Com Barbosa, Dilma cai numa armadilha

Terá de pagar pedágio ao mercado para conquistar confiança

 

KENNEDY ALENCAR
BRASÍLIA

A desconfiança dos agentes econômicos em relação a Nelson Barbosa tem razão de ser. Ela acontece em função do que foi feito pelo novo ministro da Fazenda quando ele pertenceu à equipe econômica do primeiro mandato e pelas brigas que travou com o antecessor, Joaquim Levy, ao longo deste ano.

Nos discursos de ontem, Nelson Barbosa e a presidente Dilma Rousseff tentaram transmitir a ideia de continuidade na política econômica. Ou seja, que não haveria mudança em relação ao que fazia Levy. Ora, isso é falso.

Se o governo acreditasse em continuidade, não teria derrubado Levy. Hoje, podem ser discutidos os motivos da saída, se Levy falhou com um ajuste que não conseguiu implementar, se ele foi duro demais, se a presidente o enfraqueceu com seus titubeios e vaivéns ou se é uma mistura dessas variáveis. Mas uma coisa é fato: Barbosa pensa diferente de Levy e soa falso tentar vendê-lo como solução de continuidade, porque ele não é.

Isso explica a desconfiança do mercado. Ora, quando um ministro da Fazenda fala com investidores para tranquilizá-los, o resultado esperado é uma melhora das expectativas econômicas. Aconteceu o contrário ontem após uma conferência de Barbosa com investidores estrangeiros. O dólar subiu. A Bolsa caiu.

Barbosa vai precisar de atos e não de palavras para conquistar a confiança dos agentes econômicos. Barbosa precisará surpreender, como disse a presidente Dilma a aliados na confraternização de ontem no Palácio da Alvorada. Enquanto isso não acontecer, a desconfiança continuará.

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A presidente Dilma não conseguirá atender ao desejo de dirigentes do PT e de líderes do partido no Congresso de guinada na política econômica. Se tentar entregar, vai piorar ainda mais a economia.

Ontem, num discurso lido sem nenhum entusiasmo, rapidamente, de forma burocrática, como se as folhas estivessem queimando a sua mão e ela quisesse se livrar rapidamente da tarefa, a presidente afastou uma guinada, apesar de setores do PT e de sua base social terem essa expectativa.

Deixar rolar a expectativa de guinada ajuda a animar a militância petista nas redes sociais, mas não dará solução real para a economia. A presidente caiu numa armadilha.

Vai ter de pagar um pedágio extra, mostrando-se mais ortodoxa, para justificar Nelson Barbosa na Fazenda. Barbosa poderia ter sido um bom nome para substituir Guido Mantega após as manifestações de 2013. Ainda havia margem de manobra para uma correção de rumos.

Quando Joaquim Levy foi escolhido em 2014, isso aconteceu porque ela já não tinha espaço para colocar um nome visto como desenvolvimentista. De lá para cá, os indicadores econômicos pioraram. Ou seja, Dilma tem menos margem de manobra para agir. A presidente tinha uma saída. Fazer como Itamar Franco em 1993.

Depois do fracasso de ministros da Fazenda, chamou um político, Fernando Henrique Cardoso, e delegou a ele a condução da economia. O resultado foi o Plano Real. Lula indicou Antonio Palocci Filho, um petista moderado, e Henrique Meirelles, um banqueiro respeitado, para sua equipe econômica em 2002. Houve uma inédita ascensão social e econômica dos mais pobres.

Itamar e Lula entenderam a necessidade de delegar a gestão econômica a quem entende. Dilma deu provas de que não entende. Está destruindo valor no país faz cinco anos.

No governo Lula, muitos pequenos empreendedores acreditaram na abertura de seus negócios e agora estão tendo de fechá-los. Pessoas que melhoraram de vida estão passando por um retrocesso com menos emprego e renda. Não se trata de debate ideológico em redes sociais, mas da vida real das pessoas.

A economia só vai melhorar se a presidente se afastar das decisões da Fazenda e do Banco Central. Mas a opção por Barbosa e Alexandre Tombini no Banco Central mostra que a presidente, que fracassou na economia, ainda pensa que pode dar as cartas nessa área.

Não pode. Repetindo, caiu numa armadilha. Vai agravar as crises econômica e política. Vai dar combustível ao impeachment, que havia perdido força após a vitória do governo na quinta no Supremo Tribunal Federal. A presidente deu um presente a quem trabalha por sua queda.

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