Por CLAUDEMIR GOMES
Diariamente recebemos, a toda hora, notícias de violência. Violência de todos os tipos, fato que leva a sociedade a considerar, comportamentos e cenas absurdas e chocantes, coisas banais. Mas, entre o ver e o sentir, vivenciar, existe uma distância abissal. Esta foi a experiência vivenciada por dezenas de famílias que, no início da tarde, deste domingo, se encontravam nas dependências da Churrascaria Boi & Brasa, recém-inaugurada na sede social do Sport Club do Recife, na Ilha do Retiro.
A ideia do rubro-negro, Francisco Medeiros, de juntarmos a família, e ir conhecer o novo equipamento, foi abraçada de imediato. Afinal, há tempo não batia um bom papo com Chico, um paraibano de Princesa Isabel, que veio para o Recife na década de 50, do século passado, e logo se apaixonou pelo Sport. Mais ainda: conseguiu a façanha de fazer com que, filhos e netos, seguissem o mesmo rumo do cazá, cazá.
O encontro familiar seguia perfeito, regado a boas risadas que ressaltavam a harmonia e alegria contagiante do momento. De repente, um estampido ensurdecedor assustou a toda população presente no restaurante. Todos os presentes tentavam adivinhar o que provocara aquela explosão. Uma sequência de novos estampidos acontecera a seguir. E todos entraram em pânico.
Gritos, correria, crianças chorando, mulheres passando mal, idosos tendo piques de pressão; um caos. As pessoas corriam em busca de uma saída de emergência no salão anexo; a maioria mergulhava no chão procurando abrigo embaixo das mesas…
Em fração de segundos o “céu” havia se transformado no “inferno”. Um horror!
Pedras eram atiradas em direção as vidraças do restaurante. Os estampidos das bombas não cessavam. Aos poucos os ataques bélicos foram diminuindo, fato que deu para perceber que aquele pânico era a resultante de um confronto entre torcidas organizadas do Santa Cruz; do Sport e do Campinense, time que iria enfrentar o Tricolor Pernambucano no estádio do Arruda.
O exército de vândalos vestidos com a camisa da facção criminosa do Santa Cruz era bastante numeroso. A também criminosa, Torcida Jovem do Sport estava em menor número, mas reagia a altura, respaldada pela participação dos vândalos, arruaceiros e criminosos que se diziam torcedores do Campinense.
O tratamento de “criminosos” é o mais adequado para qualquer grupo que adote comportamento tão violento contra pessoas vulneráveis e indefesas.
A pergunta que todos fizeram: “Por que um confronto de torcidas tão distante do estádio onde iria acontecer o jogo Santa Cruz x Campinense?”.
Torcidas organizadas existem em todos os Estados brasileiros. Algumas formaram parcerias, e recebem seus pares, dão todo o respaldo possível, sempre que acontecem “visitas” por conta de jogos.
Vale salientar que, tal acolhimento, em sua maioria, acontece com a anuência dos dirigentes dos clubes. No Recife, em algumas oportunidades, vimos torcidas organizadas de clubes visitantes, hospedadas nas dependências das agremiações pernambucanas.
Ontem, a torcida do Campinense programou como ponto de encontro, a Ilha do Retiro, fato que motivou a amostragem de guerra civil, que foi reprimida pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar.
O futebol pernambucano perdeu a “disputa” para a violência. Isto é fato. O que é incompreensível é a falta de capacidade da PM em detectar a articulação de determinados movimentos, e o apoio que gestores do Sport, Náutico e Santa Cruz dão a essas facções criminosas.
Uma hora após o confronto das torcidas, quem passasse pela Abdias de Carvalho, um dos maiores corredores de trânsito da Capital Pernambucana, se deparava com uma calmaria, que parecia jogar ao vento a explosão de violência que ali acontecera.
E tudo segue como dantes, sem punição para os culpados.
“Coisa do futebol brasileiro!”.