O antes e depois de Dilma na economia

Ueslei Marcelino/Reuters

Presidente Dilma Rousseff (PT) durante uma conferência de imprensa no Palácio da Alvorada, em Brasília
Presidente Dilma Rousseff (PT) durante uma conferência de imprensa no Palácio da Alvorada, em Brasília

Por João Pedro Caleiro – Exame

São Paulo – Formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dilma Rousseff é a primeira presidente economista que o Brasil tem desde Fernando Collor.

A familiaridade com o tema, no entanto, não bastou (ou pesou contra) em áreas como juros e investimento. Enquanto isso, indicadores positivos de crescimento e comércio que vinham da Era Lula foram se evaporando ao longo do mandato de Dilma com Guido Mantega como ministro.

Apesar de ter conseguido manter o desemprego em níveis historicamente baixos e a renda em trajetória ascendente, Dilma vai começar seu segundo mandato com PIB parado, inflação no teto da meta e juros mais altos do que recebeu de seu antecessor.

Veja a seguir 9 indicadores econômicos do Brasil no ano antes da posse e ao longo dos 4 anos do primeiro mandato da presidente:

Crescimento do PIB
2010 7,5%
2011 2,7%
2012 1%
2013 2,3%
2014 0,1% – 0,2% (est.)
Dilma tomou posse após um ano com 7,5% de crescimento, mas a maior taxa desde 1986 acabaria se provando “uma espécie de último fôlego do padrão de crescimento anterior”, nas palavras de Otaviano Canuto, assessor-sênior do Banco Mundial para economias em desenvolvimento.

A presidente vai terminar seu primeiro mandato com média de crescimento na casa dos 1,5%, pior resultado desde Collor. O governo culpou a crise internacional e de fato, os últimos anos viram o esgotamento de duas grandes forças por trás do último ciclo de expansão do país: a alta das commodities e a festa da liquidez internacional.

Mas a desaceleração brasileira veio antes e foi mais forte do que no resto da América Latina – e enquanto isso, os Estados Unidos crescem no maior ritmo em uma década e a China continua desmentindo as previsões de um pouso forçado.

Desemprego (dez.)
2010 5,3%
2011 4,7%
2012 4,6%
2013 4,3%
2014 4,8% (nov.)
Por enquanto, a desaceleração da economia ainda não mexeu muito com o grande triunfo econômico do governo: a manutenção de taxas de desemprego historicamente baixas e a continuidade da formalização do mercado de trabalho.

A geração de empregos já não tem a mesma força, mas a taxa continua baixa porque menos pessoas estão procurando emprego. Para 2015, as previsões até agora são de leve alta do índice.

Renda média (crescimento)
2010 5,9%
2011 2,6%
2012 3,2%
2013 3,2%
2014 não disponível
O baixo desemprego e políticas sociais como o aumento do salário mínimo fizeram com que a renda das famílias continuasse subindo, nos anos Dilma, a uma taxa maior do que a expansão do PIB.

O grosso do aumento real ocorreu nas classes mais baixas, contribuindo para a redução da desigualdade (pelo menos nessa medida). De acordo com o índice Gini, a desigualdade está parada desde 2011.

Taxa de investimento
2010 19,5%
2011 19,3%
2012 18,1%
2013 18,4%
2014 17,4% (até setembro)
O Brasil tem uma taxa de investimento historicamente baixa, seja em comparação com países desenvolvidos como a Austrália (28%) ou emergentes como a Indonésia (34%). Isso sem falar na China, para quem o investimento é tão central que é até problema.
Aumentar este número está entre as chaves para vários desafios do país, como diminuir a inflação, resolver os gargalos de infraestrutura e aumentar o potencial de crescimento no médio e longo prazo. E nesse aspecto, o governo Dilma andou de lado, para o dizer o mínimo.

