Magno Martins Lança “Os Leões do Norte” com Turnê Literária pelo Sertão de Pernambuco

     O jornalista e escritor Magno Martins está prestes a dar início a uma verdadeira travessia histórica pelo sertão pernambucano. Na bagagem, ele leva seu mais novo livro, Os Leões do Norte, publicado pela editora Eu Escrevo. A obra reúne minibiografias de 22 ex-governadores que marcaram a política de Pernambuco, atravessando quase um século de história, de Carlos de Lima Cavalcanti, que assumiu o Palácio do Campo das Princesas em 1930, até Paulo Câmara, que encerrou seu ciclo em 2022.

O livro não inclui a atual governadora Raquel Lyra, por uma escolha editorial: preservar a isenção diante de gestões ainda em andamento.

A jornada de lançamentos começa com brilho em Serra Talhada, terra natal do emblemático Agamenon Magalhães, um dos protagonistas do livro e figura incontornável da política pernambucana e nacional. Com apoio da prefeita Márcia Conrado (PT), o evento acontecerá na Casa da Cultura, a partir das 18h da próxima segunda-feira.

Já na terça-feira, o itinerário segue para a cidade de Flores, onde o autor será recebido às 19h na Câmara de Vereadores, com o incentivo institucional do prefeito Gilberto Ribeiro, que sucedeu o ex-prefeito Marconi Santana.

Com seu olhar arguto e décadas de experiência no jornalismo político, Magno Martins reconstrói, em Os Leões do Norte, os bastidores do poder e os traços que moldaram os líderes que comandaram Pernambuco em diferentes conjunturas históricas, sociais e econômicas. O livro é, ao mesmo tempo, uma aula de história, um mergulho na biografia política e um convite à reflexão sobre os rumos do Estado.

Mais do que uma obra biográfica, Os Leões do Norte é um documento político-literário, necessário para compreender o presente à luz do passado. E, com essa caravana de lançamentos pelo interior, Magno reafirma sua vocação de estar perto do povo e de suas raízes, levando cultura, memória e debate para o coração do sertão.

A agenda deve se estender por outras cidades nas semanas seguintes, e cada parada promete ser não apenas uma noite de autógrafos, mas um reencontro com a história viva de Pernambuco.

A madrugada em mim ainda é você. Por Flávio Chaves

    Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc  –  Não sei se sou eu que estou triste ou se essa sombra existe no meio do mar. Às vezes me pergunto: essa dor é minha ou o mundo inteiro está chorando comigo sem saber?

A madrugada chegou como chegam as dores que não pedem licença. Não há barulho lá fora, mas aqui dentro tudo grita. É como se as horas parassem e os ponteiros apenas circulassem a saudade, girando em volta de algo que não tem mais presença, mas nunca deixou de existir. Eu olho para a parede, para o teto, para dentro de mim, e percebo: não sei se é saudade, solidão, dor ou essa coisa sem nome que ainda pulsa e me rasga: o amor.

E não adianta dizer que passou. Não passou. Apenas mudou de lugar. Hoje convivo com a falta como quem compartilha o mesmo teto com fantasmas: sei que ninguém vê, mas eles me seguem por todos os cômodos. E o mais assustador não é o silêncio deles, é o fato de eu reconhecer seus passos. São os ecos daquilo que fomos. Do que ainda sou, mesmo sozinho.

Ela não está aqui. Por isso já não fala, já não toca. Mas é como se tudo nela ainda sussurrasse em mim. Um perfume imaginado, um riso lembrado, uma frase que me visita de repente no meio da noite. Não precisa de muito. Basta lembrar sem querer. E tudo volta — não para ficar, mas para doer mais um pouco.

Nosso amor foi feito de linguagem rara. De instantes que só nós dois entendíamos. De cumplicidades que nenhuma fotografia registrou. Era no silêncio que a gente se dizia inteiro. Era no toque que o mundo se calava. E mesmo nas distâncias, havia um tipo de presença que ninguém conseguia apagar. É disso que sinto falta: não apenas dela, mas do que éramos quando estávamos juntos.

Eu não digo seu nome. Não porque ela tenha saído de mim, mas porque permanece tanto, tão viva, que qualquer palavra seria pequena demais para conter o que ela ainda é em mim.
Não a chamo. Não porque não deseje, mas porque ela nunca partiu. Está aqui. Silenciosa. Inteira.

E eu sigo. Escrevendo porque não sei outra forma de respirar. Amando porque não aprendi a desamar. Silenciando, porque às vezes amar é isso: aceitar que há sentimentos tão grandes que só cabem no silêncio.

Se alguém me perguntar um dia, direi: houve uma madrugada em que eu senti tudo. Tudo ao mesmo tempo. E por amor, escolhi não dizer o nome dela.
Mas no fundo, cada batida do meu coração continua escrevendo esse nome, como quem ama desesperadamente.

