
CPI deseja quebrar o sigilo bancário, fiscal e telemático do trio
Pedro do Coutto
A Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Federal convocará os três principais acionistas das Lojas Americanas, Jorge Paulo Lemann, Marcelo Telles e Carlos Alberto Sicupira para que prestem esclarecimentos, sobretudo em consequência do depoimento do atual diretor Leonardo Coelho Pereira que deixou claro o comprometimento dos três bilionários e dos integrantes das antigas diretorias pelo rombo que agora se estende a R$ 47 bilhões.
Na edição desta quinta-feira da Folha de S. Paulo, reportagem de Lucas Marchesini, Vitória Azevedo, Daniele Madureira e Nicola Pamplona, desenvolve amplamente a situação avassaladora da empresa, acentuando que a CPI deseja também quebrar o sigilo bancário, fiscal e telemático dos principais responsáveis pela explosão. Nessa explosão, pergunto, quem pagará o rombo evidentemente decorrente dos roubos praticados através de fraudes contábeis ?
DÉBITO E CRÉDITO – A pergunta, a meu ver, tem cabimento com base no princípio eterno da simples contabilidade que é o de que não pode haver débito sem crédito da mesma forma que crédito sem débito. Se alguém perdeu, portanto, alguém ganhou. E se alguém ganhou, outro ou outros perderam. Os prejuízos bilionários contidos na trama desenrolada através de vários anos não serão recuperados totalmente. Longe disso.
Edição de ontem de O Globo, reportagem de Glauce Cavalcanti e Luciana Rodrigues, revela que as fraudes em série inflavam os resultados da empresa e transformavam a realidade em fantasia. E há ainda, segundo penso, em consequência da alucinação por dinheiro, débitos relativos a impostos possivelmente ou provavelmente não pagos pelas Americanas.
Na edição de quarta-feira da Folha de S.Paulo, Daniele Madureira focaliza um aspecto surpreendente. Os leitores e leitoras já viram uma série de anúncios da própria Americanas e de supermercados expondo produtos que comercializam. As Americanas quando participava do patrocínio do Big Brother Brasil na TV Globo adotava esse procedimento. É claro que os supermercados e a Loja Americanas ao exibirem produtos de marcas vendidas por eles cobram as inserções.
COBRANÇA – Então as matérias publicitárias expostas são pagas pelos grandes anunciantes. Mas eles cobram também partes menores dos fabricantes dos produtos que ostentam, uma vez que estão sendo beneficiados pelas exposições. No caso das Americanas, essas cobranças eram lançadas no balanço como créditos, mas o dinheiro desaparecia. Então as quantias faziam parte das narrativas contábeis, mas eram desviadas e não se traduziam assim em dinheiro.
Os balanços das Lojas Americanas consignavam esse pagamento como realizado. Mas ele desaparecia nas nuvens dos computadores. A CPI assim está apontando participação dos dirigentes, sem os que as falsificações não poderiam ter sido feitas. Acentua-se ainda que as fraudes ainda não puderam ter sido medidas exatamente, mas as inconsistências contábeis verificadas na manobra superam a escala de dezenas de bilhões. Agora a CPI está partindo para concentrar o foco nos bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcelo Telles e Carlos Alberto Sicupira.
No Estadão de S. Paulo de quarta-feira, Talita Nascimento levanta o problema da participação das consultoras KPNG e PriceWaterhouseCoopers no esquema, pois assinaram confirmando a veracidade dos balanços, quando de fato eles estavam fraudados. Talita Nascimento acrescenta o peso do recebimento falso das contribuições das companhias que tinham os seus produtos incluídos na publicidade geral das Americanas. Nesse caso, tem que existir conivência ou dessas empresas ou de agências de publicidade responsáveis pelas produções das peças. Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, disse que o rombo efetivamente é maior do que o ocorrido no Carrefour há 13 anos.
AÇÕES – Daniele Madureira e Marcelo Azevedo, Folha de S. Paulo, destacam que as ações das Lojas Americanas na Bovespa, que a partir de janeiro deste ano caíram 90%, no início desta semana, com as revelações de Leonardo Coelho Pereira, subiram 6%. Provavelmente como reflexo de alguma esperança dos prejudicados pelo rombo conseguirem reaver parte de suas perdas.
As ações da Eletrobras depois da aparência de privatização da empresa, em 2023, recuaram 8,5%. Os que usaram o FGTS para adquirir os títulos, como se constata, estão no prejuízo. Aliás, prejuízo duplo, pois as parcelas transformadas do Fundo de Garantia para o mercado acionário estão acarretando também uma incidência menor da correção sobre os saldos das contas diminuídos pelas retiradas.
ECONOMIA – Reportagem de Stephanie Rigamont e Marcelo Azevedo, Folha de S. Paulo de ontem, revela melhora positiva na economia brasileira neste ano após quatro anos de recuo caracterizado no governo Bolsonaro. Tal conceito, segundo especialistas, pode levar a uma redução da taxa de juros da Selic, hoje na escala de 13,75% ao ano. A matéria destacou ainda a flexibilidade monetária do Brasil, elevando o seu nível de crédito no mercado internacional.
Surgiu a perspectiva de que a taxa Selic possa recuar no final deste ano para 11,17%. O ministro Fernando Haddad comemorou o fato, matéria de Idiana Tomazelli, Folha de S.Paulo, de quarta-feira, e destacou que a economia está num rumo positivo, faltando agora a participação do Banco Central.
SELEÇÃO – O Estado de S. Paulo de quarta-feira publicou matéria sobre a decisão de Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, de tentar a contratação do treinador Carlos Ancelotti do Real Madrid para a seleção brasileira e se dispõe a esperar uma resposta até 2024. Ancelotti tem contrato com o clube espanhol e não pode deixar de cumpri-lo.
Entretanto, ocorre que o salário de Ancelotti é de 11 milhões de euros por ano, o que significaria para o Brasil cerca de R$ 60 milhões por 12 meses. Os salários pagos aos treinadores do futebol internacional atingiram um nível estratosférico. Os vencimentos de Pep Guardiola, por exemplo, treinador do Manchester City, é de 22 milhões de euros por ano, o dobro do salário de Ancelotti.
A questão, a meu ver, envolve também aspectos relativos à desvalorização dos treinadores brasileiros e provoca uma perplexidade entre os jogadores da seleção pelo peso que as cifras possuem no comportamento humano. Além disso, acrescento, se para integrar a seleção brasileira o jogador tem que ser pelo menos naturalizado, não faz sentido que o mesmo critério deixe de ser aplicado ao técnico.