Carlos Newton
Não há dúvida de que Joaquim Barbosa tem grandes possibilidades de chegar à Presidência da República. Ao contrário do que se costuma dizer, sua maior chance não surgiu em 2014, quando recusou a candidatura. Naquela época, ele teria de se defrontar com a enorme popularidade do ex-presidente da República Lula da Silva, que escolhia quem bem entendesse, conforme ficou provado em São Paulo na eleição do prefeito Fernando Haddad, em 2012, e depois na reeleição de Dilma Rousseff em 2014, contra um Aécio Neves ainda imaculado e turbinado pelo apoio de Marina Silva.
Se tivesse sido candidato na eleição passada, possivelmente Joaquim Barbosa seria derrotado ainda no primeiro turno. Mas quatro anos se passaram, Dilma e Aécio estão fora do baralho e Lula não é mais o mesmo e em 2016 não conseguiu reeleger Fernando Haddad, que nem chegou ao segundo turno em São Paulo.
CHEGOU A HORA – Quatro anos depois, os astros estão favoráveis à eleição de Barbosa. Tem um currículo admirável e baixa rejeição. Sua candidatura pelo PSB pode ganhar apoio de outros partidos, como o PPS, e ampliar seu espaço no horário gratuito. Além disso, tem condições de se tornar o primeiro presidente negro em um país em que a maioria da população é afrodescendente – e não adianta citar Nilo Peçanha, pois ele jamais foi nem poderia ser considerado negro.
Pessoalmente, confesso que me sinto atraído para votar em Barbosa, porque está na hora de termos um presidente negro, especialmente quando se trata de um vencedor, que ultrapassou sozinho a barreira da pobreza e se transformou num cidadão verdadeiramente emérito, um orgulho da cidadania.
Mas é preciso reconhecer que o maior problema é o próprio Joaquim Barbosa. Eu votaria, sem titubear, no geógrafo Milton Santos, orgulho da brasilidade, mas tenho dúvidas em relação a Barbosa.
HAMLETIANO – Ao invés de já estar detonando sua campanha e percorrendo o Brasil, para dizer as verdades que todos precisam ouvir, Joaquim Barbosa refuga no “ser ou não ser”, fica hamletianamente indeciso, não assume a liderança que está vaga, o cavalo presidencial passa encilhado e ele não monta…
Na quinta-feira, dia 19, ao chegar para mais uma reunião com a cúpula do PSB, Barbosa foi abordado pela secretária nacional do movimento Negritude Socialista Brasileira, Valneide Nascimento, que queria lhe apresentar um “material feito em sua homenagem”. Mas ele, infantilmente, a ignorou. “Tenho um horário”, alegou em um tom formal e entrou no prédio.
Qualquer político teria beijado a militante, recebido o material e agradecido, mas Barbosa parece superior, não gosta de se misturar com a plebe.
SEM VALIDADE – Com essa falta de jogo de cintura, Barbosa pode até atingir a Presidência, mas será um desastre pior do que Dilma Rousseff. Seu prazo de validade acabará rapidamente, o Congresso lhe voltará as costas, ele ficará falando sozinho, esta é a realidade que ameaça qualquer ídolo messiânico e também serve para definir os riscos da eleição de Jair Bolsonaro.
Seja quem for, o futuro presidente precisa ter diálogo com o Legislativo e o Judiciário. É obrigatório respeitar as regras democráticas, apresentar uma plataforma de governo que funcione na prática. Por enquanto, isso não existe. Só saberemos o que pretende cada candidato quando começar a campanha. Aí poderemos escolher o menos enganador.