
Charge do Paulo Batista (Brasildefato)
Por Mario Sabino
Metrópoles
Muitos brasileiros ficaram indignados com Donald Trump por causa da resposta que ele deu à pergunta sobre como seriam as relações, a partir de agora, dos Estados Unidos com a América Latina e com o Brasil.
“A relação é ótima. Eles precisam de nós muito mais do que precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todo mundo precisa de nós”, disse o presidente americano à jornalista Raquel Krähenbühl.
No mundo animal, Donald Trump seria um carnívoro solto entre herbívoros — ou seja, todos nós, que obedecemos aos códigos tradicionais da diplomacia e acreditamos piamente que as nações podem colocar a solidariedade e o idealismo à frente de interesses econômicos e militares.
DISSE MACRON – A metáfora é de Emmanuel Macron, ao comentar a vitória do republicano. “O mundo é feito de herbívoros e de carnívoros. Se decidirmos continuar a ser herbívoros, os carnívoros vencerão e nós seremos um mercado para eles”, disse o presidente francês.
É uma imagem feliz. Donald Trump nos confronta com nós mesmos. A sua franqueza carnívora expõe as nossas fraquezas herbívoras. Expõe as nossas escolhas.
Somos nós, brasileiros, que escolhemos ser desimportantes para os Estados Unidos. O que é o Brasil, no contexto das nações? Um gigante bobão, comandado por uma fauna política sem projeto que não o de dilapidar a sociedade.
DESIMPORTÂNCIA – Os números estão aí. Como os brasileiros podem querer ser relevantes, se a sua participação no comércio mundial é de menos de 1%, a mesma que era em 1980? Se nos comprazemos em ser exportadores de commodities?
Qual pode ser a relevância de um país cuja bolsa de valores teve, em 2024, um dos piores desempenhos entre todas as outras dignas deste nome? Um país que representa ridículos 0,5% da carteira de investimentos do mundo e entre diminutos 6% e 7% nas carteiras de mercados emergentes?
Qual é a produção tecnológica do Brasil? Insignificante. No Índice Global de Inovação do ano passado, ficamos em 50º no ranking de 133 países. Para se ter ideia, em 2022, a China fez 70.015 pedidos de patentes, os Estados Unidos fizeram 59.056 e o Brasil, somente 548. Não mudou nada de dois anos para cá.
E A EUROPA? – Guardadas as devidas e enormes diferenças, provocada por Donald Trump, a Europa também se vê confrontada consigo própria.
O continente europeu tem excesso de regulação, com as suas escolhas enérgicas caras, com o seu modelo social impagável, com o envelhecimento da sua população, com o empobrecimento da sua classe média, com a sua dependência militar dos americanos.
Os europeus, no entanto, partem de um patamar de riqueza material e intelectual muito mais elevado do que o dos brasileiros para fazer frente aos Estados Unidos de Donald Trump.
QUANTO AO BRASIL… – O que o Brasil deveria fazer neste mundo de competição carnívora? O primeiro passo seria enxergar-se do tamanho que é. Isso não significa ser vira-lata, mas ter princípio de realidade e, a partir daí, seguir no caminho certo.
Somos desimportantes por culpa nossa. Por causa das nossas opções erradas desde sempre. Ninguém no mundo precisa do Brasil.
A julgar pela maneira com a qual se comportam, nem os brasileiros precisam do Brasil.