Corrupção na mira de auditores éticos

Por Braselino Assunção

O momento é histórico. As delações premiadas estão abrindo o livro de um Brasil que todos imaginavam existir, mas que faltava ser escancarado, com detalhes, estruturas e a dolorosa realidade das fraudes corporativas. Entre as incontáveis revelações expostas diariamente pela mídia, a população passou a conhecer também o papel do auditor interno, um dos protagonistas na eterna luta entre a ética e o ilícito. Sua missão é a de mitigar riscos, prevenir perdas financeiras e identificar processos passíveis de corrupção, mesmo que isso signifique apontar o deslize de um colega de anos de profissão.

A Lava Jato tem mostrado ao país que a ação de auditor interno é crucial em corporações, sejam públicas ou privadas. Mas esse profissional, além de eficiente, tem que ser idôneo, resistente às tentações de um cenário voraz, que sempre teve como tônica a impunidade e o infortúnio do chamado jeitinho brasileiro.

As investidas são incontáveis e constantes. Recente pesquisa feita em 166 países, divulgada pelo The Institute of Internal Auditors – o principal organismo da carreira no mundo – revela que 44% dos auditores brasileiros já sofreram, em algum momento, pressão de seus superiores para alterar resultados de relatórios nas organizações em que atuam. O dado o preocupante é bem superior aos 29% da média global.

Ter profissionais qualificados e departamentos de auditorias estruturados se tornou busca constante no mundo corporativo. Um dos principais estopins do boom da profissão deu-se nos EUA com a lei Sarbene- Oxley, criada em 2002, que apertou o cerco ao risco de fraudes, principalmente em grandes companhias. De lá para cá, houve valorização contínua da carreira, inclusive no Brasil.

A crise no país e os escândalos de corrupção em todos os níveis econômicos, antagonicamente, também intensificaram o aquecimento da carreira. Prova disso foi o último Congresso Brasileiro de Auditoria Interna, que reuniu 750 participantes na edição 2016, recorde histórico que deverá ser quebrado novamente na edição deste ano, no fim de novembro, no Rio de Janeiro.

Os investimentos nas áreas de compliance e auditoria interna, com função preventiva, têm sido satisfatória, mas ainda longe do ideal. A Lei Anticorrupção, que passou a criminalizar as empresas, também auxilia na eterna missão de sacramentar a necessidade de se impor no país, ambientes corporativos mais transparentes, justos e honestos.

Contar com o apoio de stakeholders e da direção da empresa é fundamental, mas o maior desafio é formar um time de profissionais preparados e éticos. E isso só será possível se houver investimentos em capacitação e na contratação de auditores certificados, que seguem as melhores práticas profissionais internacionais dispostas no IPPF – International Professional Pratices Framework – considerada a bíblia do auditor interno.

Possíveis corruptores precisam estar cientes de que, naquela empresa, há guardiões de processos, uma equipe de auditores com visão holística de toda a companhia, capazes de evitar perdas milionárias à corporação e blindados contra qualquer oferta de propina ou conivência de desvios de recursos.

No passado, o auditor interno era visto apenas como um xerife, um detetive de olho em deslizes de funcionários. Hoje, o conceito moderno ampliou o seu papel. Ele é capaz de gerar valor ao apontar melhorias que incluem até mesmo um ajuste cultural na empresa. Contudo, essa etiqueta, de um executivo sério e de respeito, de alguém que não aceitará falcatruas internas, deve continuar a ser ressaltada, ainda mais na era da Lava Jato. Não é uma questão de gerar temor no ambiente corporativo, mas sim, mostrar aos tentadores e tentados que ali a corrupção não é normal, não será bem vinda e certamente será coibida e punida.

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