Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – Há quem só se sinta vivo com passagem em mãos, itinerário na ponta da língua, malas feitas com meses de antecedência. Precisa do bilhete, do hotel reservado, do nome da cidade escrito com letras maiúsculas no calendário. Vive esperando a viagem como se ela fosse a única forma de se mover.
Mas há outros. Há os que carregam o mundo nos bolsos e o destino nos olhos. Não têm data de embarque, mas já estão em trânsito. Acordam com a sensação de que há algo por vir, mesmo que nada esteja marcado. E isso lhes basta.
São esses que desenham a vida com destino, mesmo sem viagem marcada.
Eles sonham de olhos abertos. Inventam ruas dentro da mente. Conversam com desconhecidos que ainda não encontraram. Carregam dentro do peito um mapa que só eles sabem ler, traçado não por rotas oficiais, mas por intuições, ausências, vontades e dores.
Vivem como se estivessem sempre de partida. E estão. Mesmo sentados à mesa, mesmo presos ao mesmo bairro, ao mesmo trabalho, ao mesmo espelho. Estão sempre indo. Porque partir, para eles, não é mudar de cidade, é não aceitar que a alma fique parada.
Eles não têm asas, mas vivem voando. Não têm passaporte, mas atravessam fronteiras que o mundo ainda não nomeou. São errantes de um silêncio próprio. E por isso, inquietam. Porque quem vive sem destino assusta. Mas quem vive feito de destino, mesmo sem viagem marcada, desarma os mapas e incendeia as rotas do mundo.
Essas pessoas não fogem — elas procuram. Não se perdem, se reinventam. Não se acomodam, porque sabem que todo amor verdadeiro é também uma forma de viagem. E todo dia é um bilhete em branco, prestes a ser escrito com coragem.
Talvez por isso, quando a vida parece estagnada, são elas que mantêm o ar em movimento. São elas que trazem o sopro, o gesto, o impulso. São elas que acordam antes do sol só para lembrar ao mundo que viver não é esperar que algo aconteça, é acontecer primeiro, por dentro.
E mesmo quando tudo parece parado, elas seguem. Porque aprenderam que o destino não é um lugar: é uma decisão. E que a viagem mais verdadeira não começa na estrada, começa na alma.