A dois dias do resultado da eleição presidencial, Dilma Rousseff já indicava a sua equipe como seria seu futuro governo caso fosse reeleita.
Em uma reunião após o debate da Rede Globo, no Rio de Janeiro, a presidente confidenciou a um grupo de ministros e assessores que se sentia ‘livre’, sem o compromisso da reeleição –caso eleita–, para agora fazer as coisas do seu jeito. O relato foi obtido pela Folha com dois dos participantes da reunião, que aconteceu no Hotel Windsor, na Barra da Tijuca. A reportagem ouviu de outros dois presentes ao encontro uma versão um pouco diferente: a de que a frase ‘estou livre’ se referia ao peso da campanha e de debates na TV, principal momento de tensão para a presidente durante a corrida presidencial. Diante da nova versão, a reportagem voltou aos participantes que relataram a informação original. Ambos reafirmaram o teor inicial –o de que a expressão ‘livre’ se referia à condução do governo, caso fosse reeleita. A reunião teve a participação do núcleo duro do comitê presidencial, tendo à frente os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário). Para ministros mais próximos, a explicação soou como um sinal de que Dilma, que defendeu o diálogo como principal compromisso de seu segundo mandato, deve manter o estilo centralizador e de poucas consultas para tocar a gestão. Nos primeiros dias após o segundo turno, a presidente, de fato, emitiu alguns sinais de que tomaria decisões conforme a sua visão. A despeito da expectativa do mercado, não apontou mudanças na equipe econômica, tampouco anunciou medidas na área fiscal. Ela, entretanto, determinou que os ministérios da Casa Civil, do Planejamento e da Fazenda buscassem um corte orçamentário extra para sinalizar seu compromisso com o superavit primário. Essa orientação, porém, ficou restrita ao bastidor. LULA: OUVIRÁ, MAS A PALAVRA FINAL SERÁ DELA Auxiliares da presidente também interpretaram sua fala como um recado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já sinalizou que ficará mais perto do governo, de olho em 2018. A falta de indicações sobre o que Dilma fará na área econômica foi recebida dentro de seu partido, o PT, e no próprio governo como indicativo de que a presidente pode até assimilar algumas das sugestões do setor privado e de Lula, mas que a palavra final será sempre sua. Uma outra cobrança que Dilma não deve atender é quanto a exoneração do secretário do Tesouro. Petistas, incluindo o ex-presidente, queriam Arno Augustin fora das decisões de governo. A presidente, porém, quer tê-lo como assessor especial do Palácio do Planalto, o que pode aumentar seu poder dentro da Esplanada após anos de desgaste devido às chamadas ‘pedaladas’ e outras manobras na área fiscal. Outra demanda do PT, a regulação da mídia, tende a ficar engavetada por um tempo, a despeito da grande pressão do partido.(Da Folha de S.Paulo – Andreia Sadi e Natuza Nery) |