Um clássico de Orestes Barbosa e Silvio Caldas ‘salpicava de estrelas nosso chão’

Podcast “Canções que falam por nós” Episódio 7 – Sílvio Caldas e Orestes  Barbosa - Rádio DiarioPB | Player | Ao Vivo

Orestes Barbosa e Sílvio Caldas, grandes mestres

O jornalista, escritor, compositor e poeta carioca Orestes Dias Barbosa (1893-1966) fez do samba-canção “Chão de Estrelas”, um dos maiores clássicos da MPB, gravado por Silvio Caldas, em 1937, pela Continental, cuja letra explora o sofrimento amoroso, que, aliás, é principal característica do gênero musical samba-canção, conforme explica o professor Álvaro Antônio Caretta, da Universidade de São Paulo.

Na primeira estrofe, a metáfora “palhaço” compõe, juntamente com as expressões “guizos falsos da alegria” e “fantasia”, o universo semântico da desilusão, ou seja, reconhece estar sendo iludido pelas fantasias do amor.

Na segunda estrofe, a  amada é representada pela metáfora mulher pomba-rola, a sua partida como voou e o lar de ambos como viveiro, em meio à desilusão amorosa com a partida da amada.

Na terceira estrofe, inaugura-se uma nova cena validada que abre espaço para a presença de elementos que remetem ao universo dos morros cariocas e das pessoas humildes.

Na última estrofe, a relação entre o poético e o prosaico é sintetizada pela imagem “Tu pisavas nos astros distraída”, na qual ocorre a aproximação entre o sublime “lua” e “astros”, o prosaico “nosso zinco” e “nosso chão”.

CHÃO DE ESTRELAS
Silvio Caldas e Orestes Barbosa

Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões…
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações.

Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou…
E hoje, quando do sol a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou.

Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam estranho festival:
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional!

A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco,
Salpicava de estrelas nosso chão…
Tu pisavas os astros, distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão.