Carlos Brickmann
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, está correto ao anunciar investigações sobre o BNDES e os Fundos de Pensão: se há dúvidas sobre seu funcionamento, é papel do Congresso investigá-las. Pena que Cunha não faça isso por convicção, mas para vingar-se do Governo, que tentou barrar-lhe a eleição para a Presidência da Câmara, e a quem acusa de insuflar a Procuradoria Geral da República a pedir investigações contra ele. É ótimo que a Procuradoria investigue tanto Cunha quanto o presidente do Senado, Renan Calheiros; pena que, para a Presidência, isso funcione para tentar moderar a oposição de ambos ao Governo.
Deixemos claro, impeachment é medida prevista na legislação. Por mais transtornos que cause, é lei, não é golpe. Mas vamos combinar que é preciso primeiro encontrar um fato que possa levar ao impeachment para depois invocá-lo. Decidir primeiro o impeachment e depois procurar o fato gerador é um erro.
Cabe ao Senado aprovar ou rejeitar o procurador-geral indicado pela presidente. Mas não cabe ao Senado ameaçar Janot de rejeição para vingar-se das investigações contra Renan Calheiros e das ações contra senadores do início da semana. É verdade, também, que o espetáculo para a TV da apreensão dos carros de Collor não era necessário para as investigações. Se bem que, como disse o jornalista Sandro Vaia, “se Collor repudia com veemência, coisa ruim não deve ser”.
Deus, reza o provérbio, escreve certo por linhas tortas. Escrever errado por linhas certas não é coisa de Deus, mas de seu grande inimigo.
Para boa parte dos políticos brasileiros, e para tristeza de boa parte dos cidadãos, aqui até as coisas boas são feitas por motivos errados.