O Governo Militar 1964 – 1985 X (Des) Governo Civil 1986 – Dias Atuais

POR ROGÉRIO BRANDÃO 

Um dos grandes fatores determinantes que contribuíram para o movimento miliar de 1964 foi a grave crise econômica que existia no Brasil na década de 60. A inflação era alta, a economia estagnada, o déficit público era astronômico e havia grande queda dos investimentos, tudo consequente do fracasso do plano de metas do presidente Juscelino Kubitscheck nos anos de 1956 a 1960. Os políticos se digladiavam, eram constantes as denúncias de má conduta política, corrupção, roubo mesmo da coisa pública, o congresso estava desmoralizado e perdido, incapaz de reagir e sem credibilidade perante o povo. A população não confiava no judiciário. A esperança parecia renascer com a eleição do presidente Jânio Quadros, prometendo “varrer” a corrupção deste país.

O povo foi chamado a colaborar com as necessidades de caixa do governo federal e a campanha “Dê ouro para o Brasil” levou gente simples, gente do povo a doar seus parcos bens como alianças de ouro para reforçar tesouro nacional. Em agosto de 1961, de forma atropelada e até hoje não completamente entendida, o Brasil acorda perplexo com a renúncia de Jânio Quadros.

Seu substituto constitucional era João Goulart, seu vice presidente, não aceito por largas forças políticas, entre elas as forças armadas. Para que Jango assumisse a vacância na presidência, o Brasil foi levado a uma aventura parlamentarista costurada às pressas, onde Tancredo Neves assumiu o cargo de primeiro ministro. Sem forças políticas, a crise econômica piorou e a pressão das ruas era cada vez maior. Jango era visto como pessoa de ideias comunistas e no seu governo, o Brasil se alinhou politicamente com a União Soviética. Em 1962, o governo divulgou o Plano Trienal, elaborado pelo economista Celso Furtado, para combater a inflação e promover o desenvolvimento econômico. O Plano Trienal falhou, após enfrentar forte oposição, e o governo brasileiro viu-se obrigado a negociar empréstimos com o FMI o que exigia cortes significativos nos investimentos.

A insatisfação popular era grande e mesmo as forças armadas vivia problemas de insubordinação crescente. Após a revolta dos marinheiros – que, para os militares, representou uma quebra da hierarquia – e o forte discurso no Automóvel Clube do Brasil, na reunião da Associação dos Sargentos e Suboficiais da Polícia Militar,o general Olímpio Mourão Filho iniciou, em 31 de março de 1964, a movimentação de tropas de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro. Este foi o primeiro ato dos militares que culminaria no golpe de estado que depôs o presidente João Goulart.

Na madrugada do dia 1º de abril de 1964, Jango voltou para Porto Alegre e foi para a casa do comandante do 3º Exército, escoltado pela companhia de guarda. Reuniu-se com Brizola e, após ficar sabendo de uma série de más notícias, teve uma crise de choro. Brizola sugeriu um novo movimento de resistência, mas Goulart não acatou para evitar “derramamento de sangue” (uma guerra civil). De lá, ele voou com o general Assis Brasil para a Fazenda Rancho Grande, em São Borja, onde estavam sua mulher e filhos. Com eles, tomou um avião rumo a um rancho às margens do rio Uruguai. Aconselhado por Assis Brasil, Jango traçou o caminho de fuga do Rio Grande do Sul e escreveu uma nota ao governo uruguaio pedindo asilo.

No dia 2 de abril, apesar de Jango ainda se encontrar em território nacional, o Congresso Nacional declarou a vacância da Presidência da República, entregando o cargo de chefe da nação novamente ao presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli. No dia 10 de abril, João Goulart teve seus direitos políticos cassados por 10 anos, após a publicação do Ato Institucional Número Um (AI-1).

No governo militar, tivemos épocas de grande crescimento, do milagre econômico, onde o Brasil crescia em ritmo alucinante de 11% ao ano, especialmente nos anos 70. Nos anos 80, o Brasil atravessa outra grande crise econômica e o governo miliar perde popularidade. A sociedade clama pela volta de democracia, finalmente reinstalada em 1985, com a eleição de Tancredo Neves como presidente da república, infelizmente morto nas vésperas da sua posse.

Por que estou lembrando estes fatos históricos? Vejam as semelhanças com o que ocorre hoje com o nosso Brasil. Com a morte de Tancredo o Brasil cai nas mãos de José Sarney, um político oriundo do Maranhão, estado que servia de quintal da família cada vez mais rica em detrimento do povo e considerado o estado mais pobre do Brasil. Depois, tivemos o Fernando Collor, defenestrado do poder por corrupção, o governo Itamar Franco onde o Brasil começa a superar a inflação astronômica deixada por Sarney, seguido pelos governo de Fernando Henrique Cardoso e pela cleptocracia petista liderada por Lula e depois Dilma.

Com o impedimento de Dilma, vivemos as incertezas do governo Temer, acusado de sérios crimes que nega mas não explica de forma convincente o porquê ter recebido um criminoso conhecido como o Joesley Batista em horário fora de padrão em sua residência e gravado em conversa nada republicana. Na opção da sua queda, pasmem, nosso presidente será o Rodrigo Maia, filho do ex governador Cesár Maia. Ambos são acusados pelo supremo de participarem do esquema de corrupção da Odebrecht.

O Brasil hoje vive novamente grave crise econômica, de moral e ética, de um congresso desacreditado e tomado por pessoas acusadas de crimes. Como acreditar em uma comissão de ética e justiça onde criminosos fazem parte dela?
A nossa liberdade foi dada para quê? O roubo, a mentira, a hipocrisia e a desfaçatez impera neste país. A população não confia em muitos membros do judiciário e assiste estarrecida a desmontagem gradual da operação Lava-a-Jato.

Temer perdeu sua grande chance de mudar este país ao receber um criminoso em sua residência. Estamos na iminência de destituir Temer e entregar o poder a uma pessoa como o Rodrigo Maia. Será que o destino deste país é sempre ter mais do mesmo?

Mas de uma coisa tenho certeza: Não houve presidente militar acusado de roubo ou de enriquecimento ilícito. Nenhum deixou patrimônio incompatível para sua família, nem enriqueceu familiares e amigos. A noção de moralidade, a ética, o sentimento pátrio era outro nos 21 anos que mudaram este país.

Talvez o maior erro da abertura democrática foi permitir direitos políticos aos exilados. Com a volta destas pessoas, mais uma vez retroagimos e passamos por outra crise, de solução ainda duvidosa. Não acredito em Rodrigo Maia. Não acredito na quase totalidade dos nossos políticos. Tenho reservas a membros instalados nas nossas mais altas cortes. Não confio em TCU de ministros amigos dos detentores de poder.

O Brasil precisa ser repensado, reprogramado. Eleições livres não resolverão nossos problemas, pois os nomes e sobrenomes dos políticos são sempre os mesmos. Nossa população inculta não sabe votar e teme perder privilégios como as bolsas assistencialistas, infelizmente necessárias, mas que mantém o povo refém do mau uso político.

Triste Brasil. Até quando conviveremos com estes graves fatos?

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