Palácio do Planalto foi pego de surpresa com a carta do vice-presidente, que alega se sentir “desprestigiado” no governo.
Para muitos, carta representou rompimento de Temer
Em tom de desabafo, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), enviou uma carta à presidente Dilma Rousseff queixando-se do seu atual papel nas decisões políticas do governo. Na noite desta segunda-feira (7), os principais veículos de comunicação do país já reproduziam na íntegra o conteúdo, que finalizava de forma impactante: “Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e também não terá amanhã”.
Sem demora, a carta agitou o cenário político e movimentou os arredores do poder em Brasília. O primeiro escalão do governo interpretou o recado como um “rompimento”. Integrantes da cúpula do próprio PMDB, por outro lado, classificaram a atitude de Temer como “infantil”.
Em determinado trecho, Michel Temer reclama de uma suposta exclusão no qual passou nos primeiros quatro anos de mandato da presidente Dilma. Em suas próprias palavras, ele se transformou em um “vice-decorativo, perdendo todo o protagonismo político que havia demonstrado no passado e que poderia servir ao governo”.
A carta surge em um dos momentos mais delicados desde que Dilma Rousseff assumiu a presidência da República. Na semana passada, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acolheu o pedido de impeachment. Nesta terça, a chapa de oposição ao governo foi eleita para conduzir a comissão que vai avaliar o processo de impedimento da petista.
Dividido, o PMDB demonstra enormes dificuldades em se reunir e tomar uma posição clara quanto ao processo de impeachment. Para figuras importantes da política atual brasileira, a carta de Temer poderá ser um divisor de águas na postura do partido daqui para frente. Veja de que forma os parlamentares repercutiram o “desabafo” de Temer à presidente Dilma Rousseff:
Renan Calheiros, presidente do Senado
“A carta só tem sentido sendo interpretada como um desabafo. Não se trata de uma ação política e nem partidária. O PMDB é o maior partido do Brasil e o que tem o maior número de governadores. Não tem dono. Mas deve participar do governo de forma programática e de coalizão. Deve-se acabar com essa coisa de troca de cargos”.
Aécio Neves, senador e presidente do PSDB
“É uma carta de rompimento. O vice está demonstrando a sua contrariedade e sua amargura com relação à presidente. Mas acho que ele deveria ter se focado na questão republicana, que é o mal que o PT vem fazendo ao Brasil há 13 anos. Houve destaque para a questão de nomeações e indicações para cargos. Mas, de forma central, a questão é que a carta mostra que o vice Michel Temer está se afastando definitivamente do governo”.
Ronaldo Caiado, líder do DEM no Senado
“Ele expôs, através da carta, sem contar a incapacidade administrativa, a falta de apoio por parte da presidente. O foco da oposição é tirar o país da situação em que se encontra. Depois do impeachment será uma outra etapa. Vamos em busca de um projeto que recoloque as coisas nos trilhos e arrume o estrago feito pelo PT”.
Eunício Oliveira, líder do PMDB no Senado
“O que se encontra nesta carta é uma avaliação de cunho pessoal do vice-presidente da República destinada à presidente. É um assunto entre ele e ela, e que deve ser tratado apenas entre ambos. Só cabe aos dois falarem”.
Humberto Costa, líder do PT no Senado
“Vi como forma de um desabafo pessoal, de algo muito mais na esfera do relacionamento pessoal do que propriamente o relacionamento político. Temer é alguém que desempenha um papel fundamental em nosso governo, sobretudo na parte da articulação política. Democrata de larga história que é, sabe que o momento é de reduzirmos a temperatura. Não é o governo, é o país que está em jogo”.