“Direto da Redação”: O Dilema Petista

O PT busca estancar as quedas de popularidade de Dilma Rousseff

    Por Henrique Veltiman

“Não podemos voltar atrás” é o mote do vídeo do PT que começou a ser exibido na televisão na semana passada.

Em tom radical, pela primeira vez nessa pré-campanha,  o PT busca estancar as quedas de popularidade de Dilma Rousseff . O filme, de pouco mais de um minuto, usa imagens de forte apelo emocional e, ao contrário do “Lulinha Paz e Amor”de 2002,  apresenta o viés de uma telenovela mexicana.

Tudo a ver com as proclamadas diretrizes do programa de governo do PT, de sua tática de campanha e das alianças que o partido deverá concluir nos próximos dias ou semanas.

O programa ocupa dez páginas, num total de 2.200 palavras, e foi anunciado no evento partidário que reuniu perto de oitocentos petistas  na cerimônia de sagração da candidatura de Dilma Rousseff à reeleição. Claro, Lula presente como a grande e mítica figura petista.

Mas o conteúdo desse programa surpreende, revelando  que o maior partido político brasileiro, a cinco meses da eleição e com sua candidata liderando todas as pesquisas, planeja uma campanha raivosa, atacando os adversários, na defensiva diante da “complexidade da conjuntura” e dos “reflexos da crise mundial”. Na verdade, revela o medo de perder o governo.

O documento, disponível na rede do PT, é cinco vezes mais extenso que o da campanha de 2010. Indica uma drástica mudança no humor petista depois de doze anos no poder.

Dissiparam-se o tom de leveza e o autojúbilo nas declarações com a certeza de que se mudavam “substancialmente o Brasil e a vida dos brasileiros”.

Agora, a “resolução” do PT é pela guerra total a quem ameaçar a “conquista de hegemonia em torno do nosso projeto de sociedade”.

Os dirigentes creem ter uma missão salvacionista: “Superar a herança maldita, cujas fontes são a ditadura militar, o desenvolvimentismo conservador e a devastação neoliberal.”

Assim, veem como “tarefa” o “aprofundamento da soberania nacional, a aceleração e radicalização da integração latino-americana e caribenha, e uma política externa que confronte os interesses dos Estados Unidos e seus aliados”.

Com evidente mania de perseguição, os dirigentes petistas enxergam “um pesado ataque ao nosso projeto, ao nosso governo e ao PT, por parte de setores da elite conservadora e da mídia oligopolista, que funciona como verdadeiro partido de oposição”. O “principal exemplo”, afirmam, foi o “julgamento de exceção” do mensalão no STF.

Supõem ser essencial desqualificar os adversários:

“Representam um projeto oposto ao nosso, muito embora um deles se esforce em transmutar-se em uma suposta terceira via. Guardadas as diferenças secundárias e temporais, arregimentam os interesses privatistas, rentistas, entreguistas, sob o guarda-chuva ideológico do neoliberalismo e de valores retrógrados do machismo, racismo e homofobia, daqueles que pretendem voltar ao passado neoliberal, excludente e conservador.”

Interpretam a ansiedade por mudanças (expressa por 74% dos eleitores,  em recente pesquisa do Datafolha) como atestado da própria onisciência, pois “todas estão contidas em nosso programa, como é o caso exemplar da reforma política, a democratização da comunicação, a reforma agrária, a reforma urbana e a reforma tributária”.

Acham que o epicentro está na “luta pela reforma política”. Porque “nosso grande objetivo é democratizar o Estado, inverter prioridades e estabelecer uma alternativa contra hegemonia ao capitalismo, construir um socialismo radicalmente democrático para o Brasil”.

Essas “diretrizes” diminuem a possibilidade de sedução do eleitor pela oferta objetiva de um futuro de progresso pessoal e coletivo. Elas pressupõem que a militância petista vá às ruas intimar o eleitorado a votar em Dilma por solidariedade à cúpula. Se fosse um documento da Igreja seria um exercício sobre a arte de viver da fé.  Mas aqui não se trata de fé, mas de ciência política.

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