Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – A maior loucura de amor não é o beijo roubado nem a fuga desesperada no meio da noite. Não é o telefonema inesperado, a carta escrita em desatino ou o poema rabiscado na beira do cansaço. A maior loucura de amor é a de esperar. Esperar alguém que talvez nem volte. Esperar alguém que nem sabe que é esperado. Esperar com a alma sentada no escuro, enquanto o mundo lá fora acende luzes, celebra outras festas, e vive como se esperar não fosse um gesto radical de coragem.
Esperar é permanecer no cais quando o barco já partiu há anos. É pôr café para dois, mesmo almoçando sozinho há meses. É deixar o lado da cama arrumado, com o lençol passado e o travesseiro macio, para o caso de um milagre se lembrar da porta. É guardar o perfume que ela usava, mesmo que o frasco esteja vazio há tanto tempo quanto o seu peito.
Amar e esperar — essas duas palavras deveriam ser sinônimas. Porque quem ama de verdade não parte: fica. Mesmo quando tudo parece acabado. Mesmo quando dizem para seguir em frente, virar a página, conhecer novas pessoas. Mas quem espera por amor não quer novas páginas: quer voltar àquela frase interrompida pela dor. Quer retomar o parágrafo onde a história perdeu o fôlego.
Há quem pense que esperar é passividade. Não é. É resistência. É revolta silenciosa. É um grito que ninguém ouve, mas que ecoa dentro do peito como um trovão contido. É acordar todos os dias com a alma esticada na linha do tempo, mesmo sem promessas de retorno. É regar flores num jardim que pode nunca mais ser pisado por passos antigos.
Talvez seja tolice. Talvez seja mesmo loucura. Mas há uma dignidade rara em quem espera. Em quem ama mesmo sem resposta. Em quem não precisa ser lembrado para continuar amando. A espera é um altar erguido dentro do tempo. É um voto de fidelidade sem testemunhas. E é também uma forma secreta de eternidade.
Quem espera por amor não espera apenas por alguém. Espera por si mesmo reencontrado no abraço que um dia foi. Na voz que ainda sussurra dentro da memória. No gesto que jamais se esqueceu.
E se um dia ela voltar — ah, se voltar — encontrará alguém que não esqueceu o caminho. Que guardou as chaves. Que ficou. Mesmo com todas as luzes apagadas, mesmo com todos os sinais dizendo “vá”. Porque esperar, no fundo, é um jeito de dizer: “Ainda é você. Sempre foi você.”
E isso é a mais corajosa loucura de todas.