João Domingos
Estadão
A resolução da Executiva Nacional do PT que compara o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) ao processo penal que resultou na condenação de Lula a 12 anos e 1 mês de prisão é de um oportunismo político sem tamanho. De acordo com a resolução petista, tanto a execução de Marielle quanto a condenação de Lula são consequências de uma escalada de autoritarismo no País.
Nesse clima, afirma o PT no documento da direção nacional, “os movimentos sociais são reprimidos, professores são espancados, a universidade é atacada, artistas são censurados, setores politizados do Judiciário atuam casuisticamente e o governo golpista apela, de forma demagógica e irresponsável, para a militarização de esferas de competência do poder civil”.
VISÃO IDEOLÓGICA – Tudo o que está escrito entre aspas no parágrafo acima faz parte de uma argumentação política a partir de uma visão ideológica das coisas. Portanto, o PT tem todo o direito de dizer isso. Pode chamar Michel Temer de traidor, golpista e outras coisas, mesmo que o hoje presidente tenha sido fundamental para a vitória de Dilma Rousseff em 2010 e 2014.
O PT pode até fazer discursos para lembrar que Geddel Vieira Lima está na cadeia. E ao mesmo tempo omitir que Geddel, ao qual se atribui a posse de R$ 51 milhões em dinheiro, encontrados em um apartamento, em Salvador, foi ministro da Integração Nacional de Lula. É tudo parte da disputa política.
VIOLÊNCA EXTREMA – Comparar o assassinato da vereadora Marielle ao processo penal que condenou Lula por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, no entanto, supera a argumentação lógica da política.
A morte da vereadora, uma militante dos direitos humanos, negros, homossexuais, lésbicas e outras minorias que vivem o processo de discriminação, é um ato de violência extrema, inaceitável numa sociedade democrática. Mas, infelizmente, um pedaço da tragédia brasileira, em que mulheres negras, como Marielle, são as que mais morrem no País. E morrem meninas, jovens e adultas, anônimas, estatísticas apenas.