Por Flávio Chaves – Jornalista, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc
Este conto escrevi inspirado pelo vídeo que assisti sobre a história de Tan Hong Ming, um menino que, com sua inocência e pureza, expressa seus sentimentos por sua coleguinha de sala de aula. A simplicidade da narrativa e o amor não revelado de Tan tocaram profundamente meu coração e me motivaram a expandir essa história. A partir da breve cena mostrada no vídeo, criei este conto para explorar ainda mais o dilema entre o medo de se expor e a beleza de amar. Assim, esta é a minha interpretação literária desse emocionante momento de amor infantil, entre Tan e Umi Qazerin.
Tan Hong Ming, um menino de coração puro, guardava um segredo que pesava mais que sua mochila escolar. Todas as manhãs, ao entrar na sala de aula, seu olhar buscava automaticamente por Umi Qazerin. Ela era diferente das outras meninas — não apenas porque usava brincos que brilhavam sob o sol e mantinha seu cabelo num perfeito rabo de cavalo — mas porque, para ele, ela era bonita de um jeito que ninguém mais via.
Certo dia, enquanto a professora dava instruções, Tan não prestava atenção. Em sua mente, ele repetia as palavras que nunca teve coragem de dizer: Eu gosto de você. Mas ele sabia que, se dissesse, o mundo inteiro saberia. E o que aconteceria se todos soubessem? Eles ririam dele, como se fosse uma piada. Pior, Umi riria também, porque, no fundo, Tan acreditava que ela não gostava dele.
“Você gosta dela?”, perguntaram-lhe um dia no pátio da escola.
Tan abaixou a cabeça e hesitou. “Sim”, respondeu, com o coração batendo mais rápido que de costume. “Ela usa brinco e tem rabo de cavalo. Ela é bonita.”
A pergunta seguinte o pegou de surpresa: “Você já disse isso a ela?”
Ele balançou a cabeça, incapaz de falar. O medo apertava sua garganta. “Se eu disser, todos vão saber. E se ela não gostar de mim? Vão rir de mim.”
Mas o destino tem maneiras de surpreender até os mais tímidos. No momento em que ele pensava estar protegido em seu silêncio, Umi Qazerin foi chamada para responder a uma pergunta simples. “Você tem namorado?”
Tan prendeu a respiração. Ele sabia a resposta. Claro que ela não teria um namorado. Ela nunca olhava para ele do mesmo jeito que ele a olhava. Mas a resposta dela, inesperada e simples, o fez congelar: “Sim, eu tenho um namorado.”
“Qual é o nome dele?”, perguntaram-lhe.
“Tan Hong Ming,” disse ela com um sorriso que iluminou o pátio inteiro.
Naquele instante, o medo que habitava o coração de Tan começou a derreter. O que ele acreditava ser um segredo, algo a ser guardado para evitar o riso dos outros, já não parecia tão grande. Umi sabia o tempo todo. E, ao contrário do que ele temia, ela não riu. Ela apenas sorriu.
A vida, percebeu Tan Hong Ming, não precisava ser definida pelo medo de confessar o que sentimos. Às vezes, o amor silencioso que guardamos no peito já é correspondido, esperando apenas o momento certo para ser revelado. O medo de se expor pode ser um grande fardo, mas o amor — ah, o amor é leve, como o rabo de cavalo de Umi ao balançar na brisa da tarde.
E assim, naquele pátio, Tan descobriu que, enquanto tiver amor, não há nada a temer. Porque, no final, não somos definidos pelo medo, mas pelo amor que temos a coragem de compartilhar.
Ame, mesmo que o medo tente silenciar.