
Antes da foto, me confessou que fica impressionado com meu vai e vem pelos céus e estradas deste país de imensa amplidão territorial. Nos últimos dias, depois do podcast Direto de Brasília, tenho viajado mais do que da conta. Para mim, viajar sempre foi uma aventura prazerosa.
Na produção do meu primeiro livro “O Nordeste que deu certo”, lançado em 1993, com prefácio de Ciro Gomes, percorri 10 mil km nos nove Estados do Nordeste, de carro, avião e barco. Com “Reféns da seca”, prefaciado por um Maciel Melo choroso a cada frase que escrevia, por ser o livro mais doloroso que já escrevi sobre os esquecidos retirantes da seca, sem água e pão, também foram 8 mil km em quatro Estados nordestinos.
Para grandes escritores, viajar é muito mais do que apenas mudar de lugar. É uma oportunidade de crescimento pessoal, de ampliação da visão de mundo e de inspiração para a escrita. A viagem pode ser encarada como uma forma de conhecer a si mesmo e ao mundo, de vivenciar diferentes culturas e de descobrir novas perspectivas.
O grande Drummond, em “Infância”, utilizou a viagem como metáfora para a leitura e a descoberta de novos mundos. Albert Camus, escritor, filósofo, romancista e jornalista franco-argentino, viajava para se distanciar da solidão e da angústia existencial, buscando uma nova perspectiva sobre a vida.
Na música, viajar também é um tema recorrente. Na canção “Seguindo No Trem Azul”, de Roupa Nova, a imagem do trem é vista como um símbolo de viagem e aventura. Em “Amanheceu, Peguei a Viola”, de Renato Teixeira, a melodia e a letra evocam a liberdade de viajar e a conexão com a natureza. E o grande Gonzagão, em “Vida de Viajante”, celebra a vida de quem está sempre em movimento.
Mário Quintana disse que viajar é mudar a roupa da alma, colocar a vida em uma constante aventura, levar sonhos pelo mundo e trazer de volta as recordações. Viajar é viver. As viagens são os viajantes, como disse Fernando Pessoa: “O que vemos não é o que vemos, senão o que somos”. “O mundo é um livro e aquele que não viaja lê sempre a mesma página”, escreveu Santo Agostinho.
Viajar, na verdade, pode até ser cansativo em alguns momentos, mas nunca é enfadonho. É a janela que se abre para bons momentos na vida, boas companhias e boas risadas. O novo se faz presente sempre de uma forma especial. Mas é preciso ter espírito aventureiro e desbravador para espantar qualquer solidão, se surgir à frente.
Porque existem os pessimistas e desanimados, que encaram as viagens imprevisíveis, resumidas em dois momentos: o choro na chegada e o silêncio na despedida. Não enxergo assim. Em momentos de inspiração viajo a lugares inimagináveis para sonhar, onde mentes brilhantes se encontram, para falar do que é efêmero, mas também do que é eterno.
Há momentos, paradoxalmente, que me assombro com cada quilômetro percorrido, cada refeição, cada pessoa que conheço, cada quarto em que durmo. Por comum que pareça, há momentos em que tudo fica além da minha imaginação. Mas gosto, confesso que sou apaixonado.
Talvez seja meu espírito de repórter aventureiro ou a herança, o DNA da minha avó Marinha, mãe do meu pai, que de tanto viajar morreu na estrada, num acidente em Cabrobó, no Sertão do São Francisco, com 94 anos de idade.
Viajar, para mim, por fim, é como as páginas em branco de um livro esperando ser preenchidas com histórias, momentos, vivências, experiências e saudades. Tem o poder de trazer esse pacote e tocar meu coração. Na viagem do avião da vida, em céu de brigadeiro, aproveito os momentos felizes e maravilhosos. E nos momentos de turbulência, crio asas flexíveis para poder suportar?.