Também se vê “com muita reserva” o voto dado pelo ministro Luiz Fux. Por Janio de Freitas

Fux coloca em dúvida as nove delações de Mauro Cid

Por Janio de Freitas
Poder360

A redução de Bolsonaro e seus militares golpistas à condição de réus é um levante legal que traz, implícita, alguma expectativa de reação ao avanço do autoritarismo em grande parte do mundo. O Brasil foi, até estes dias, uma descrença internacional na sua determinação de ordem política e pública livre de submissões opressoras.

A imagem muda e abre uma brecha, pequena embora, na investida da extrema-direita. O mundo que nos olha está tomado de pavor com o autoritarismo de Trump. A falta de reação, mais profunda nos próprios Estados Unidos, e mais estonteante na Europa, pode levar a caminhos até alheios a todas as previsões em curso. Improvável é que chegue a algum deles.

AUTORITARISMO – O mais recente produto do autoritarismo de Trump, o imposto de 25% nos carros importados, tem significado especial. Foi divulgado menos de 48 horas depois de informado que a Tesla de Elon Musk perdeu para a chinesa BYD a posição de maior construtora de automóveis no mundo.

Já repelida a exigência de legalidade dos atos presidenciais, Trump faz a derrubada ostensiva da exigência de moralidade, ainda que meramente formal.

O tumulto econômico, administrativo e social criado pela arbitrariedade brutal de Trump não é uma realidade que os Estados Unidos aceitem sem reações fortes. Mesmo as bases republicanas, no Congresso e nas ruas, estão atingidas pelos atos deletérios do governo.

RECUO OU QUEDA – Não é pequena a possibilidade de que Trump não tarde muito a ver-se entre o recuo total ou a queda. O autoritarismo é a pretensão da ausência absoluta de limites.

Também Netanyahu e seus asseclas, por exemplo, pretendem-se com poder sobre a vida e a morte dos palestinos. Passou de 50.000 o número de mortes contadas em Gaza por armas israelenses, mais estimados 10.000 desaparecidos nas ruínas de bombardeios.

Só os jornalistas profissionais mortos – repórteres, redatores, fotógrafos, câmeras e suas equipes – passam de 200. Muitos sob mira para fazê-los mortos, precisamente eles, do que há testemunhos e imagens gravadas.

MEDO DA REAÇÃO – Se não há manifestação da mídia em parte alguma, a explicação é a mesma para toda ela: medo da reação das organizações judaicas, sempre fortes financeira e socialmente.

O movimento público em Gaza para que o Hamas aceite um acordo de paz é, sem tal propósito, a pior ameaça ao autoritarismo em Israel.

Netanyahu e seus asseclas precisam do Hamas, porque, sem a guerra, perdem o poder e vão responder por seus crimes de corrupção. A guerra genocida em Gaza e o autoritarismo têm íntima relação, mas vão eliminar-se mutuamente.

VOTO DE FUX – Aliados entre si, Trump e Netanyahu são aliados de Bolsonaro. Nesse caso, como autoritários limitados. Nada podem e, de consolo, tiveram nada mais que um voto, em uma só questão:

“Vejo com muita reserva nove delações de um mesmo delator, cada hora com uma novidade”.

O ministro Alexandre de Moraes deu a explicação técnica, mas não custa imaginar a quantidade de fatos e falas que o tenente-coromel Mauro Cid, do lugar onde esteve, testemunhou ou colheu, e devia delatar – lembrando melhor, corrigindo-se de erros e mentiras. Por isso, também se vê “com muita reserva” o voto do ministro Luiz Fux…

Nota oficial dos militares mostra que a história do golpe está mal contada

PF prende suspeitos de atuar em noite de caos em Brasília - 29/12/2022 -  Poder - Folha

Em 12 de dezembro. kids pretos tentaram instaurar o caos

Francisco Leali
Estadão

O inquérito do golpe virou ação penal do golpe. E já são 8 os réus. O ex-presidente Jair Bolsonaro está entre eles. No meio da papelada do processo, um documento ajuda a mostrar como parte da cúpula das Forças Armadas agiu fora dos ritos formais nos dias em que pairava no governo a ameaça de ruptura da ordem democrática.

O texto é uma nota assinada pelos então três comandantes das Forças Armadas – almirante Almir Garnier (Marinha); general Marco Antônio Freire Gomes (Exército); e brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica) –, e divulgada no dia 11 de novembro de 2022 no site da Força Aérea Brasileira (FAB).

