O preconceito de sempre. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

Os ataques racistas sofrido pelo atacante, Vinícius Júnior, do Real Madrid e da Seleção Brasileira, domingo, na Espanha, ecoou em todos os continentes, e provocou uma comoção internacional. A indignação externada por todos os povos, e em todos os idiomas, alimenta nossas esperanças de que, o mundo está, finalmente, mergulhando num novo tempo. Apesar dos pesares.

Sabemos que, tudo acontece a seu tempo, mas este “gol” está demorando muito a acontecer. Talvez, porque até então, o assunto, apesar de exigir um tratamento sério e urgente, sempre foi tratado como coisa banal. Esta é a sensação que temos ante a passividade daqueles que têm poder, e ferramentas para mudar o rumo da história.

O futebol nasceu com a marca registrada do preconceito. Foi criado como entretenimento para uma elite branca. A história do esporte, que se tornou, ao longo do tempo, o mais popular do planeta, é rica em registros de fatos que atestam a luta dos negros para quebrar as barreiras da segregação.

As primeiras edições da Copa do Mundo foram disputadas sem jogadores negros; no Brasil, o presidente, Epitácio Pessôa, baixou um decreto proibindo jogadores negros de vestirem a camisa da Seleção Brasileira; o Náutico passou anos para adotar jogadores negros no seu elenco…

O preconceito está dentro de cada cidadão. Ele é implantado ainda na infância, nos primeiros passos da educação doméstica. E é alimentado por uma sociedade injusta e hipócrita, craque em transferir responsabilidades.

Na década de 70, quando o atacante Dario – O Peito de Aço – veio defender o Sport, o presidente do clube leonino, a época, Jarbas Guimarães, pediu a uma conselheira do clube, que era odontóloga, para atender o jogador e suas filhas. Anos depois a preconceituosa revelou: “Foi um sacrifício, mas pelo Sport, tudo!”.

A indignação mundial com os fatos ocorridos domingo, no estádio do Valência, na Espanha, parece ter levado a população a refletir sobre o problema milenar. Como estamos na era digital, e as redes sociais são tribunas livres, vimos postagens de todos os tipos: racionais, irracionais, pessoas misturando alhos com bugalhos, e como estamos na era da imbecilidade, apareceram os doutores que logo politizaram o fato, apontando o Q da questão.

O fotógrafo, José Otávio de Souza, com o qual tive o privilégio de trabalhar no Diário de Pernambuco, aproveitou o fato, e chamou a atenção para direcionarmos nosso olhar para a infinidade de jovens negros que, diariamente, sofrem todo tipo de maltrato, e não têm a sorte do Vinícius Júnior, de atuar num dos maiores, e mais ricos, clubes do futebol mundial.

A postagem de Otávio me provocou. Busquei resenhas em tudo quanto era emissora de rádio, até nas comunitárias. E todos os cronistas e analistas de futebol se concentravam nos fatos que tinham Vini Jr. como protagonista.

O preconceito também sobrevive, e é alimentado, pela falta de um mea culpa.

Nada deixa uma família mais desconfortável do que, a Patricinha branca levar o namorado negro para jantar em casa. Constrangimento geral!

Talvez o pai da moça, para quebrar o gelo, apresente o novo genro com a frase mais infame que já criaram: “Este é o namorado de Patricinha, um negro de alma branca”.

Fatos isolados que revelam racismo em alto grau, aconteceram aos montões. Todos foram tratados como uma mera bola nas costas.

Domingo, a ação foi coletiva: assustou.

E ninguém sabe como caçar o fantasma. Afinal, o sujeito é oculto.