O dia em que Carlos Drummond de Andrade partiu para um “vasto mundo” de luz. Por Flávio Chaves

Por Flávio Chaves – Jornalista, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc

Em 17 de agosto de 1987, o Brasil perdeu um dos maiores poetas de sua história: Carlos Drummond de Andrade. Nascido em Itabira, Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902, Drummond foi uma figura central na construção da poesia moderna brasileira, com versos que desafiavam as convenções, trazendo à tona uma nova liberdade na forma e no conteúdo.

Drummond, com sua sensibilidade única, capturou em palavras as complexidades da alma humana, das pequenas angústias cotidianas aos grandes dilemas existenciais. A partir da Semana de Arte Moderna de 1922, ele se destacou ao lado dos modernistas, libertando o verso das amarras rígidas e conferindo à poesia um novo fôlego. Sua obra navegou por temas variados, da política à solidão, sempre com uma linguagem acessível e profunda.

O grande poeta de Itabira, foi um dos responsáveis por dar uma nova cara à poesia brasileira, abordando temas universais e cotidianos com uma profundidade única. Em ‘Poema de Sete Faces’, ele reflete: ‘Mundo mundo vasto mundo, / se eu me chamasse Raimundo / seria uma rima, não seria uma solução,’ mostrando sua capacidade de transformar o simples em sublime.”

Durante a década de 1940, em um mundo marcado pela guerra e pela incerteza, Drummond capturou a angústia e o desespero do homem comum em sua poesia. Em ‘Sentimento do Mundo’, ele confessa: ‘Tenho apenas duas mãos / e o sentimento do mundo,’ ecoando o peso de uma realidade que transcende o individual.

Nos anos finais de sua vida, já consagrado como um dos maiores poetas do século XX, Drummond surpreendeu ao incorporar o erotismo em sua poesia. Esse novo enfoque revelou um poeta ainda mais íntimo e corajoso, disposto a explorar as nuances do desejo e da sensualidade.

A morte de Drummond em 1987 marcou o fim de uma era, mas sua obra continua a ecoar, inspirando gerações de leitores e poetas. Ele se foi, mas suas palavras permanecem, como versos livres no vento, eternamente vivos na memória de um país que o reverencia.