Etanol de cana de açúcar no lugar do carro elétrico

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Por Fernando Castilho

Donos de uma expertise de mais de 400 anos na produção de açúcar de cana e quase um século na produção de álcool, os usineiros brasileiros estão organizado, com o Governo Michel Temer, um upgrade no programa de biocombustíveis desenhado no governo Lula e que acabou virando liberação total da importação de álcool com a desculpa de não pressionar a inflação.

O problema é que é que, com a chance de importar, as distribuidoras (inclusive a BR Distribuidora), afundaram o pé na jaca e, de janeiro a junho, compram no mercado externo 3,05 bilhões de litros assustando o setor que começou a pressionar por ajuda.

Essa ajuda deve vir na próxima semana quando o presidente Michel Temer enviar ao Congresso, um projeto de Lei (em regime de urgência) criando o Renovabio, uma atualização da legislação do setor focada no biodiesel e no etanol.

O fato novo dessa legislação não está do discurso de apoio ao setor que gera emprego no campo e que, antes do pré-Sal, foi saudado no mundo inteiro com a chance de o Brasil liderar a indústria de combustíveis verdes a partir do etanol de cana-de-açúcar. No primeiro governo Lula, o Brasil surfou numa onda que fez milhões de hectares serem transformados em canaviais trazendo, inclusive, investidores internacionais e disparando a produção de etanol verde-amarelo.

Tudo ia bem até que a crise econômica no Governo Dilma implodiu o preço do etanol com a Petrobras (mais uma vez) torcendo o nariz para o álcool com as descobertas do pré-Sal. Foi para o espaço, o tempo em que o barril beirava os US$ 100 e o etanol -mais uma vez- foi ficando para trás. A crise econômica e a Lava Jato se encarregaram do resto.

Agora, a ladainha é não tem álcool porque não preço. E não tem preço por que ninguém quer fazer álcool. E aí como tem 25% de álcool na gasolina no Brasil começou a onda de importar geral.

O RenovaBio é um programa que visa a induzir ganhos de eficiência na produção e ao reconhecimento da capacidade de cada biocombustível promover a chamada descarbonização.

Na verdade, pode ser uma espécie de resposta do Brasil à onda do carro elétrico que encanta os ecologistas e faz disparar as ações de empresas como a Tesla.

Só tem um problema, diz o consultor e especialistas em energia Plinio Nastari, num artigo publicado ontem no jornal O Estado de S. Paulo: as baterias são produzidas a partir de lítio e cobalto e há dúvidas quanto à disponibilidade de lítio para dar suporte à expansão do uso de baterias. O cobalto é extraído quase exclusivamente no Congo, em condições que despertam preocupações. Há ainda o descarte das baterias, que podem criar um passivo ambiental considerável.

Os produtores de etanol acham que, de fato, não faz sentido promover o carro elétrico se ele gerar um lixo que seja pior do que a energia que ele economiza.

O Brasil, segundo Nastari, tem uma solução melhor: veículos híbridos, considerados fase intermediária de eletrificação, que se forem flex poderão usar biocombustível, e as motorizações com células a combustível movidas a etanol, ambas podendo aumentar consideravelmente a eficiência do uso de energia.

O Hibrido já existe, mas com gasolina. O que Nastari sugere é que esse carro hibrido brasileiro seja movido com etanol. O setor pode fornecer o combustível pois tem tecnologia, desde que seja turbinado.

Esse parece ser o conceito do Renovabio. Um programa sem subsídios e sem a criação de mais tributos, apenas com a possibilidade de o produtor internalizar no preço do biocombustível parte da externalidade ambiental, premiando os agentes que oferecem uma contribuição positiva. O Rota2030, que se pretende seja a evolução do InovarAuto, pode ser o indutor da eletrificação a partir do híbrido flex e da célula a combustível.

Nastari faz parte de uma articulação maior feita pelo ministro Fernando Bezerra Filho que o colocou no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) exatamente com a missão de dar um upgrade no programa de Lula que Dilma Rousseff implodiu.

Bezerra Filho trabalha com a ideia de montra um programa que seja sustentável e que justifique o fim da importação. Na verdade, a proposta dele é estabelecer um programa de preços que faça o etanol competitivo. Junto com o biodisel e que funcione como estratégico.

O Governo sonha em assumir posição como líder de uma estratégia de alcance global. Segundo Nastari se isso acontecer o Brasil tem a oportunidade de indicar sua posição positiva em biocombustíveis como estratégia nacional na COP-23, em Bonn, na Alemanha.

Nada mal para um setor que hoje compete com um álcool importado e que pelas mãos de Fernando Bezerra Filho conquistou o apoio de um setor que sempre esteve junto ao poder. Ou seja, o Renovabio pode transformar o ministro no queridinho do setor produtor de etanol que, agora, quer brigar para ser parceiro no carro hibrido.

Quer coisa mais ecologia e politicamente correto do que isso?