Na ditadura militar, caso fosse proibida a exibição de filme sobre um intelectual de esquerda, diriam todos que seria censura. Inclusive esses mesmos cineastas/revolucionários do festival, imagino. A contradição é gritante. Antes, era censura. Agora, só um gesto democrático…
Por José Paulo Cavalcanti Filho – Escritor, poeta,membro da Academia Pernambucana de Letras e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Integrou a Comissão da Verdade.
Olavo de Carvalho fez parte da Tariga, ordem mística muçulmana do Islã; mas, com o tempo, acabou católico convicto. Na Ditadura Militar, era membro do Partido Comunista Brasileiro (1966 a 1968); e, depois, foi ser ideólogo da Nova Direita. Mudou muito. Hoje, é professor de filosofia na universidade de Richmond (Virgínia, Estados Unidos). Não é pouca coisa. Seus pensamentos filosóficos, nos textos acadêmicos, seriam fundamentados na defesa dos princípios metafísicos das antigas civilizações e no combate à perda do sentido histórico do universo. Não gosto de suas ideias. O que não tem nenhuma importância. Posto que tem o direito de ser ouvido. No tanto em que principal liberdade, fundamento de todas as outras na democracia, é a da consciência. E uma consciência livre, para ser formada, requer ausência de qualquer censura.
O filósofo é odiado por parte de nossas esquerdas. Desde quando sugeriu andarem na busca da Vitória Perfeita. Para não entendidos, seria aquela obtida sem lutar, pela entrega do adversário – palavras de Lenin. Declarando mais que, para conseguir isso, adotaram a estratégia de Antonio Gramsci. Essa teoria do filósofo italiano é conhecida como a da Hegemonia Cultural. Que seria o exercício das funções de direção, intelectual e moral, para controle do poder político. Mais simplesmente, a estratégia consiste em controlar, primeiramente, o pensamento da mídia, dos sindicatos, da cultura, das universidades. E, só mais tarde, conquistar o poder. Fazer a revolução cultural, antes da revolução política.
Não há ninguém mais perseguido, hoje, por aqui. No CinePE deste ano, cineastas ditos democráticos assinaram Manifesto (15/5/2017) protestando contra a exibição de um filme sobre a vida de Olavo, “O Jardim das Aflições”. E retiraram seus filmes da competição, gritando Fora Temer.
Na ditadura militar, caso fosse proibida a exibição de filme sobre um intelectual de esquerda, diriam todos que seria censura. Inclusive esses mesmos cineastas/revolucionários do festival, imagino. A contradição é gritante. Antes, era censura. Agora, só um gesto democrático. O festival, apesar de tudo, foi realizado em seguida. E acabaram, as Aflições de Olavo, recebendo prêmio de “Melhor Filme”. Uma ironia.
… Para (Benjamin) Disraeli, Universidade é lugar de estudo, liberdade e luz. Deveria ser. Porque militantes do Partido da Causa Operária, e da União da Juventude Socialista, prepararam uma espécie de emboscada. No corredor por onde sairiam os espectadores do filme.