Para Temer, Lula não tem vontade política de pacificar o país

“Eu achei [que] ele faria uma espécie de governo de redenção nacional”, disse o ex-presidente

Ex-presidente Michel Temer e Luiz Inácio Lula da Silva Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE

O ex-presidente Michel Temer (MDB) adotou um tom de frustração em relação ao atual chefe do Executivo, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista ao Estadão, o emedebista relatou que, no início do novo mandato petista, acreditou que Lula ia “dedicar toda a vida dele para tranquilizar o país”, mas que atualmente observa-se que há falta vontade do líder do Planalto para tal e também por parte da oposição.

– Houve um equívoco, uma distância entre a palavra e a ação. Eu achei [que] ele [Lula] faria uma espécie de governo de redenção nacional. Ele declararia: “Eu vou pacificar o país”, o que significa que você vai governar para todos os brasileiros. Não significa que não haverá divergência. Acabei de dizer no início da minha fala, você tem que ter oposição, divergência, tem temas que são delicados. (…) Eu acho que faltou talvez um pouco de vontade política de um lado e, de outro lado, como o Brasil já estava radicalizado, houve agressão de todos os lados – opinou.

Temer ainda analisou que, no Brasil, os governos sucessores tentam destruir os anteriores. Para o ex-presidente, Lula é quem mais divulga seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).

– A oposição tem um sentido político, ou seja, se eu perder a eleição o meu dever é destruir aqueles que ganharam. No Brasil, nós temos a ideia de que cada governo que chega precisa destruir os anteriores. Tanto que o vocábulo herança maldita se incorporou ao vocabulário político do país. (…) Cada governo que chega, quando critica o governo anterior, não está ajudando a harmonia do país. Eu digo sempre: o presidente Lula vive falando do presidente [Jair] Bolsonaro. Ele é quem mais divulga o presidente Bolsonaro. Imagina se eu fosse fazer isso no meu governo, quando as pessoas me criticavam… E eu ficasse: “Mas a ex-presidente, a ex-presidente…” Eu não dizia nada. Eu ia tocando o governo – assinalou.

Questionado sobre como pode haver uma polarização em que só um lado consegue colocar pessoas na rua, Temer respondeu:

– Se Bolsonaro coloca tanta gente na rua, não se pode negar prestígio a ele. Agora, não se podem negar as circunstâncias em que Lula foi eleito. Teve a maioria dos votos, embora com pequena diferença. A circunstância de não ter colocado gente na rua não sei se é problema de organização, de simpatia. Colocar gente na rua não ganha eleição. Mas mostra prestígio.

Convidado a se manifestar sobre as polêmicas entorno do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Temer descreveu o magistrado como um “grande constitucionalista”. Moraes foi indicado pelo emedebista, em 2017, na vaga que surgiu após o falecimento do ministro Teori Zavascki.

– Alexandre de Moraes é um grande constitucionalista. Eu conheço o Alexandre muito antes de ele ser ministro. E ele fez muito pelo país. Sou obrigado a dizer que, se não fosse a atuação jurídica e corajosa do Alexandre Moraes, talvez não tivesse havido eleições. Ele faz um papel adequado. E é interessante, observando um pouco a distância, que ele agora começa a amenizar algumas situações, você percebe que ele está liberando gente, vai liberando situações, não é? Acho que ele é competente para tanto – acrescentou.

Outro nome elogiado por Temer, durante a entrevista, foi o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A declaração ocorreu durante ponderações sobre uma possível candidatura do gestor paulista à Presidência.

– O Tarcísio, evidentemente, é um nome muito cogitado. Ele tem classe, sabe o que diz. E ele é muito disciplinado, ele estuda as questões antes de falar. No meu governo, ele foi um dos principais responsáveis pelo programa de parceria e investimentos – frisou Temer.