A crônica domingueira. Por Magno Martins

Por Magno Martins – Jornalista, poeta e escritor  – Clarice Lispector escreveu que família é um tesouro, que deve ser guardado com carinho e cuidado. Minha irmã Fátima Martins, que adora o estudo da genealogia, não se cansa na busca do nosso tesouro, os Martins, por parte de minha mãe Margarida, e os Fonseca, do meu pai Gastão Cerquinha.

Como instituição social e espaço de vida, a família, tema desta crônica de hoje, tem sido objeto de reflexão filosófica ao longo da história, com diferentes autores oferecendo múltiplas interpretações sobre sua natureza, função e importância. Para o médico psiquiatra Augusto Cury, família é o berço do amor, da compreensão e do afeto.

É o lugar, segundo ele, onde as pessoas devem encontrar apoio, lições e aprendizados, mas que acima de tudo, as relações sejam saudáveis e de convivência harmônica. O amor de família é tudo. Para Machado de Assis, cada qual sabe amar a seu modo. “O modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar”, ensinou. Meu pai, conforme as pesquisas de Fatinha, como eu e os oito demais irmãos assim tratamos Maria de Fátima, tem um pezinho em Portugal. Seu bisavô morou na cidade de Porto.

Os Martins, de minha mãe Margarida, também têm origem portuguesa, derivado do nome próprio Martinho, que por sua vez tem raízes latinas, descobriu Fatinha. Venho de uma família gigantesca, que adorava procriar, obediente ao preceito divino de povoar o mundo. Papai teve 14 irmãos, mamãe 11. Mamãe pariu nove filhos, cinco homens e quatro mulheres. No Sertão, de onde venho, havia rituais nas famílias nobres e também nas plebeias.

Nunca esqueço: por ordem de papai, mamãe só servia as refeições do dia com os nove filhos a postos. Compartilhar o pão da vida ao lado dos filhos era uma forma amorosa dos nossos pais, que entendiam que amor de família é um rio, que pode ser calmo ou tempestuoso, mas sempre é um rio. Filósofo grego, Aristóteles considerava a família como a base da sociedade, composta por diversos elementos como filhos, mulher, bens e escravos, liderados pelo chefe de família.

Já Platão, em seus diálogos, aborda a família como um espaço de educação e formação, destacando o papel da mulher na transmissão de valores e a importância da família para a construção de uma sociedade justa. Aprendi com o passar do tempo, no caminhar da vida, que família é onde a vida começa e o amor nunca termina.

Mais do que isso, a verdadeira família é aquela unida pelo espírito e não pelo sangue. Família é aprender sobre o amor da forma mais bonita possível: aquele que se dá por livre e espontânea vontade sem pedir nada em troca. Se pensarmos bem, uma vida sem família é uma vida muito mais cinza!

Não precisa de sangue, mas sempre será importante ter pessoas com quem você pode contar e que podem contar com você. Se fosse sintetizar a importância da família, na verdade teria apenas uma frase: Família não é uma coisa importante, é tudo! É a receita secular que passa de geração em geração, um costume religioso.

Todos nós temos raízes que nos mantêm em pé. E quando as raízes são profundas não há razão para temer o vento, diz um provérbio Chinês. Minha família é o bem mais precioso, o meu tesouro maior neste mundo: meus pais, que já se foram, meus irmãos, meus filhos amados e minha Nayla, que me deu duas enteadas, lindas e maravilhosas.

Cuidar da minha família é obrigação em todos os momentos da vida. Compartilhar a alegria e sua felicidade não tem preço, é ouro em pó. Afinal, de que adianta uma viagem incrível se não há ninguém para trocar? Família são as pessoas que nos acompanham na jornada e faz cada suspiro ser mais valioso que qualquer bem material. É obra de Deus, encontro de almas, união de semelhantes, uma junção de pessoas que se escolhe chamar e que não estão na nossa vida por acaso.

Para mim, significa aconchego, carinho, pés firmes no chão, alma cheia de amor, coração generoso. Tenho tanto amor pela família que minha sensação é de fazer parte de um grupo de pessoas que sempre estarão comigo em qualquer circunstância, que morreriam por mim.

Família, por fim, é o porto seguro de qualquer pessoa, a certeza de que nunca estaremos sozinhos nesse mundo. Por isso, ontem, ao lado da minha Nayla, passei por Afogados da Ingazeira, minha terra natal, para comunicar, num almoço com dois dos três irmãos que moram por lá (o outro estava em viagem), que um deles, Augusto Martins, será o segundo padrinho, ao lado da sua Socorro, do meu casamento civil com minha Nayla Valença, dia 13, em Arcoverde (foto que ilustra a crônica).

O outro, já havia escolhido: meu amigo Eduardo Monteiro, com sua Cláudia. Não foi por acaso. Por mais que não percebamos, aprendemos e internalizamos vários dos costumes da nossa família. Buscar o entrelaçamento familiar é o que faz as gerações durarem e as famílias permanecerem.

A família não nasce pronta, recorro a um lugar comum: constrói-se aos poucos e é o melhor laboratório do amor. Em casa, entre pais e filhos, pode-se aprender a amar, ter respeito, fé, solidariedade, companheirismo e outros sentimentos.

No livro “Uma lágrima de mulher”, o grande Aluísio Azevedo, que li nos deveres de casa no ginasial, sentenciou: “Que são a virtude, a saúde e a alegria, senão a mais completa felicidade humana – a família”.