AINDA ACESSÁVEL – Até hoje está disponível neste link aqui. A divulgação da nota dos ex-comandantes foi antecipada pelo Blog do Fausto, no Estadão, naquele 11 de novembro.

Com o título “Às Instituições e ao Povo Brasileiro”, a mensagem foi reproduzida no mês passado em um dos itens da denúncia da Procuradoria Geral da República contra Bolsonaro e outros indiciados por tentativa de golpe de Estado.

Segundo o relato do Ministério Público, o delator Mauro Cid disse que aquela nota foi feita sob encomenda do ex-presidente e serviu para incentivar seus apoiadores que estavam acampados na porta dos quartéis e não aceitavam o resultado das eleições que resultaram em vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva.

DIZEM OS COMANDANTES – O texto começava assim: “Acerca das manifestações populares que vêm ocorrendo em inúmeros locais do País, a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira reafirmam seu compromisso irrestrito e inabalável com o Povo Brasileiro, com a democracia e com a harmonia política e social do Brasil, ratificado pelos valores e pelas tradições das Forças Armadas, sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos de nossa história.”

No mesmo dia de sua publicação, o 11 de novembro, Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro, mandou um áudio ao celular do comandante do Exército, general Freire Gomes.

Agradeceu a publicação e explicou seu efeito ao então comandante: “Com a Carta das Forças Armadas, o pessoal elogiou muito, eles estão se sentindo seguros pra dar um passo à frente… E o que eles entenderam dessa carta? Que, obviamente, que os movimentos vão ser convocados de forma pacífica, e eles estão sentindo o respaldo das Forças Armadas”.

ENTENDEU ERRADO – Ouvido pela Polícia Federal, Freire Gomes disse que Cid fez interpretação errada. A nota não foi feita a pedido do presidente e a ideia era pacificar os ânimos. O mesmo Freire Gomes contou à polícia que dias depois foi apresentado à tal minuta do golpe e avisou que não iria aderir a golpe.

O brigadeiro Baptista Junior também prestou depoimento, confirmou os movimentos de Bolsonaro em direção golpista, mas não foi questionado sobre o tema da nota.

O almirante Almir Garnier alegou direito de ficar calado e saiu sem falar nada. Dos três, é o único na lista dos denunciados e agora também é réu no STF.

TEMA RECORRENTE – A real motivação dos três ex-comandantes para divulgar a nota naquele momento é tema que volta na investigação criminal já que o documento está no processo e referido pela acusação como prova de interferência de Bolsonaro.

As três Forças foram solicitadas, por meio da Lei de Acesso à Informação, a apresentar os documentos que deram origem àquela manifestação.

As três deram respostas de conteúdo similar. Declararam que não há parecer, ofício, relatório ou qualquer outro registro relacionado ao texto dos comandantes. A FAB, que publicou a nota em seu site, foi categórica: “Não existem processos físicos ou eletrônicos, mensagens, ofícios, memorandos, minutas ou quaisquer outros registros recebidos ou produzidos por este Comando ou pelas demais Forças Militares, do Ministério da Defesa e/ou da Presidência da República, relacionados à produção e divulgação da nota referenciada em seu pleito”.

TUDO É GUARDADO – Militares são formalistas. Nas três Forças, documentos são catalogados, classificados e guardados seguindo normas próprias.

A inexistência de qualquer dado sobre como o texto redigido é pista sobre aqueles dias de conspiração em projeto.

Indica que pouquíssima gente poderia passar os olhos no documento ou mesmo saber de sua confecção antes de vir a público. Tudo feito para não deixar rastros. E revela que toda a história da tentativa de golpe ainda não está inteiramente contada.

Banco Master: compra foi bom negócio só para Daniel Vorcaro? Por Jackson Pereira Jr.

A recente aquisição do Banco Master pelo BRB, por R$ 2 bilhões, levanta questões sobre o futuro do setor financeiro brasileiro. O que essa movimentação significa para o mercado e investidores?

Compra do Banco Master pelo BRB envolve Daniel Vorcaro, presidente da instituição adquirida
Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master, no centro das atenções após anúncio da compra do Banco Master pelo BRB. (Foto: Divulgação/ENB)

Por Jackson Pereira Jr.  –  Economic News Brasil

compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB) envolve uma operação de R$ 2 bilhões, que inclui 49% das ações ordinárias, com direito a voto, e 100% das ações preferenciais. Com essa estrutura, o BRB passaria a deter 60% do capital total do Master. A transação reacende o debate sobre quem realmente se beneficia desse tipo de negócio. A pergunta que fica é: foi um bom negócio apenas para Daniel Vorcaro, presidente e controlador do Banco Master?

