Álbum que serviu mais a Sinatra do que a Jobim ganha edição de 50 anos

Por Mauro Ferreira

Em uma das tiradas mais mordazes da língua ferina de Ronaldo Bôscoli (1928 – 1994), o compositor carioca de clássicos da Bossa Nova disse que somente respeitaria a geração do rock brasileiro da década de 1980 quando o grupo inglês The Rolling Stones convidasse o grupo carioca Barão Vermelho para gravar um álbum da mesma forma que Frank Sinatra (1915 – 1998) convidara Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) para gravar um disco. Bôscoli se referia ao álbum Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim (Reprise, 1967), disco em que o maior cantor norte-americano do século XX deu voz a versões em inglês de alguns dos mais famosos títulos do soberano cancioneiro do compositor carioca. Lançado em março de 1967, o álbum ganha edição comemorativa de 50 anos, produzida por Charles Pignone com duas faixas-bônus.

Disponível no mercado fonográfico dos Estados Unidos desde abril deste ano de 2017, a edição chega ao Brasil neste mês de julho, em parceria da gravadora Universal Music com a empresa Sinatra Enterprises. As duas faixas adicionais são o medley que junta Quiet nights of quiet stars (Corcovado) (Antonio Carlos Jobim, 1960, em versão inglês de Gene Lees, 1965), Change partners (Irving Berlin, 1938), I concentrate on you (Cole Porter, 1940) e The girl from Ipanema (Garota de Ipanema) (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962, em versão em inglês de Norman Gimbel, 1965) – número musical extraído do especial de televisão A Man and his Music + Ella + Jobim, exibido em novembro daquele ano de 1967 pela rede NBC – e um take alternativo de The girl from Ipanema, captado na sessão de estúdio realizada em 31 de janeiro de 1967.

A rigor, ao contrário do pensa muito brasileiro com complexo de terceiro mundo, o álbum Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim fez um bem maior a Sinatra do que ao próprio Jobim. O compositor carioca já estava consagrado nos Estados Unidos – e, por extensão, em todo o universo pop mundial – desde 1962, ano do estouro da Bossa Nova nos EUA.

Cinco anos depois da aclamação norte-americana de Jobim, cujo primeiro álbum foi gravado em 1963 para o mercado dos Estados Unidos, Sinatra somente correu atrás do prejuízo (artístico) ao convidar o compositor para dividir um disco com o cantor. De todo modo, o álbum é merecidamente considerado um clássico. Muito por conta dos arranjos do maestro alemão Claus Ogerman (1930 – 2016), fundamental para que o cancioneiro de Jobim ganhasse molduras adequadas ao refinamento da obra do compositor.

 

 

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