Considerado o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, o capixaba Rubem Braga (1913–1990), sempre afirmou que “a poesia é necessária”, título de uma seção que mantinha na Revista Manchete e na Revista Nacional e que nos inspirou a manter este espaço na Tribuna da Internet.
O genial Rubem Braga, com quem trabalhamos eu e Carlos Newton, escreveu vários poemas, entre eles o soneto “Ao Espelho”, no qual retrata uma reflexão pessoal no inexorável passar do tempo.
AO ESPELHO
Rubem Braga
Tu, que não foste belo nem perfeito,
Ora te vejo (e tu me vês) com tédio
E vã melancolia, contrafeito,
Como a um condenado sem remédio.
Evitas meu olhar inquiridor
Fugindo, aos meus dois olhos vermelhos,
Porque já te falece algum valor
Para enfrentar o tédio dos espelhos.
Ontem bebeste em demasia, certo,
Mas não foi, convenhamos, a primeira
Nem a milésima vez que hás bebido.
Volta, portanto, a cara, vê de perto
A cara, tua cara verdadeira,
Oh, Braga envelhecido, envilecido.