Vídeo: Desrespeito à Bandeira de Pernambuco: Ignorância e Desconexão Cultural no Palco de Carpina. Por Flávio Chaves

Cantora da Banda Calcinha Preta desrespeita símbolo de Pernambuco em show de São João e revela o abismo entre o espetáculo vazio e a cultura nordestina.

Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc  – Durante apresentação realizada no último dia 26 de junho, no município de Carpina, a cantora Silvânia Aquino, da Banda Calcinha Preta, protagonizou um episódio que gerou indignação generalizada no público local. Em pleno palco, ao segurar a bandeira do Estado de Pernambuco de forma invertida, foi alertada de que se tratava de um símbolo oficial. Em vez de reconhecer o equívoco com humildade, preferiu desafiar a inteligência coletiva da plateia, perguntando: “Estou errada?”, enquanto mantinha a bandeira de ponta cabeça.

Mais grave ainda, ao tentar amenizar a situação enrolando-se no pavilhão pernambucano, seguiu com declarações consideradas desrespeitosas e infelizes, demonstrando um completo despreparo e desconhecimento do que aquela bandeira representa.

Como já dizia o lendário Odorico Paraguaçu, personagem imortalizado por Paulo Gracindo: “A ignorância é que atravanca o progresso”. E esse episódio é, infelizmente, um retrato nu e cru da banalização do simbólico, do vazio da linguagem e da presença de artistas que não se relacionam com a cultura local, nem com a história do chão que pisam. Nelson Rodrigues também profetizou: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”. E se multiplicam nos palcos, nos contratos públicos, nas planilhas de cachês milionários que prefeituras aceitam pagar em nome de uma “festa” que cada vez menos tem a ver com o espírito junino.

O que se viu em Carpina não foi apenas uma apresentação ruim, onde as músicas eram cortadas pela metade e os próprios integrantes da banda pediam que o público cantasse em seu lugar. O que se viu foi um reflexo preocupante de um modelo cultural que vem sendo deturpado pela busca do espetáculo pelo espetáculo. Um São João sem alma, onde o forró raiz cede lugar à estética comercial do que nada representa os festejos de Santo Antônio, São João e São Pedro.

A pergunta precisa ser feita sem medo: será que o interesse em trazer bandas que não têm identidade com a cultura nordestina está atrelado aos altos valores que permitem tabelas infladas com fins escusos? O tradicional “favores”? A contrapartida dos contratos e os jogos de bastidores que transformam o erário em moeda de influência e de ilusão?

Não se trata aqui de bairrismo, mas de respeito. Respeito à identidade de um povo que faz do seu São João uma das mais legítimas expressões culturais do Brasil. A cultura junina é feita de zabumba, sanfona, triângulo e poesia popular. De fogueira, milho assado, ciranda e xote. Não de playback, bandeiras de cabeça para baixo e frases ofensivas.

As prefeituras, por sua vez, não são meras espectadoras. Elas são coautoras dessa desconexão cultural, quando contratam artistas sem qualquer vínculo com o momento ou com a tradição. Ao priorizarem o “nome de peso” ao invés do conteúdo e da autenticidade, colaboram diretamente com a desfiguração do São João.

O que se vê, cada vez mais, é a repetição moderna da política romana de “Panem et Circenses”, o famoso “pão e circo”. Na Roma Antiga, a tática era simples: alimentar e entreter a população para manter o controle social, desviando a atenção daquilo que realmente importava. Os imperadores ofereciam grãos e espetáculos de gladiadores para o povo esquecer da crise, da corrupção, da miséria. Hoje, o método mudou de forma, mas não de essência. Ao invés de pão, distribuem brindes. Ao invés de circo, shows dissonantes, recheados de pirotecnia vazia, coreografias ensaiadas e agora até luzes dirigidas por drones — um espetáculo visual artificial que nada tem a ver com o São João e que ilude os menos esclarecidos, seduzindo o olhar com fumaça eletrônica e disfarçando a ausência de conteúdo com brilhos programados. É mais um símbolo da estupidez institucionalizada, onde o que deveria ser tradição é trocado por efeitos de fachada.

É preciso repensar o modelo. Resgatar a essência. Devolver ao povo não só o seu símbolo, mas também o sentido. A bandeira de Pernambuco não pode ser usada como pano de cena por quem não conhece a história de lutas e resistências que ela carrega. Ela não é acessório. É memória.

Diante do que se viu em Carpina, é justo dizer que Silvânia Aquino e a Banda Calcinha Preta deveriam se ausentar de Pernambuco por um bom tempo. Não por vingança, mas por respeito. Para refletirem sobre o que significa estar em terra alheia, cantar para um povo que tem orgulho de sua identidade e carregar consigo mais do que repertório: carregar consciência.

Pernambuco, afinal, não é palco para ignorância. É território sagrado de cultura, inteligência, resistência e beleza.

Veja o vídeo: