Lobista do PMDB cita R$ 11,5 milhões de propina a Renan e Jader Barbalho

Jorge Luz confessou crimes e disse que repassou dinheiro para conta do PMDB na Suíça

Por Cleide Carvalho e Gustavo Schmitt

O lobista Jorge Luz confessou ao juiz Sergio Moro nesta quarta-feira ter atuado como intermediário de propina no esquema de corrupção da Petrobras. Ele disse que ajudou a negociar o pagamento de R$ 11,5 milhões de propina ao deputado federal Anibal Gomes (PMDB-CE) e aos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Jader Barbalho (PMDB-PA) entre 2005 e 2006. Em troca dos valores, os políticos ofereceram apoio aos ex-diretores da estatal Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró.

Segundo Luz, nesse esquema ele só ajudou a intermediar um contato entre o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, e os políticos do PMDB. O dinheiro foi pago aos peemedebistas por outro lobista, Julio Camargo, que representava a Samsung.

Ao longo do depoimento, que durou cerca de uma hora, Luz confessou outro esquema que também envolveu o PMDB: o de compra dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000 e na contratação da Schahin Engenharia como operadora do segundo deles. O valor da propina nesse caso alcançou US$ 15 milhões.

Luz explicou a Moro como fez pagamentos no exterior. Ele afirmou que repassou dinheiro para uma conta na Suíça, intitulada Headliner, que pertenceria ao PMDB e seria operada pelo deputado federal Anibal Gomes. Ele não soube dizer em nome de quem estava essa conta. Luz citou pagamentos feitos pela conta Piemonte em 8 de maio de 2007 no valor de U$S 1, 5 milhão. Desse total, o PMDB teria sido destinatário de pelo menos dois repasses: um de US$ 86 mil e outro de US$ 49 mil.

Moro perguntou a quem pertencia a conta Headliner. Luz não titubeou na resposta:

— Essa conta é do PMDB. Para mim quem operava era o Anibal ou Luiz Carlos Sá (assessor de Anibal Gomes) – disse.

Indagado por Moro se fez repasses a agentes políticos, Luz respondeu:

– Passei na conta que o Anibal me deu que é a Headliner.

Questionado sobre como os pagamentos para os políticos eram feitos, se havia doações eleitorais, Jorge Luz afirmou que os senadores e deputados envolvidos não se importavam com a origem dos valores:

– Para os políticos não importava de onde vinha. O político sabe que quem tá com a mão na massa é que tem o dinheiro. Se veio da Pedescar, Vedescar, P-10000, não importa.

Ao fim do depoimento, o lobista aproveitou para fazer uma declaração. Aos 73 anos, destacou sua idade como motivação para confessar os crimes e indicar políticos envolvidos.

– Já há muito tempo queria fazer isso porque uma pessoa velha como eu não consegue mentir porque não tem mais memória e não consegue fugir das pessoas porque não tem mais pernas.

PRESOS NA 38ª FASE

Luz e seu filho, Bruno Luz, foram presos na 38ª fase da Operação Lava-Jato, e denunciados pela força-tarefa da Lava-Jato por corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo os procuradores, a propina de US$ 15 milhões foi destinada a políticos do PMDB e funcionários da Petrobras.

Os dois estão desde fevereiro passado no Complexo Médico Penal, na Grande Curitiba, e foram ouvidos nesta quarta-feira em audiência.

O ex-deputado federal Eduardo Cunha foi um dos beneficiários do esquema, segundo a denúncia. Em seu depoimento desta quarta-feira, Luz diz que Cunha ficou associado à propina porque era um dos cobradores.

Na ação foram denunciados os empresários Milton e Fernando Schahin, do grupo Schahin, os doleiro Jorge e Raul Davie e três ex-funcionários da Petrobras: Agosthilde Mônaco e os ex-gerentes da área Internacional Demarco Epifânio e Luis Carlos Moreira.

O esquema também incluiu a contratação pela Schahin Engenharia do navio-sonda Vitoria 10.000. Segundo a denúncia, a empresa pagou propina de US$ 2,5 milhões aos funcionários da área Internacional da Petrobras para viabilizar o contrato. Neste pagamento, Jorge e Bruno Luz novamente participaram na lavagem de dinheiro, utilizando contas ocultas no exterior.

O contrato da Schahin beneficiou também o PT. Com a contratação do navio-sonda Vitória 10.000, o partido teve quitado fraudulentamente um empréstimo de US$ 12 milhões, retirado no Banco Schahin pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula e já condenado na Lava-Jato.

OUTRO LADO

O advogado Gustavo Teixeira, responsável pela defesa de Luz não quis comentar o assunto.

A assessoria de Renan Calheiros disse que a última vez que o senador encontrou Luz foi em 1988 e que não há provas que comprovem qualquer citação de seu nome que possa ser relacionada ao réu.

O senador Jader Barbalho negou as acusações e disse que Luz é um bandido que pretende convencer o juiz Sergio Moro a reduzir sua pena. Barbalho disse que conheceu Luz em 1983, quando este tinha uma pequena empresa que tinha um contrato de saneamento com o governo do Pará.

— Nunca tive nenhuma transação com esse bandido. Se ele (Luz) deu propina para alguém, não foi para mim. Nunca recebi um centavo. Eu desafio esse e outros bandidos que contam histórias para reduzir suas penas – afirmou o senador.

 

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