Capital da arte de rua russa é palco de festival

Ao longo de um mês, dezenas de artistas conhecidos de toda a Rússia e de outros países chegaram para deixar a sua marca nas ruas do centro industrial e cultural dos Urais.

Fotos: Daria Kézina

O Stenograffia, o mais antigo e o maior festival internacional de arte de rua da Rússia, foi realizado pela quinta vez em Iekaterimburgo. Ao longo de um mês, dezenas de artistas de toda a Rússia e de outros países chegaram para deixar a sua marca nas ruas do centro industrial e cultural dos Urais.

Os grafiteiros chamam Iekaterimburgo de “capital russa da arte de rua”. Foi justamente ali que surgiu a primeira galeria de arte de rua do país e onde viveu e trabalhou Starik Bukashkin, um dos fundadores da arte urbana russa, cujas obras estão guardadas no departamento de livros raros da Biblioteca Britânica em Londres.  É também em Iekaterimburgo que as autoridades mantêm uma postura bastante leal em relação ao grafite e a cada ano disponibilizam dezenas de novos espaços para o desenvolvimento da arte de rua. Este ano o festival foi dedicado à Copa do Mundo de 2018, que vai ser realizada no país.

Desta vez, o tom do festival foi definido pela composição “Ajuda Mútua” do artista de Iekaterimburgo Slava PTRK. De acordo o portal AdMe.ru, ele entrou no top dos melhores grafites do mundo em junho de 2014. Duas mãos enormes que se estendem uma para a outra nos degraus da orla do rio da cidade passaram a adornar a paisagem urbana.

Gagarin do mundo

O lendário artista de Madri Sam3 tornou-se o mais enigmático e esperado convidado do festival. O artista espanhol, que há muito tempo cativou a Argentina, a França, Portugal e os EUA com as suas obras monocromáticas, visitou a Rússia pela primeira vez. E trabalhou sob uma chuva torrencial para deixar de lembrança quatro grafites em forma de misteriosas “sombras” nas fachadas dos prédios dos subúrbios da classe operária de Iekaterimburgo, no Museu de Belas Artes e no território do Hospital das Clínicas infantil da região.

“Gostei da cidade, com seus paradoxos e contrastes: edifícios ultramodernos estão lado a lado com antigos palacetes do final do século 19, não vi nada igual antes. As pessoas são muito amáveis e não são indiferentes”, declarou Sam3.

Andrêi Palval, grafiteiro da cidade de Kharkov e participante regular do festival, veio da Ucrânia para o Ural apesar da difícil situação política. Ele surpreendeu os moradores da cidade deixando na fachada de um edifício de apartamentos de cinco andares, no centro da cidade, uma imagem de 15 metros do primeiro cosmonauta, Iúri Gagarin, com uma pomba nas mãos.

O artista se baseou em uma famosa foto do cosmonauta com uma pomba branca, que Gagarin havia recebido de presente dos pioneiros búlgaros na cidade de Plovdiv, em 1961. Palval acredita que os trágicos acontecimentos que estão ocorrendo agora na Ucrânia incutiram um novo significado a essa imagem: o destino do mundo está nas mãos dos militares. E Iúri Gagarin, como se sabe, era um piloto militar.

Na Ucrânia, Andrêi é conhecido como autor da maior obra de arte urbana. Em Kharkov, ele criou um grafite com 451,5 metros quadrados de área, no qual também retratou Iúri Gagarin. Palval destacou o estado de espírito especial que o cercou durante os dias em que elaborou o seu trabalho em Iekaterimburgo: “ao longo de todo o tempo, ninguém disse sequer uma palavra rude, pude trabalhar em paz e com facilidade.”

Espaço livre

Os jovens artistas do famoso grupo de Samara VGA (Visualização das Associações Gráficas) estão convictos de que o grafite ainda é um fenômeno incomum na cultura russa, mas já não provoca uma rejeição tão forte nos moradores da cidade, como acontecia há alguns anos. Algumas pessoas se aproximam dos jovens que estão elaborando as pinturas sobre os muros e fazem “encomendas políticas”. Um aposentado pediu que pintassem os retratos de Barack Obama e Ângela Merkel.

Os grafiteiros russos podem ser divididos em três categorias: aqueles que são influenciados pelos artistas urbanos ocidentais (eles são maioria), aqueles que usam ideias de outras pessoas e os autores originais com um estilo próprio.

“Em Iekaterinburgo há muita arte urbana, provavelmente mais do que em qualquer outra cidade russa. Os espaços nos quais criamos os grafites no festival são disponibilizados através de acordos com as autoridades locais, por isso os nossos trabalhos permanecem intactos durante anos e ninguém os recobre com tinta. Mas em Samara, como provavelmente em muitas outras cidades russas, a o grafite é uma atividade muitas vezes considerada ilegal e os policiais podem se aproximar e perguntar por que estamos desenhando nas ruas. Por essa razão, somos obrigados a fazer isso nas garagens quando ninguém está vendo. Mas aqui o espaço é livre”, contou  Aleksandr Poliakov, integrante do grupo VGA.

 

fonte:gazetarussa

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