Primeira mulher a receber o título máximo do Prêmio Pernambuco de Literatura

Moradora de Carpina de 41 anos, Ester Cristina de Lemos Sabino,

a Ezter Liu, também é policial e mãe

Ezter Liu

Ezter Liu, escritora  Foto: Reprodução

Policial. Poeta. E mulher. A primeira a ser escolhida como vencedora do título máximo do Prêmio Pernambuco de Literatura, Ester Cristina de Lemos Sabino, também é mãe, dona de casa, crocheteira e, em sua própria definição, uma mulher polvo. A escritora de 41 anos prefere assinar como Ezter Liu, mistura de apelido de infância com enfeite em seu nome. Embora more em Carpina desde criança, ela é natural do Recife.

“Das tripas coração”, material premiado, é o segundo livro da autora que já publicou “Vermelho Alcalino”, um conjunto de poesias, pela editora independente Porta Aberta, de Goiana. “Foi a convite, porque o Phillipe Wollney, da Porta Aberta, ficou me cutucando para mandar o material. Ele é parceiro nas nossas realizações aqui da Mata Norte”, conta fazendo referência a projetos que tem com a irmã, Mery Lemos.

Os 19 contos vencedores vão ganhar formato físico pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), como parte do prêmio. “Todos os contos são sobre mulheres. Todos são em terceira pessoa. Retratos de universos femininos diferentes. Sobre amor, violência, angústias, realizações…”, descreve. Não houve pesquisa para dar forma aos escritos, mas o trabalho como policial – há 17 anos – contribuiu também.

“Tem uns que vieram da imaginação mesmo, já outros são mais empíricos, mas nada autobiograficamente descarado. Mas, meus atendimentos do trabalho são terrivelmente inspiradores”, confessou.

Quando soube da notícia, tremeu “como vara verde”. “Só fazia tremer e rir compulsivamente, aí tomei um porre e fui dormir feliz”, conta. “Achei bem significativo, importante para o fomento das produções femininas. O feminino está se expandindo em muitas áreas. Acho justo, pois temos sim que ocupar os espaços, prêmios, publicações, recitais. Já temos um monte de mulher fazendo isso, a Mariane Bigio, a Luna Vitrolira… Um monte de mulher poderosa botando a boca no mundo, acho super positivo”, sinaliza.

Liu acredita que escreve desde que se entende por gente. “Não saberia dizer há quanto tempo, mas eu não mostrava minhas coisas para ninguém. Era um escritora enrustida”, conta. Apenas em 2005, por incentivo de amigos, ela começou a tirar alguns escritos da gaveta. “Tenho vários amigos que ficam me cutucando para eu produzir mais, me jogar, enfim, um encorajamento carinhoso que ajudou e ajuda a dar coragem de expor minhas coisas”, comenta.

A escritora também mantém o blog “Pancada de Vento”, mas admite que as publicações não são constantes. “Eu não consigo alimentar direito, não tenho muita disciplina”, se desculpa. “Ele está meio abandonado, mas gosto do que tem lá”.

Mudança
Durante a divulgação dos vencedores, o governador Paulo Câmara confirmou a modificação do nome do prêmio para Hermilo Borba Filho. A mudança que foi criticada por oito escritores, vencedores de edições anteriores, em carta aberta entregue ao Governo do Estado e Secretaria de Cultura foi brevemente comentada pela autora.

“Vi umas pessoas problematizando o fato de não ter sido discutida amplamente essa mudança, mas não vejo problema nisso. O importante, repito, é que exista o prêmio e possa alavancar a literatura de alguma forma”, disse.

Leia aqui trecho do conto “Nunca mais aprendeu a nadar”, de Ezter Liu:

“…Ela é insustentável. Não é dada a levezas. Correnteza contrária. Bote inflável imaginário em águas rasas de afiados corais. Assim permanece nesse dentro/fora. E não tem remos quando barco e não tem velas quando vento e não tem balde quando furo no casco e não tem nem mesmo casco onde repousar. Depois pequena ilha. Ilha sem fumaça para mandar sinais. Depois braço de maré e tentativa de chegar até a margem. Não há margem. A vida é toda leito. E luta.”

 

FONTE:FOLHAPE

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