Josias de Souza
Na sua empresa, o executivo Marcelo Odebrecht construiu uma fama de personagem mercurial. No trato com o Estado, ostentava um pragmatismo cordial. Sempre preferiu sentar à mesa, não virar a mesa, como exigem os procuradores da Lava Jato para celebrar um acordo de delação premiada. Sob Lula, desenvolveu um relacionamento fluido com o presidente. Visitava-o amiúde, algumas vezes acompanhado do pai, Emílio Odebrecht. Afora as visitas ao Planalto, Marcelo foi recebido para jantares no Alvorada.
Sob Dilma, embora o contato fosse mais frio, mantiveram-se as audiências, com periodicidade mais elástica. Os arquivos eletrônicos da Presidência registram quatro encontros: dois em 2013 (janeiro e outubro), dois em 2014 (março e julho). Nas suas viagens a Brasília, o príncipe regente da Odebrecht cultivou duas características: discrição e sigilo.
No processo da Lava Jato, Marcelo Odebrecht revelou-se um réu duro de roer. Referiu-se diversas vezes à delação em tom pejorativo. Ao condená-lo a 19 anos de cadeia, na semana passada, o juiz Sérgio Moro sentiu a necessidade de fazer uma defesa da ferramenta:
“Quem, em geral, vem criticando a colaboração premiada é, aparentemente, favorável à regra do silêncio, a omertà (palavra usada em referência ao código de honra da máfia napolitana) das organizações criminosas, isso sim reprovável”, anotou o magistrado, acrescentando que, na delação, a palavra do delator deve ser sempre confirmada por provas independentes.