Os investimentos públicos não devem sair ilesos dos cortes no ano que vem, mas de qualquer forma, são apenas um “fermentozinho da massa”, segundo o próprio ministro Joaquim Levy. A melhora desta taxa depende do investimento privado, que ainda deve esperar para ver para onde vai a política do segundo mandato.

Taxa Selic (fim do ano)
2010 10,75%
2011 11%
2012 7,25%
2013 10%
2014 11,75%
Por um tempo, pareceu que depois dos legados de estabilidade econômica de Fernando Henrique Cardoso e de inclusão social de Lula, o governo Dilma poderia deixar como marca a redução dos juros, que estão entre os mais altos do mundo.

A própria presidente elegeu o tema como bandeira e passou a pedir aos bancos privados que abaixassem suas taxas. Ao longo de 2012, a Selic sofreu sucessivos cortes e foi de 11% para 7,25%, uma baixa histórica.

Sem o devido apoio da política fiscal, no entanto, o Banco Central se viu obrigado a reverter o rumo, e hoje a Selic está no seu maior nível desde agosto de 2011. Pelo menos em seu primeiro mandato, Dilma vai entregar os juros mais altos do que recebeu.

Inflação
2010 5,91%
2011 6,50%
2012 5,84%
2013 5,91%
2014 6,56% (12 meses até nov.)
A queda dos juros não foi para frente porque voltou a ameaça da inflação – outro índice que Dilma vai entregar pior do que recebeu.

A desaceleração econômica, o dólar baixo e a contenção de preços administrados como luz e gasolina não foram suficientes para impedir que a inflação ficasse longe do centro da meta por todo o governo e estourasse o teto por boa parte de 2014.

Para o ano que vem e os seguintes, o Banco Central promete uma política mais dura e conta com os cortes de gastos e aumentos de impostos prometidos pela nova equipe econômica.

Superávit primário
2010 2,8%
2011 3,1%
2012 2,4%
2013 1,9%
2014 0,56% (12 meses até outubro)
Não é por acaso que a política fiscal foi o foco dos primeiros anúncios do novo ministro Joaquim Levy. Nos últimos anos, o uso da chamada “contabilidade criativa” e o crescimento do gasto corrente fizeram aumentar a despesa ao mesmo tempo em que a arrecadação cedia devido ao baixo crescimento e desonerações tributárias.

O resultado foi o abandono gradual de metas de superávit primário que culminou na manobra fiscal deste ano, quando o governo alterou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para transformar um déficit na prática em superávit no papel.

Cotação do dólar (fim do ano)
2010 R$ 1,66
2011 R$ 1,86
2012 R$ 2,04
2013 R$ 2,35
2014 R$ 2,69 (em 26/12)
Além da política fiscal, outro fator que puxou a inflação para cima foi o dólar. Na medida em que a recuperação americana tomou fôlego, cresceram as apostas de que o Banco Central americano iria começar a desmontar seu programa de compra de ativos (o que ocorreu este ano) e aumentar sua taxa de juros (o que deve ocorrer no ano que vem).

A perspectiva de mais ganhos nos EUA atraíram recursos que antes vinham fácil para os emergentes. Com isso, o dólar começou um novo ciclo de fortalecimento que deve continuar.

No caso do Brasil, contaram também o fim da euforia com o país, a descrença na política econômica do governo e neste ano, as especulações próprias de ciclos eleitorais.

Balança comercial (US$)
2010 20,2 bilhões
2011 29,7 bilhões
2012 19,4 bilhões
2013 2,5 bilhões
2014 déficit de 4 bilhões (até 19/12)
A perda de competitividade, o congelamento da agenda de reformas e o persistente custo brasil fizeram com que a demanda brasileira continuasse “vazando” para o exterior, com crescentes déficits em conta corrente e uma queda gradual da balança comercial.

A promessa é que o dólar mais forte torne os produtos brasileiros mais baratos na comparação internacional, dando um fôlego para a indústria e as exportações – mas isso ainda não ocorreu e o país deve fechar 2014 com seu primeiro déficit comercial desde 2000.

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