“Por enquanto, há escória de sobra”
O poeta russo Sergei Iessienin teve uma vida curta mas intensa, foi casado 4 vezes, uma delas com Isadora Duncan, que deixou o marido por ele. Aos 30 anos, em 1925, Iessienin enforcou-se num quarto do hotel Inglaterra, em Leningrado, depois de cortar os pulsos e escrever, com o próprio sangue, um poema para o amigo Vladimir Maiakovski.
O poeta russo Sergei Iessienin e Isadora Duncan, no Hotel Inglaterra, o poema escrito com sangue.
Até logo, até logo, companheiro
Guardo-te no meu peito e te asseguro:
O nosso afastamento passageiro
É sinal de um encontro no futuro.
Adeus amigo, sem mãos nem palavras
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
Tampouco há novidade em estar vivo!
Siérguei Iessiênin
(tradução de Augusto de Campos)
Maiakovski respondeu o bilhete com um belo poema, “A Sergei Iessienin”, que termina assim:
Por enquanto
há escória
de sobra.
0 tempo é escasso –
mãos à obra.
Primeiro
é preciso
transformar a vida,
para cantá-la –
em seguida.
Os tempos estão duros
para o artista:
Mas,
dizei-me,
anêmicos e anões,
os grandes,
onde,
em que ocasião,
escolheram
uma estrada
batida?
General
da força humana
– Verbo –
marche!
Que o tempo
cuspa balas
para trás,
e o vento
no passado
só desfaça
um maço de cabelos.
Para o júbilo
o planeta
está imaturo.
É preciso
arrancar alegria
ao futuro.
Nesta vida
morrer não é difícil.
O difícil
é a vida e seu ofício.
(Tradução de Haroldo de Campos)