O que seria um final de semana de celebração política para João Campos (PSB), prefeito do Recife, terminou em constrangimento público e silêncio ensurdecedor. Durante o congresso estadual do PSB realizado no Sertão pernambucano neste sábado (30), um episódio protagonizado por uma pergunta da jornalista Juliana Lima expôs o nervo exposto da gestão do jovem prefeito: o escândalo de superfaturamento na compra de livros didáticos pela Secretaria de Educação do Recife.
A pergunta foi direta e precisa: por que a Prefeitura adquiriu kits de livros para professores a preços exorbitantes, com valores que ultrapassam R$ 6 mil por unidade, enquanto os kits dos alunos custam apenas R$ 58? E, mais importante: o que motivou a recente exoneração do então secretário de Educação, Fred Amâncio, no calor da denúncia feita pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE)?
João Campos não respondeu. Não tergiversou, não justificou, não enfrentou. Apenas se calou. O silêncio, porém, falou alto. Em política, recusar-se a responder uma acusação grave é tão comprometedor quanto uma confissão parcial. A cena repercutiu mal entre aliados, jornalistas e membros do próprio PSB. O que era para ser uma agenda positiva, com passagens estratégicas por São Lourenço da Mata e Afogados da Ingazeira, virou palco de tensão e mal-estar.
A denúncia é séria. Segundo relatório do TCE-PE, entre 2023 e 2024, a gestão de João Campos autorizou a compra de kits para professores ao custo de até R$ 6.040 por unidade, enquanto kits semelhantes para estudantes custam apenas R$ 58. A discrepância absurda – um aumento de mais de 1.000% – levanta suspeitas sobre sobrepreço e má gestão dos recursos públicos.
Ao todo, o superfaturamento identificado ultrapassa os R$ 3,3 milhões, em contratos firmados com a empresa Mind Lab, que forneceu o material. O relatório do TCE é taxativo: “ainda que se trate de obra intelectual, nota-se fora de qualquer razoabilidade os valores pagos pelos kits de professores”. O documento propõe a responsabilização de Fred Amâncio, sua equipe técnica e a própria empresa contratada, que pode ser multada em R$ 1,6 milhão.
Nos bastidores do congresso, aliados do prefeito admitiram que o clima azedou. Um integrante do PSB, presente no evento, confidenciou à reportagem: “Isso é só o começo. A artilharia vai ser pesada daqui pra frente. Estão mirando na cabeça.” A referência, claro, é ao projeto já bastante falado de João Campos de disputar o Governo de Pernambuco em 2026.
O episódio lança uma sombra espessa sobre a imagem de gestor moderno e eficiente que João Campos vinha tentando construir. O escândalo das creches já havia deixado marcas. Agora, com o caso dos livros superfaturados, o desgaste político atinge um novo patamar.
Por que João Campos não respondeu? Medo de se comprometer? Falta de justificativa plausível? Ou estratégia para deixar o escândalo esfriar no noticiário? Seja qual for a razão, a omissão revela uma faceta preocupante para quem almeja comandar o estado: a incapacidade de enfrentar crises com transparência e coragem.
Ao fugir da pergunta, João Campos não apenas errou estrategicamente — ele perdeu a chance de se posicionar, de prestar contas à sociedade e de demonstrar a liderança que tanto alardeia. A política, afinal, não se faz apenas com marketing e agendas festivas. Exige responsabilidade, coerência e, sobretudo, respostas.
E enquanto o prefeito se esconde do escândalo, a pergunta da jornalista Juliana Lima segue ecoando pelo Sertão, pela capital e por todo o estado: quem vai responder pelos livros superfaturados?