Sheikha Moza Bint Nasser: O Aniversário de Uma Mulher Que Faz do Futuro Seu Território. Por Flávio Chaves

Moza bint Nasser, a eterna sheika, celebra 65 anos de vida, poder e legado como a mulher que redefiniu a imagem do Catar© UK Press via Getty Images

Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc  –  Neste mês, Sheikha Moza Bint Nasser celebra mais um aniversário. Não se trata apenas da passagem de um ano, mas da renovação de uma presença que marcou e continua a marcar a história contemporânea. Porque Moza não habita apenas o Qatar: ela habita a ideia de que tradição e modernidade podem caminhar lado a lado, e de que o poder, quando guiado pela inteligência e pela visão de longo alcance, pode semear um futuro que transcenda fronteiras.

Ela não se limita aos bastidores da história, caminha no centro do palco, consciente de cada holofote que a segue e de cada sombra que tenta contê-la. Seu percurso é feito de uma rara conjugação: a delicadeza de uma presença que sabe calar para ouvir e a firmeza de uma liderança que sabe falar quando é hora de mudar o curso das coisas. Entre o refinamento das vestes e o peso das decisões, construiu uma persona que é tanto obra de si quanto resposta ao mundo que a observa.

Moza transformou a educação em alicerce de soberania, a cultura em linguagem diplomática e a imagem em ferramenta estratégica. Nos corredores da Qatar Foundation e nas salas onde se desenham acordos internacionais, ela não é apenas interlocutora, é protagonista. Sabe que o mundo árabe é muitas vezes lido pelo Ocidente por meio de estereótipos frágeis e, por isso, oferece ao mundo uma outra narrativa: a de uma mulher que não aceita o confinamento simbólico e que recusa a invisibilidade.

Celebrar Moza é reconhecer que ela não é apenas filha do seu tempo: é uma engenheira do futuro. Entre o que há e o que virá, ergue-se como ponte viva, sustentada por colunas de saber, visão e persistência.

Se Ofélia, no universo de Shakespeare, foi levada pela corrente, Moza aprendeu a caminhar sobre as águas. Onde a personagem trágica se deixou afundar, ela planta marcos. Onde o amor e o poder esmagaram, ela converteu o peso em alavanca. E, assim, ao invés de desaparecer, tornou-se farol.

Há aniversários que são apenas datas. O dela é clarão. Não por conta das velas, mas porque ilumina o espaço entre passado e futuro, um espaço que ela ocupa com a certeza de que, no tabuleiro das nações, não basta existir: é preciso permanecer.

NO GRITO: DÁ-LHE SANTA! Por CLAUDEMIR GOMES

 

   Por CLAUDEMIR GOMES  –  “DÁ-LHE SANTA! TRI! TRI, TRI, TRI, TRI, TRICOLOR!”.

Não! Isto não é um grito de guerra como tantos outros proferidos por diferentes torcidas por este mundo afora. Vai muito mais além. É o clamor de um povo que faz do amor incondicional ao Santa Cruz um instrumento transformador. Esse comportamento coletivo não é de fácil compreensão. Para entender tal magia é preciso conhecer a alma das REPÚBLICAS INDEPENDENTES DO ARRUDA.
Ela foi proclamada pelo jornalista e advogado Aramis Trindade, no dia 4 de junho de 1966. Sua constituição: a voz do povo. O poder máximo: a atitude do povo. Eis porque o Santa Cruz Futebol Clube é conhecido como Clube do Povo.
Nos últimos dias o amigo, Aluísio Ferrer, torcedor raiz, tem me enviado o placar das parciais de venda de ingressos para o jogo do Santa Cruz com o Sergipe, amanhã, na Arena Pernambuco. O galope dos números é impressionante: 20 mil ingressos vendidos; 30 mil; 40 mil; 60 mil; 200 mil… Nas REPÚBLICAS INDEPENDENTES DO ARRUDA é assim. Quando se trata de um momento decisivo para o Clube do Povo, o céu é o limite.
O mundo do futebol sabe disso. Não é a primeira vez que causa surpresa, um time disputando a quarta divisão de um campeonato nacional, ter sua torcida ocupando todas as dependências do estádio. Foi assim na primeira vez que o Santa Cruz desceu do céu para o inferno, e agora a história se repete.
Coisa do amor incondicional que torna gigantesco os pequenos gestos. O saudoso Napoleão Macedo – ex-diretor de futebol em tempos de vacas magras no Arruda – me contou que, nos finais de semana, quando o time concentrava, ele pedia a sua mulher, Oneide Macedo, para fazer cinco ou mais bolos para ele levar para concentração. “Era para o lanche dos meninos”, dizia sorrindo com a certeza de que, no lugar do fermento ela colocava uma porção de “pó de amor”.
Certa vez fui escalado para comentar um jogo do Santa Cruz junto com o amigo, José Gustavo, tricolor raiz e jornalista dos bons. A torcida tricolor tomou toda a Avenida Beberibe. A vitória foi construída pelos jogadores que foram fiéis a partitura dos gritos que ecoavam nas arquibancadas. Gustavo não se aguentou e liberou todo o sentimento que lhe liga ao Santinha. Me deixou com a responsabilidade de fechar os comentários e foi mergulhar, junto com uma multidão, no parque aquático do clube. Sua alegria era contagiante. Parecia que estava tomando um banho de purificação no Rio Ganges, na Índia. Coisa do amor incondicional!
Val, o taxista que todos os dias me coloca a par das últimas notícias sobre o Santa Cruz, quando me viu, hoje cedo, sem esconder sua aflição, e frustração pela má jornada dos tricolores no jogo de ida, indagou: “Dá para passar amanhã?”. De pronto lhe respondi: “Vai ser no grito, como sempre aconteceu”.
Quando pediram ao ex-presidente, Rodolfo Aguiar, para escalar o melhor time do Santa Cruz de todos os tempos ele foi pragmático e taxativo: “Um clube com uma história de mais de cem anos é impossível você selecionar onze craques sem cometer injustiças”. Verdade.
De repente, começaram a desfilar nas minhas lembranças, todos os nomes: Tará, Detinho, Pedrinho, Gilberto, Luís Neto, Birigui, Carlos Alberto Barbosa, Louro, Everaldo, Ricardo Rocha, Lula, Paranhos, Levir, Alfredo Santos, Pedrinho Nepomuceno, Léo Moura, Zé Carlos Olímpico, Mirobaldo, Wolnei, Zito, Luciano, Givanildo, Wilson Carrasco, Zé do Carmo, Zé Carlos Olímpico, Carlos Alberto Rodrigues, Levir, Cuica, Betinho, Fumanchu, Nunes, Ramon, Piu, Jarbas, Fernando Santana, Joãozinho, Grafite, Marlon, Rozembrik, Carlinhos Bala, Django, Mancuso, Almandoz, Henágio… Todos escutaram os gritos do povo e souberam traduzi-los com um bom futebol.
Juntos e misturados, 45 mil torcedores gritarão numa só voz:
DÁ-LHE SANTA!
“Porque hoje é sábado”, como diria o poeta Vinícius de Moraes.
Vai ser no grito.

O amor não acaba nunca. Por Flávio Chaves

    Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc  –  O amor não acaba nunca, mesmo quando tudo ao redor parece ruir em silêncio, mesmo quando os olhos já não se encontram nos mesmos lugares, nem os dedos se procuram sob a mesa do café da manhã. Ele não se curva ao tempo, não obedece às regras da lógica nem às sentenças do esquecimento. O amor, esse amor que não se explica, continua existindo mesmo quando a vida tenta sussurrar o contrário. Ele fica no canto da sala onde a gente riu pela primeira vez, no lençol amassado de uma tarde de outono, no nome que não se diz em voz alta mas que ecoa dentro do peito como um segredo que se recusa a morrer.

Talvez seja por isso que, mesmo depois de tantas estações, ele ainda arde. Disfarçado em lembranças, escondido em detalhes que ninguém nota, mas que a alma reconhece com a doce doação dos que já amaram demais. O amor não se despede, ele se transforma em remanso, em ausências que gritam mais alto que qualquer presença. Ele se aninha no corpo como uma cicatriz bonita, daquelas que doem em dias de chuva, mas que também fazem a gente sorrir quando toca com carinho. Não é o tempo que leva o amor, é a pressa, é a falta de escuta, é o medo de permanecer vulnerável quando tudo exige armaduras.

Mas quem amou de verdade sabe: o amor não aceita ser enterrado. Ele pode dormir por um tempo, fingir esquecimento, encenar indiferença. Pode até mesmo se esconder em outros corpos, em outros beijos, em outras tentativas de começar de novo. Mas volta. Sempre volta. No cheiro de um livro antigo, na luz da tarde atravessando a janela com a mesma cor do olhar que um dia nos desfez. Volta quando a música toca, quando a rua lembra, quando o silêncio pesa. Volta quando menos se espera, como um sopro, como um arrepio, como um verso que escapa da boca sem querer.

O amor não acaba nunca porque ele é maior que o tempo, que a distância, que a lógica. Ele é feito de memória, de pele, de instante. Vive onde a razão não alcança, onde os olhos não veem, onde as palavras não bastam. E talvez, só talvez, ele exista justamente para nos lembrar que nem tudo precisa fazer sentido. Que há coisas que só fazem sentir.

Por isso, quando perguntarem se ainda amamos, mesmo depois de tanto tempo, mesmo depois do adeus, talvez a resposta esteja na maneira como baixamos os olhos e sorrimos. Porque quem ama de verdade sabe: o amor não acaba nunca. Ele apenas muda de lugar dentro da gente.