Filósofo e romancista morreu aos 84 anos em sua casa, diz ‘La Reppublica’.
Eco é conhecido como autor de ‘O nome da rosa’ e ‘O pêndulo de Foucault’.
O filósofo e romancista italiano Umberto Eco, autor “O Nome da Rosa” e “O pêndulo de Foucault”, morreu nesta sexta-feira (19), segundo os jornais italianos “La Reppublica” e “Corriere della Sera”. A informação foi dada por um familiar do escritor ao “La Reppublica”, que diz que Eco morreu aos 84 anos em sua casa às 22h30 do horário local (19h30 pelo horário de Brasília).
A causa da morte não foi informada. Segundo a agência de notícias France Presse, há tempos o escritor lutava contra o câncer.
Umberto Eco nasceu na cidade de Alexandria, no dia 5 de janeiro de 1932. Quando pequeno, durante a Segunda Guerra Mundial, se mudou com sua mãe para um pequeno vilarejo na região montanhosa de Piemonte. Seu pai, um contador que vinha de uma família de 13 filhos, foi convocado para lutar em três guerras.
Seu pai queria que Umberto estudasse direito, mas ele decidiu entrar na Universidade de Turin para estudar filosofia medieval e literatura. Mais tarde, Umberto também foi professor na Universidade.
Ele trabalhou como editor de cultura no canal de televisão RAI, onde conheceu um grupo de escritores, pintores e músicos que o influenciou em sua futura carreira de escritor. ele O também era presidente da Escola Superior de Ciências Humanas da Universidade de Bolonha.
Em setembro de 1962, ele se casou com Renate Ramge, uma professora de arte alemã com quem teve dois filhos. Ele dividia seu tempo entre um apartamento em Milão, onde tinha uma biblioteca de 30 mil volumes, e uma casa de perto de Rimini, em que ficavam 20 mil exemplares.
Obras
O escritor é conhecido por seu romance “O Nome da Rosa” publicado em 1980. O livro combina semiótica, ficção, análise bíblica, estudos medievais e teoria literária. Em 1986 foi lançado o filme de mesmo nome, dirigido por Jean-Jacques Annaud e estrelado pelo ator Sean Connery.
Entre suas obras mais conhecidas também estão os romances “O Pêndulo de Foucault” e “O Cemitério de Praga”, além dos ensaios “A Estrutura Ausente” e “História da Beleza”. Seu último romance “O número Zero” foi publicado no ano passado.
Eco já tinha quase 50 anos quando começou a escrever romances, após uma bem sucedida carreira acadêmica. Já era autor de vários livros de não ficção e de ensaios quando decidiu buscar novos desafios.
‘Num certo momento, decidi escrever uma história. Eu não tinha mais filhos pequenos para os quais contar histórias’, afirmou o autor à Reuters em 2011, sentado na beirada de uma poltrona, vestido de forma casual com jaqueta de ‘tweed’, camisa de brim e gravata de tricô.
‘Quando a gente começa a escrever um livro, especialmente um romance, até a pessoa mais humilde do mundo espera virar um Homero’, disse Eco em tom brincalhão.,
Em 2013, Eco foi agraciado com a medalha de ouro à cultura italiana na Argentina pela Società Itália Argentina (SIA), em um ato na sede do Ministério das Relações Exteriores da Itália.
Dias depois, ele comentou a escolha pelo Vaticano do Papa Francisco, nascido na Argentina, para ocupar o cargo na Igreja Católica. O escritor definiu Francisco como “o papa da globalização” e opinou que representa algo “absolutamente novo” na história da Igreja Católica.
“Estou convencido que o Papa Francisco está representando um fato absolutamente novo na história da Igreja e, talvez, na história do mundo”, disse Eco em entrevista publicada à época pelo jornal argentino “La Nación”.
Saída de Berlusconi
Eco foi defensor da saída de Silvio Berlusconi do cargo de primeiro-ministro na Itália, em meio ao escândalo sexuais, acusações de corrupção e crises financeiras no país. Em uma semana, Berlusconi será provavelmente obrigado a renunciar. É o fim de um pesadelo’, disse Eco em 2011, numa entrevista destinada a promover seu novo romance, ‘O Cemitério de Praga’.
‘Teríamos tido esta crise econômica sem Berlusconi, mas o problema teria sido mais leve. Ele não é respeitado no exterior, então não pode representar o país’, disse Eco à época para a agência Reuters, inflamado e agitando um charuto fino e apagado entre os dedos.
Livros impressos e jornais
O escritor acreditava que os livros impressos não desaparecerão por causa das versões eletrônicas. “Não conseguiremos nos livrar dos livros”, afirmou em 2009, em uma entrevista coletiva horas antes de receber uma medalha de honra em Madri. “Eu não poderia ler Proust em formato digital. Seria impossível. Se eu tivesse que deixar um legado para o futuro, deixaria um livro, e não em formato digital”, afirmou.
Mas com relação ao jornal impresso, não se mostrou tão otimista. “Eu gosto de abrir as folhas do jornal tomando o café de manhã, mas já não sei se isso é o que meu neto pensa”, disse na mesma entrevista.
O escritor foi além ao afirmar que, “para fazer um jornal, são perdidas 40 páginas com publicidade”. “Os jornais são obrigados a conseguir muitas notícias para sobreviver e não estão dispostos a abandonar a batalha. Hoje há uma censura por excesso de informação”, acrescentou.
Na ocasião, Eco também afirmou que os intelectuais “não têm virtudes proféticas, que a figura do intelectual é um mito da esquerda”. No entanto, acreditava que “o intelectual tem que influenciar mais em longo prazo, não de forma imediata”.
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