Com o clima da campanha esquentando, o candidato da coligação Pernambuco Vai Mais Longe, Armando monteiro Neto (PTB), ameaçou ontem “tomar as medidas cabíveis” contra o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), que insinuou que o petebista estaria por trás da denúncia do deputado José Augusto Maia de que teria recebido uma oferta financeira para apoiar Paulo Câmara (PSB). Durante o debate promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), na noite dessa segunda-feira (28), Armando disse ter orgulho da sua origem empresarial, condenou o “discurso enviesado” do adversário, ao tacharem de “mau patrão”, e disse estar disposto a participar de um debate com Paulo Câmara durante uma reunião do Lide. Veja os principais pontos da entrevista:

Origem
“Quero dizer que me honro muito da minha origem empresarial, e da experiência que tive do setor privado. Me sinto muito bem por ter ingressado na vida pública já maduro. Porque entrar na vida pública com uma compreensão adequada dos problemas da chamada economia real, de ter vivenciado esses problemas, na escala da visão empresarial é algo que representou pra mim um grande enriquecimento. E é por essa experiência que eu tenho orientado a minha atuação no Congresso Nacional. A experiência do setor empresarial me deu a compreensão de que o Estado não gera recurso, o Estado redistribui recursos.“

Visão estreita
“Principalmente no período eleitoral, alguns trazem uma visão enviesada de que existe algo que favorece as empresas e que se contrapõe aos interesses dos trabalhadores. Essa é uma visão estreita. Uma visão equivocadamente maniqueísta. O interesse do País e o interesse dos trabalhadores se idealiza na exata medida em que possamos construir uma sociedade mais próspera e mais dinâmica. Não existe essa visão de que ou se serve a um lado ou se serve a outro lado. Essa é uma visão equivocada.”

Educação
“Pernambuco vive com indicadores na educação que são constrangedores. Temos ainda uma parcela expressiva de jovens fora da escola. Mantendo níveis de evasão e repetência que se traduz naquela distorção entre idade e série. Temos um desempenho no Ideb que nos coloca em uma situação ruim tanto nos anos iniciais quanto nos anos finais no ensino fundamental e no ensino médio. Pernambuco oscila no ranking nacional entre a 18ª posição e a 22ª e, no ensino médio, na 16ª. Temos uma taxa de analfabetismo na faixa de 15 anos de quase 20%. Isso representa quase o dobro da média nacional. Como poder fazer um novo padrão de desenvolvimento estruturalmente sustentável se Pernambuco não for capaz de dar uma grande virada na Educação nos próximos 10 anos? Podemos, entre outras coisas, estimular os municípios a investir na educação a partir de incentivos, através da cota parte do ICMS. Temos que investir no magistério. Não apenas oferecendo um plano de cargos e carreira. Aí temos que reconhecer que os professores são mal remunerados. Mas temos que criar centros de educação continuada em que você possa capacitar professores e formadores de professores. Temos que fazer um reconhecimento ao governador Cid Gomes, que tem um olhar sobre a educação a partir da sua visão municipal, de quando foi prefeito de Sobral e desenvolveu experiências que ele pôde ampliar quando chegou ao Governo.”

Infraestrutura
“Temos um gargalo no Estado que é a questão da infraestrutura. O Estado não tem capacidade de investimento. Veja a questão do Arco Metropolitano, que é muito importante, mas cujo o projeto vai se aproximar de R$ 2 bilhões. Temos a imensa necessidade de requalificar a malha rodoviária de Pernambuco. Que é uma malha de má qualidade. A requalificação dessa malha envolve um esforço financeiro muito grande para Pernambuco. Por outro lado, é preciso fazer alguns investimentos urgentes. A requalificação da BR-232 no trecho existente. Assistimos por um longo tempo uma pendência que se arrasta e que não foi resolvida até hoje. O fato é que essa via que é muito importante está se deteriorando. E nós temos o desafio de levar a 232 pelo menos até Arcoverde. Temos que requalificar a 423, no sentido São Caetano-Garanhuns. Temos que terminar a 104, que se arrasta há muito tempo. Temos que apostar em médio prazo na conclusão de hidrovias. Temos que integrar todos os modais.”

Compra de apoio
“Com relação a essa gravíssima acusação, que foi feita por um deputado federal (José Augusto Maia, que denunciou ter recebido uma proposta financeira em troca do apoio ao PSB), na tribuna da Câmara, e a nossa atitude da nossa coligação foi a divulgação de uma nota que expressou logo no primeiro momento, que pedia que os órgãos de fiscalização apurassem essa questão. É algo da maior gravidade e que, a meu ver, macula o processo inteiro. Portanto, digo que é algo que tem que ser apurado imediatamente. Estamos atentos ao uso da máquina. Há sempre excessos que podem ser evidenciados. Acho que a instrumentalização nessa questão eleitoral é algo muito negativo para o processo político. Mas vamos ficar vigilantes. Mas nessa questão o que conta mesmo é o controle da sociedade.”

