Resposta a André Mansur, um advogado machista

Por  Bruna  Leão 

O machismo está em todos os lugares, não haveria de ser diferente na advocacia – em que pese talvez esperássemos um pouco mais de quem tem conhecimento sobre Direito. Portanto, se vivemos em uma sociedade machista, existem homens machistas e alguns deles invariavelmente são advogados. Um deles é André Mansur, advogado atuante em Belo Horizonte – MG que recentemente compartilhou em sua página profissional no Facebook  uma imagem que causou muita indignação.

 Entenda por quê:

 

 

Os comentários de crítica ao post foram dos mais variados, em comum todos criticavam o machismo. E é machista, pra ter que dizer o óbvio.

 

A mulher, mais uma vez, ocupa essa função quase essencialista de escrava do lar. A mulher é a empregada doméstica, babá, cozinheira, psicóloga, enfermeira, motorista. E o que ela tem em “troca”? O reconhecimento do marido.

 

 E casar com uma mulher assim… que economia! Aliás, economia é casar com uma mulher que faz tudo isso e não fazer tudo isso você mesmo, afinal, isso não é coisa que homem faça.

 

Dessa forma, segundo a lógica do post, devemos valorizar a mulher que tem tripla jornada de trabalho e vive em função da casa, marido e filhos. Que tal valorizar a mulher lavando as próprias cuecas, fazendo almoço, cuidando dos filhos, isso ninguém quer?

 É uma imagem que romantiza uma situação de abuso e exploração da mulher. Sendo um pouco mais realista, uma mulher que é empregada doméstica, babá, enfermeira, motorista, psicóloga seria melhor retratada da seguinte forma:

 

 Como se não bastasse o post desastroso, foi seguido de uma justificativa pior ainda, veja só:

 Conforme já dito inúmeras vezes, temos em nossa equipe 6 pessoas, sendo 3 mulheres e 3 homens. Eu e nossa Constituição Federal conferimos a todas elas liberdade de expressão, para publicarem tudo aquilo que entenderem pertinente, curioso, engraçado e, principalmente, não passível de interpretação como criminoso.

O presente post, que recebeu algumas críticas sobre seu suposto teor machista, foi escolhido e publicado por uma das mulheres da equipe, após trocar ideias com os demais membros, ironicamente exceto por mim, que somente o vi após sua publicação e, principalmente, após recebermos algumas manifestações bastante chulas e grosseiras.

Li e reli o post, mostrei para outras pessoas e todas (a grande maioria, mulheres) foram unânimes em confirmar a completa ausência de conteúdo que porventura denegrisse o papel das mulheres na sociedade, bem como contivesse qualquer elemento de desrespeito às nossas semelhantes.

Assim, gostaria de registrar alguns pontos:

1. A forma mal educada e grosseira mostra muito mais sobre quem usa esse lixo de forma de comunicação do que qualquer conteúdo machista que porventura tivesse no post. Se essas poucas pessoas querem ser respeitadas, demonstraram não merecer qualquer tipo de consideração.

2. Nosso Escritório é nacionalmente conhecido pela defesa dos direitos humanos e, principalmente, pelos direitos das mulheres, vítimas que são de toda sorte de violência. Ao banalizarem a causa, essa meia dúzia de mal-amadas acaba por aumentar ainda mais a tensão existente entre homens e mulheres.

3. Reparem que VÁRIAS MULHERES concordaram com o post, tendo se sentido valorizadas. Essas mulheres, que foram a grande maioria, merecem respeito e direito à opinião, que não deve ser substituída pelo discurso piegas de uma minoria sexualmente frustrada, que veem em nós, homens, inimigos, e não companheiros.

4. A essência da mensagem repousa na valorização da mulher. Quem não gostou, não curta. Se odiou, saia da página. A única coisa que é muito feio fazer é usar linguagem que iguala as mulheres a bêbados em bares de esquina. Vocês, que usam desse ridículo expediente, são patéticas e demonstram, com esse ato, que se trata de seres solitários que, em algum lamentável momento da vida, passaram a enxergar os homens como inimigos.

