Precisamos questionar a quem realmente interessa manter a população focada em temas superficiais enquanto questões fundamentais são negligenciadas
Por Flávio Chaves – Jornalista, escritor, poeta e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc
Na última semana, a notícia mais comentada no Brasil foi o anúncio de uma mulher trans cirurgiada fazendo seu primeiro xixi após a cirurgia de redesignação sexual. Este fato, dominou as manchetes e as conversas, gerando debates sobre a superficialidade com que o público brasileiro lida com as questões nacionais. Enquanto isso, temas cruciais como educação, desemprego, habitação popular e a crise na saúde são relegados a segundo plano. Esta tendência levanta uma questão importante: por que essas notícias triviais ganham tanta atenção?
Exerce o papel da distração coletiva. Construir o fascínio por notícias sensacionalistas ou superficiais não é um fenômeno exclusivo do Brasil, pode ser, mas parece ser particularmente acentuado aqui. Em um país onde a educação enfrenta sérios desafios, o desemprego atinge milhões e o sistema de saúde está em estado calamitoso, a prioridade dada a eventos como o “primeiro xixi” de uma mulher trans é, no mínimo, preocupante. Trata-se, enfim, de contexto direcionado para distração coletiva.
A mídia desempenha um papel central na formação da opinião pública e na definição da agenda de discussões. Ao optar por destacar notícias triviais, ela contribui para a alienação do público em relação aos problemas reais que afetam a sociedade. O tempo e o espaço que poderiam ser dedicados a investigações sobre a corrupção, a ineficiência do sistema educacional, ou as deficiências do sistema de saúde, são consumidos por histórias que, embora possam ser curiosas ou emotivas, não contribuem para o avanço do debate público sobre questões fundamentais.
A educação é um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento de uma nação. No Brasil, o sistema educacional enfrenta inúmeros problemas, desde a falta de infraestrutura até a baixa qualidade do ensino. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), a taxa de analfabetismo funcional ainda é alarmante. Investir na educação, discutir e buscar soluções para esses problemas deveria ser uma prioridade tanto para a mídia quanto para a sociedade em geral. Educar é a base para um futuro melhor.
O desemprego continua a ser uma das questões mais urgentes no Brasil. Milhões de brasileiros estão sem trabalho ou subempregados, enfrentando dificuldades para sustentar suas famílias. Em vez de concentrar a atenção pública em histórias irrelevantes, a mídia poderia estar destacando programas de capacitação, iniciativas de geração de emprego e políticas públicas eficazes para combater esse problema. Esse é um desafio permanente.
A habitação popular e a saúde pública são áreas onde a necessidade de melhorias é crítica. A falta de moradias adequadas e o colapso do sistema de saúde impactam diretamente a qualidade de vida dos brasileiros. Discussões sobre políticas habitacionais e reformas no sistema de saúde são essenciais para garantir que todos tenham acesso a condições dignas de vida e a cuidados médicos de qualidade. A habitação popula e asaúde são questões de vida ou morte.
A atenção desproporcional dada a notícias triviais pode ser vista como uma distração conveniente dos problemas reais. No entanto, é crucial que tanto a mídia quanto a sociedade reflitam sobre suas prioridades. Precisamos questionar a quem realmente interessa manter a população focada em temas superficiais enquanto questões fundamentais são negligenciadas.
O Brasil enfrenta desafios significativos que demandam atenção e ação. É essencial que a mídia, como um dos principais formadores de opinião, assuma a responsabilidade de informar e educar a população sobre esses problemas. Ao promover discussões sérias e construtivas sobre educação, desemprego, habitação e saúde, podemos começar a construir um futuro melhor e mais justo para todos os brasileiros. Chegou a hora de levar a sério a situação do nosso país e exigir uma mídia que faça o mesmo.