Ao vender parte do negócio, Daniel Vorcaro, de 41 anos, transforma patrimônio em receita e, além disso, pretende garantir lugar no conselho de administração do BRB.

Por enquanto, a compra do Banco Master ainda precisa da aprovação do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para ser concluída. Até o momento, o pedido formal para análise da operação não foi protocolado no BC.

O que muda com a compra do Banco Master pelo BRB

Segundo o BRB, com a aquisição do Banco Master, a instituição poderá atender 15 milhões de clientes. Além disso, passará a controlar uma estrutura com R$ 112 bilhões em ativos, R$ 72 bilhões em carteira de crédito e mais de R$ 100 bilhões em captações.

valor acordado na compra do Banco Master pelo BRB equivale a 75% do patrimônio líquido da instituição. Metade será paga à vista; já o restante depende da conclusão da auditoria sobre os ativos e passivos do banco adquirido.

Ainda que haja integração, a fusão não será total. A ideia é que os bancos continuem operando de forma separada, embora compartilhem governança, marca e planejamento.

Em julho de 2023, o Economic News Brasil havia publicado que Daniel Vorcaro já negociava adquirir maior participação no Banco Master, inclusive chegando a negar o fato. Mas, em setembro de 2024, o Banco Master passou pela mudança societária, com o banqueiro Maurício Quadrado vendendo 20% de sua participação à Vorcaro.

O Banco Master foi fundado em 1970 como Banco Máxima e, desde sua aquisição em 2018, passou por uma ampla reestruturação societária e operacional, que resultou na mudança para o nome atual.

Mercado e autoridades observam operação com cautela

Apesar do valor envolvido e da visibilidade do negócio, a compra do Banco Master pelo BRB enfrenta resistências silenciosas no mercado e entre autoridades.

De acordo com apuração do jornal O Globo, fontes próximas às negociações avaliam que o Banco Central poderá negar a efetivação da operação.

Além disso, executivos do setor financeiro e autoridades monetárias demonstraram preocupação com a situação financeira do Banco Master. A principal crítica diz respeito à dificuldade de captação de recursos e à existência de ativos considerados problemáticos. Segundo investidores, esses ativos poderiam comprometer o balanço financeiro de eventuais compradores.

Por esse motivo, muitos acreditam que esses fatores explicam o desinteresse de alguns bancos privados na operação, como o BTG Pactual. Caso seja aprovada, a transação poderá se consolidar como uma das maiores aquisições no setor financeiro do Brasil nos últimos anos. No entanto, ainda há incertezas quanto a aprovação pelo BC e o Cade.

Fachada da sede do BRB em Brasília, banco que anunciou a compra do Banco Master por R$ 2 bilhões
Sede do BRB em Brasi?lia. (Foto: Divulgação)

Escolhas, critérios e o papel do governo na operação

A compra do Banco Master pelo BRB amplia o alcance do banco público no setor financeiro. No entanto, também abre espaço para questionamentos ainda não respondidos de forma transparente.

Por exemplo: por que o Banco Master foi escolhido?

Houve algum processo competitivo, estudo técnico ou avaliação de mercado que justificasse a seleção dessa instituição em detrimento de outras?

Existiu alguma empresa intermediando a negociação? Quais critérios guiaram a decisão?

Essas perguntas ganham relevância quando se observa o papel direto do Governo do Distrito Federal (GDF), que detém 80,33% das ações do BRB. Em um cenário de debate público sobre a necessidade de enxugar o Estado e priorizar investimentos em áreas sociais, por que o GDF optou por aplicar bilhões em uma aquisição bancária?

Além disso, a discussão também se estende a outros bancos controlados por governos estaduais e federal. Ainda faz sentido que administrações públicas mantenham ou ampliem o controle sobre instituições financeiras? Ou esse tipo de estrutura acaba sendo usado para negociações políticas, distribuição de cargos e fortalecimento de influência, em vez de focar em saúde, educação e segurança pública?

aquisição do Banco Master amplia o alcance do banco público, mas também abre espaço para questionamentos.

Então, é legítimo perguntar: para quem, de fato, esse negócio foi bom?

*Opinião – Artigo Por Jackson Pereira Jr.empreendedor, diretor do BNTI, fundador e CEO do Sistema BNTI de Comunicação.