5. Às mulheres de verdade, as guerreiras que trabalham, lutam, disputam o mercado de trabalho e ainda têm de chegar em casa e ser mães, esposas e companheiras, dedicamos todo nosso respeito. Vocês são a essência do que há de mais puro e belo na sociedade. Vocês usam de seu curto tempo para se tornar pessoas melhores e não seres envenenados pelo ódio, pela amargura e pelo rancor. Por vocês, nossa equipe vai até o inferno. As demais, fiquem por lá!

6. Por fim, tranquilizo as poucas pseudo-feministas de plantão, que ainda sobreviveram aos novos tempos. Não me odeiem! Pois, assim como vocês, EU TAMBÉM ADORO MULHER!

André Mansur Brandão

 A ideia da pessoa foi de justificar um post machista sendo ainda mais machista, chamando mulheres de sexualmente frustradas, patéticas, seres solitários que vêem homem como inimigo, rancorosas, cheias de ódio, etc.

 

Valorize a mulher que lava, passa, cuida dos filhos, cozinha, tudo de graça pra você e se ela reclamar fale que ELA não está sendo companheira.

 

 E, claro, que pica resolve tudo! Um pouco de pica na sua vida e ninguém reclama mais de machismo. Tudo coisa de gente seuxalmente frustrada.

 

 Também não vê contradição em apontar, ao final, que “adora mulher”. Talvez somente as “mulheres de verdade”, como enfatiza, afinal, as demais são todas de mentira. Se faz a esposa de empregada, babá, motorista, porque adora mulher imagina se não gostasse… (daí de repente estaria chamando mulheres de sexualmente frustradas e patéticas nas redes sociais).

 

E nada disso é machista, que nada!

 Dito isso, gostaria eu de registrar alguns pontos:

 1.  Se existiram mulheres indignadas com a mensagem do post, isso deveria ter sido levado em consideração. O post foi ofensivo e a indignação foi proporcional a essa ofensa. A forma mal educada e grosseira ao qual as mulheres foram tratadas, tanto na imagem quanto na justificativa a ela, é inadmissível.

 2. Ter senso crítico não faz “aumentar ainda mais a tensão existente entre homens e mulheres”. Não se pode ser ofensivo e se defender alegando que o ofendido, ao expor sua indignação, está “criando tensão”. Não são feministas que criam desharmonia entre homens em mulheres, quem criou isso foi um sistema que hierarquizou gêneros como forma de beneficiar homens. Ocorre que queremos destruir esse sistema, mas existem os que se prendem a ele porque não querem perder seus privilégios. E são essas pessoas que se vêem atacadas com o feminismo. Além do mais, esse é um argumento absolutamente conveniente, aplicável a qualquer situação: se apontamos machismo, dizem que estamos criando “tensão”, inviabilizando, assim, a priori qualquer crítica. 

 3. Chamar mulheres de “mal-amadas” porque apontam machismo, é ser machista.

 4. Dizer que estamos “banalizando” uma luta pelo direitos das mulheres quando estamos criticando algo ofensivo às mulheres é incoerente.

 5. Dizer que seu escritório é reconhecido pela defesa do direito das mulheres ao mesmo tempo chamando-as de “mal amadas”, no mínimo, não pega bem pro seu escritório.

 6. Repare que VÁRIAS MULHERES não concordaram com o post, tendo se sentido ofendidas. Essas mulheres, independente de serem maioria ou não, merecem respeito e direito à opinião, que não deve ser desrespeitada por uma justificativa piegas de um advogado medíocre, que veem nós, mulheres, como sexualmente frustradas ao invés de pessoas, que, como quaisquer outras, merecem respeito.

 7. A essência da mensagem é machista. Quem não gostou, manifestou sua indignação. A única coisa que é muito feia é chamar de patética, “seres solitários que enxergam homens como inimigos”, entre outros adjetivos desprezíveis, quem – com razão – discordou do conteúdo da mensagem postada.

 8. Não são somente as mulheres que você considera “de verdade” que merecem respeito. Aliás, não “merecemos” respeito, ele é nosso por direito.

 9. Apontar que você foi machista não faz de nenhuma de nós amargurada ou rancorosa. Apenas faz de você um machista, como, de fato, comprovou ser.

 Enquanto advogada e, portanto, além de mulher também colega de profissão, manifesto aqui todo o meu repúdio ao machismo manifestado em forma de opinião pelo sr. André Mansur.

 Merecemos advogados melhores!

Fonte:NãomeKahlo

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