Em novo anexo, Joesley diz que pediu a políticos apoio para liberação de financiamento do BNDES

Solicitações aconteceram durante campanha presidencial de 2010; Joesley diz que, em seguida, houve aprovação de financiamento para fábrica de celulose do grupo J&F. Delator cita pedidos de apoio político e propina a Mantega.

Resultado de imagem para Joesley diz que pediu a políticos apoio para liberação de financiamento do BNDES
Por Camila Bomfim

Em novo anexo entregue por delatores da JBS à Procuradoria Geral da República (PGR), o empresário Joesley Batista revela que procurou políticos pra fazer “pressão ” e conseguir que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberasse um financiamento para a construção de uma fábrica de celulose da Eldorado, no Mato Grosso do Sul.

Nos documentos, o empresário afirma que solicitou apoio para o negócio, entre os anos de 2009 e 2010, ao senador José Serra (PSDB-SP), à época candidato à presidência da República; e aos ex-ministros petistas Antonio Palocci e Guido Mantega.

Joesley detalhou o contato que teve com cada um desses políticos – alguns somente conversas e pedidos de apoio.

Sobre José Serra, Joesley diz que pediu pra que o tucano fizesse contato com o BNDES. Joesley afirma que não fez nenhum pagamento de propina a Serra.

Sobre Palocci, o delator faz o mesmo relato: pressão política, sem pagamentos.

E sobre Mantega , Joesley descreve reuniões e o pagamento de propina de 4% do contrato do BNDES por causa da interferência do ex-ministro para que o financiamento saísse .

Joesley tb já havia revelado em delação que, por ter conseguido empréstimo, pagou 1 % de propina pra presidentes de dois fundos que eram sócios de uma empresa do grupo J&F: Wagner Pinheiro, ex-presidente da Petros, fundo de pensão da Petrobras; e Guilherme Lacerda, ex-presidente da Funcef, fundo de pensão da Caixa. E que o mesmo valor, 1% do contrato, foi pago a Vaccari, preso na Lava Jato em abril de 2015, acusado de ser operados de propinas do PT.

Por meio de nota, a assessoria de José Serra afirmou que a história relatada por Joesley “jamais ocorreu”. A TV Globo buscava contato com os demais citados até a última atualização desta reportagem.

A empresa Eldorado pertence à J&F, grupo empresarial que reúne os negócios dos irmãos Joesley e Wesley Batista. O novo anexo trata de pedidos feitos por Joesley a políticos que, segundo ele, ajudaram a liberar um empréstimo bilionário à empresa Florestal, de plantação de eucaliptos. O delator diz que a pressão política se concretizou em meio à eleição presidencial de 2010.

Pedidos a políticos

Joesley contou que o pedido de empréstimo começou a ser feito em 2009, por ele próprio, ao então presidente do BNDES, Luciano Coutinho. O empresário disse que ficou sabendo pelo então governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, que uma empresa europeia tinha desistido de construir um fábrica de celulose no estado. Joesley, então, sugeriu que a fábrica da J&F ficasse no lugar.

Ele detalha que, após resistências da área técnica do BNDES, recorreu a Guido Mantega, ainda em 2009 – quando Mantega era ministro da Fazenda – para destravar o emprestimo. Joesley diz que Mantega “prontamente o apoiou”.

O empresário relatou uma reunião, que aconteceu entre o 1º e o 2º turnos das eleições de 2010, na sende do BNDES, no Rio. Na ocasião, Joesley diz ter cobrado Coutinho sobre o empréstimo, alegando que já tinha o apoio de Mantega. O BNDES é vinculado aos ministérios do Planejamento e da Fazenda, que estava sob o comandado de Mantega.

O empresário afirmou à Procuradoria Geral da República que Coutinho disse que era impossível analisar o projeto no banco. Joesley disse que, a partir daí, pediu a “urgente intervenção de Mantega”. E que em, seguida, procurou mais apoio de políticos.

Joesley contou que pediu ajuda a Antonio Palocci, relatando que à essa época Palocci era era braço-direito da então candidata Dilma Roussef. Palocci foi coordenador da campanha presidencial da petista em 2010.

Em outra frente, Joesley diz ter procurado o então candidato à presidência, José Serra – que tinha se afastado do governo de São Paulo pra fazer a campanha. O empresário relatou que encontrou pessoalmente com Serra. A reunião aconteceu no período da noite, por volta das 23h30.

Pressões

Ainda segundo a delação, Joesley pediu aos três – Mantega, Palocci e Serra – a mesma coisa: que eles ligassem ao então presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e dissessem que, caso eles estivessem no Poder Executivo, tal projeto seria apoiado.

Em seguida, segundo a delação, Mantega marcou uma reunião, dentro do Ministério da Fazenda, com Joesley e Coutinho – e comunicou que tinha convencido o BNDES da importância de se seguir com a análise do pedido de financiamento no BNDES.

Em seguida, disse o delator, o próprio Coutinho relatou que Serra tinha ligado pra fazer a mesma recomendação, acrescentado que o então presidenciável sabia muitos detalhes do projeto da fábrica de celulose; e que tinha prestado muita atenção às explicações dadas por Joesley na reunião que teve com o empresário.

O empresário relatou que, daquele dia em diante, o banco voltou, mesmo que lentamente, à análise do projeto da Eldorado.

O delator disse aos procuradores que o BNDES condicionou o emprestimo à fusão da Florestal com a Eldorado, do ramo de celulose – ambas empresa do grupo J&F. Afirmou também que as condições do financiamento foram difíceis e que a liberação do dinheiro demorou.

Por isso, declarou Joesley, no início de 2012, ligou para o então governador André Pucinelli, de Mato Grosso do Sul, pedindo ajuda junto ao BNDES, porque os 13 mil operários da fabrica de celulose estavam sem receber, representavam um grande risco de destruição e tumulto .

A liberação do empréstimo

O delator afirmou ainda que, dias após o ocorrido, o BNDES iniciou a liberação dos financiamentos. Segundo o relato de Joesley, a a fábrica de celulose da Eldorado Brasil S.A. foi inaugurada em 12 de dezembro de 2012.

Joesley diz que, por ter conseguido o financiamento, deu em torno de 4% de propina do contrato para Guido Mantega, como já relatado; 1% para os presidentes das Fundações (PETROS e FUNCEF) e 1% para João Vaccari.

Joesley não relatou os nomes dos presidentes dos fundos de pensão – os fundos eram sócios de uma das empresas da J&F. O delator diz que nunca tratou de propina ou de ilegalidades com funcionários ou com a área tecnica do BNDES.

O que dizem os citados

Por meio de nota, a assessoria do senador José Serra afirmou que a história “jamais ocorreu”.

“Não faria o menor sentido o candidato de oposição tentar influenciar uma decisão de governo”, diz a nota da assessoria do tucano.

A assessoria do BNDES não foi localizada, mas, quando a delação de Joesley foi divulgada, o banco afirmou que é o principal interessado na apuração de quaisquer fatos irregulares que tenham ocorrido e que existe uma comissão de apuração interna avaliando as operações suspeitas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *