador-geral da República Rodrigo Janot e os delatores da JBS com o objetivo de implicar Michel Temer – para isso, inclusive, arrolou como testemunha de defesa o ex-procurador Marcelo Miller, investigado por ter atuado para a JBS antes de deixar o cargo de procurador da República.
A defesa de Loures pediu ao juiz que sejam anuladas as provas da Operação Patmos, argumentando que as interceptações telefônicas e a ação controlada foram ilegais, e que Loures seja absolvido sumariamente.