Folha de S.Paulo – Rubens Valente
No último dia de 2015, a estudante universitária Maria Aparecida Nery de Melo, 19, procurou a Polícia Civil em Boa Vista (RR) para registrar um boletim de ocorrência contra um homem que, segundo ela, a espancara com chutes e socos com tal violência que a levara ao desmaio. Seria mais uma ocorrência a se somar ao cotidiano de violência contra a mulher em Boa Vista não fosse por uma particularidade. O denunciado é um dos homens mais poderosos de Roraima: o senadorTelmário Mota (PDT), 58.
Ela disse que viveu maritalmente com o suposto agressor por cerca de três anos e meio e agora estava “sofrendo ameaças de morte”. Pediu as “devidas providências” à delegacia.
Titular da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), a delegada Verlânia Silva de Assis disse que ficou caracterizada “violência contra a mulher” e que as agressões foram confirmadas por exame de corpo de delito que apontou “múltiplas lesões”. “É complicado você imaginar que alguém se lesionaria para prejudicar alguém”, disse a delegada. O exame apontou “lesões na cabeça, boca, orelha esquerda, região dorsal, braço direito e joelho esquerdo”.
À Folha ele negou ter agredido a garota e ter mantido relacionamento amoroso com ela. “Não teve negócio de agressão, não existe isso, em nenhum momento, até porque não tenho nada com ela”. Em novembro, o senador foi à tribuna para sugerir a “agilização” de “todos os projetos de lei e outras proposições que digam respeito ao combate à violência contra a mulher e coloque na cadeia os agressores valentões”.
De acordo com o boletim de ocorrência, Maria indicou que as agressões ocorreram após acesso de ciúmes do senador durante um encontro com a família de Maria. Ele não teria gostado de cumprimentos dados a Maria por familiares. Então levou-a a um quarto, onde teriam ocorrido as agressões. Maria disse que teve a boca tapada para que a família não ouvisse seus gritos ou pedidos de socorro.