Por CLAUDEMIR GOMES
O projeto de criação de Ligas avança no futebol brasileiro. Tudo deve estar em perfeito funcionamento em 2025, quando não haverá mais contratos vigentes com a Rede Globo, para transmissão dos jogos do Campeonato Brasileiro das Séries A e B.
O que surpreende, e difere o futebol brasileiro de centros mais adiantados, onde as Ligas existem, e funcionam a contento, há anos, é que aqui se fala no plural: as Ligas. Temos, em curso, a formação da LIGA DO FUTEBOL BRASILEIRO (LIBRA), e da LIGA FORTE FUTEBOL (LFF).
A criação de Liga no futebol brasileiro é sonho antigo. Um sonho que, para a CBF e Federações filiadas, era mais que um pesadelo, visto que, toda estrutura arcaica, e viciada, que perdura até os dias de hoje, passaria a ter um prazo de vencimento no seu código de barra, fato que não interessava aos “podres poderes”.
No ano 2000, o deputado federal, Luciano Bivar, era um dos que levantaram a bandeira para criação de uma Liga no futebol brasileiro, e bateu de frente com o presidente da FPF, a época, Carlos Alberto Oliveira.
Vivenciei um episódio marcante: Num determinado final de semana, o presidente, Carlos Alberto Oliveira, estava fora de controle. João Caixero de Vasconcelos me liga falar sobre o assunto. Ele havia conversado com o presidente do Náutico, a época, o elegante Sérgio Aquino. Oliveira estava veraneando na praia de Tamandaré, Litoral Sul de Pernambuco. Severino Otávio (Branquinho), conselheiro do Tribunal de Contas de Pernambuco, também estava passando uns dias na mesma praia. Formamos um grupo: João Caixero, Sérgio Aquino, Severino Otávio, e este escriba. Fomos tentar acalmar a “fera”. Um encontro pra lá de produtivo.
Os contratos comerciais dos clubes da Série A com a televisão eram feitos pelo Clube dos 13. Somente em 2004 é que surgiu a FBA – Futebol Brasil Associados – que passou a administrar a Série B. Um modelo que não prosperou, implodiu, e levou o futebol brasileiro a um atraso danoso, com uma estrutura de gestão caduca, em comparação ao futebol europeu.
O mestre, José Joaquim Pinto de Azevedo, que sempre estudou o futebol brasileiro e internacional, é enfático na sua avaliação:
“Duas Ligas administrando o mesmo campeonato não vinga em lugar nenhum”, afirma Azevedo.
Os clubes já foram divididos em dois grupos, fato que nos lembra a famígera divisão ocorrida em 1987, quando da criação dos Grupos Verde e Amarelo, que no final transformou a decisão do título daquela edição num angu de caroço. Até hoje, Sport e Flamengo esbravejam: “87 é nosso!”. Em todas as instâncias da Justiça, o rubro-negro pernambucano já teve o título transitado e julgado a seu favor.
Na atual divisão a LIBRA é bem mais forte que a LFF.
A divisão de renda sempre foi o obstáculo maior para o entendimento entre os clubes. São tantos os argumentos postos na mesa, revelando as mil e uma realidades existentes num país continental, que chegamos à conclusão de que, um consenso entre clubes de duas Ligas nos parece mais difícil do que juntar petistas e bolsonaristas numa passeata pacifica.
Tudo caminha para uma pulverização, sobrando jogos para tudo quanto é rede de televisão. O problema será a qualidade do produto que as empresas de comunicação oferecerão ao público consumidor.
Dizem que o tempo ajusta tudo. Sendo assim, um dia, esse trem andará nos trilhos.