Guerreiros da liberdade muito além de mera placa. Por José Nivaldo Junior

 Por  José  Nivaldo  Júnior  – Consultor em comunicação, advogado, historiador, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. 

A luta pela reconquista da liberdade, após o golpe de 1964 e a ditadura que se seguiu por 21 anos, envolveu parte de uma geração. Não a maioria, porém um contingente maior do que o que se pensa, aplaude, reconhece. Entenda-se geração não no sentido etário restrito, mas todos aqueles que viveram plenamente aquela época sombria. E entenda-se guerreiros como todos os que, de alguma forma, arriscaram sua integridade física e mesmo sua vida para confrontar o arbítrio e batalhar por sua revogação.

Homenagem

Hoje, acontece na Faculdade de Direito do Recife, entidade criada em Olinda em 1827, e transferida
para o Recife em 1854, uma solenidade para aposição de uma placa registrando os ex-alunos diretamente alcançados pela fúria punitiva da ditadura. A placa, esta reproduzida acima, faz alusão, a todos os que “apoiaram e participaram da luta pela liberdade”. Porque nem todos os que se expuseram, felizmente, foram alcançados pelos atos de exceção. Porém foram fundamentais para a trajetória da reconquista da democracia. A solenidade está marcada para as 18h30.

De memória

Sabendo que estou praticando o pecado da omissão, vou citar alguns dos companheiros que, de uma forma ou outra, lutaram, participaram, apoiaram. Por circunstâncias, não consultei os documentos da própria ditadura registrando “subversivos” ou alunos considerados “ameaças à segurança nacional” que escaparam das punições e das masmorras. Então, vamos apelar para memória. E assumir as omissões. Alguns, como se diz, estou vendo os rostos, mas cadê os nomes? O Poder vai ficar aberto para outros depoimentos, até porque, por questões de segurança, nem sempre os militantes de turmas diversas se comunicavam. No início dos anos 70 o curso ainda era seriado. E as precauções com os onipresentes ‘dedos duros’, muitas vezes, ampliaram o isolamento.

Nomes dos quais recordo por ordem de chegada

-Amauri Cavalcanti Caminha
-Glauco de Almeida Gonçalves
-Karl Marx de Almeida Gonçalves
-Alcides Valença
-Alceu Valença
-Eneida di Lemos
-Magnólia Cavalcanti
-Sérgio e Liliane Longman
-Pedro Eurico
-Pitta Marinho
-Lídia Zirpoli (im)
-Ronidalva Melo (im)
-Ivanildo Cunha (Platão)
-Zé Neves
-Fernando Rocha
-José Tavares
-Costa Neto
-Angela Farias
-Zezo
-Fernando Magalhães Melo (Pica-Pau)
-Carlos de Oliveira (Gavião)
-Ivete Nóbrega
-Benny Luterman
-Nadja Brayner
-Lucas Cardoso(im)
-Sadi Torres
-José Armando Burégio.

Caso omisso

O querido tri-academico internacional José Paulo Cavalcanti Filho é, como costuma acontecer em outros aspectos da sua prolífica existência, um caso especial. Foi mais ou menos assim: aluno de Direito da Universidade Católica do Recife, foi cassado por cinco anos pelo 477. Mudou-se para Harvard e veio terminar o último ano na UFPE, aproveitando brechas na legislação autoritária. Sinalizando o grande jurista que viria a ser.

E mais

Impossível não citar os professores progressistas e legalistas, os funcionários, Romildo e os demais bedéis, esses sempre prontos a dar uma mãozinha, abonando faltas politicamente justificadas. Não eram estudantes de Direito mas estavam sempre presentes e participantes Miranete e Valmir Costa.

Indo além

Minha atuação foi sempre apoiada por minha ex-mulher, Fátima Souza, por seus irmãos Marcos, Wagner, Carlos Marinho, Ferdinando e Márcia, por D. Creusa Marinho da Costa, grande mulher que acolheu muitos perseguidos pela ditadura para muito além do tema desse artigo.

Por dever de justiça

Sem envolvimento direto na luta, nunca me faltou o apoio dos meus irmãos, Ricardo, Lucinha, Sérgio e até dos mais jovens, Virgínia, Paulo e Neisinha. O meu cunhado José Figueiroa, um baluarte. Minha mãe e meu pai, gigantes pela minha libertação, efetivada após 22 meses de cárcere. O motorista da família, na época, ‘seu’ Du, exemplo de discrição e solidariedade. Os colegas de turma, Carolina Priori e Gileno Barbosa a amiga Elza Teixeira e seu filhinho Yuri (im), sempre presentes nos dias solidários de visita. Os colegas do Patrimônio da União. E a minha tia Neusa (im), incansável nos esforços para tornar mais amenos os dias de prisão ‘legais’. Seu Paulo ‘ Mangaba, sua esposa e filhas. Alfeu Tavares e o juiz de Surubim na época, José de Abreu, pelos testemunhos corajosos. Minha avó, Yaya, Tio Newton a família. Para cada um dos citados e dos com certeza omitidos, cabe um derivativo com belas histórias de bravura e solidariedade.

E para concluir

Para fechar o assunto fui julgado em dois processos na Auditoria Militar do Recife e absolvido em ambos. A anistia os alcançou em grau de recurso obrigatório no Superior Tribunal Militar – STM e os extinguiu.