Campanha suja
“Veja como é essa coisa da política. Tem pessoas que chegam a determinas funções e não têm a dimensão do seu papel. Aí entram nesse jogo menor da campanha política. Estive no palanque de Geraldo Julio em 2012, e ele se dizia muito honrado em ter o meu apoio. Muito honrado. Eu tenho manifestações muito generosas de Geraldo Julio a minha figura pública, a minha postura como homem público. Ora, se isso é teatro… o autor das declarações assinou o que disse. E eu não emiti nenhum juízo de valor. Pedi apenas que houvesse a investigação dos fatos. Coisa que agora temos a obrigação de cobrar. Agora, se o prefeito insistir nessa tese, de querer me atribuir responsabilidade nesse processo, eu vou também adotar as medidas cabíveis.”

Aliança com o PT
“Não acho que a incompetência more em partido A ou B. Diversas mazelas que estão no ambiente político. Então não é algo que se localiza em partidos. É algo que se localiza frequentemente em pessoas e em práticas, que devem ser de alguma maneira repudiadas pela sociedade. O clientelismo, o patrimonialismo e a corrupção não nasceram em determinado período ou governo. Acho que lula teve a coragem de manter os pilares da política macroeconômica, inclusive contra setores do próprio partido. Manteve um longo ciclo de alta nas taxas de juros para não comprometer a estabilidade macroeconômica do País. E o Brasil cresceu. Então, não há essa visão que os problemas moram num partido. É uma visão preconceituosa. Acho que os problemas se dão no exercício do poder. Mas temos em outros partidos maus exemplos. Existem situações e situações. Existem bons quadros Também no Partido dos Trabalhadores que podem representar o interesse do País. Agora, há uma coisa que me preocupa no País. Quando o partido muda de campo, mudam de visão.”

Fator Previdenciário
“Há uma coisa que me preocupa no País. Quando o partido muda de campo, mudam de visão. Veja o exemplo do Fator Previdenciário. Ele foi criado durante o governo de Fernando Henrique para evitar que as contas da previdência se desequilibrasse. Hoje, o partido do presidente Fernando Henrique e outros de oposição defendem o fim desse fator, por conta apenas do jogo político. E nós precisamos de partido mais programático. E não que mudam de discurso ao sabor das circunstâncias.”

Imagem
“Às vezes eu tenho razões para rir, às vezes não tenho. Agora, a pessoa vai sempre me encontrar da mesma forma. Agora, tem gente que faz um papel quando disputa a eleição. Tem uma história de um político pernambucano, que não vou dizer o nome, que encontrava com a vizinha sempre no elevador, mas nunca falava com ela. Quando disputou uma eleição importante, ele entrou e não falou. E ganhou o voto, pois a pessoa disse que ele era coerente. Eu quero ser jovem compreendendo as mudanças. Valorizo muitos os meus 60 anos. Me deixaram cicatrizes, marcas. Mas que ao mesmo tempo me fizeram aprender muito. Não vou fazer papel de jovem. Mas serei jovem no debate das questões de Pernambuco.”

Movimentos populares
Sobre o episódio do Cais Estelita, sempre tive posições. Tenho a dizer que é preciso todo o tempo para a discussão, sobretudo num projeto de impacto para a cidade, de conveniência urbana. Mas a partir do momento que se decide, é preciso dar segurança jurídica. Não é aceitável que se possa reabrir, reabrir e reabrir o processo. Fico impressionado que são exatamente as conveniências eleitorais que fazem as pessoas mudarem os discursos. Montam o discurso ao sabor da conveniência eleitoral.”

Discurso
“Nunca vi um discurso tão preconceituoso com o setor empresarial. Me chamaram de patrão, depois de mau patrão, depois de rico. E eles nem estão mal informados em relação ao meu patrimônio. É um reacender do preconceito. Aí eu pergunto, quando o empresário tá do seu lado no palanque é um empresário progressista, como já me chamaram. Aí, quando está do outro lado vira patrão, mau patrão… Reacender preconceitos, trazer para o debate público a velha luta de classes, querendo opor as pessoas pela sua origem social. Veja que lição Lula deu ao Brasil. Ele chamou para ser vice um dos maiores empresários do País E eu sou testemunha que ele desenvolveu uma relação tão fraterna que nada Lula fazia sem ouvir José Alencar. Esse discurso oportunista, que recorre a velhos rótulos, isso não pega. O povo não é bobo. O povo sabe distinguir essas coisas.”

Relação com Eduardo Campos
“Primeiro estávamos integrados à mesma frente. E essa frente tem uma história. Estive com Lula em 2002, na reeleição de Lula em 2006. Apoiei o PT no primeiro turno, mas no segundo turno estava com Eduardo Campos. E em 2010 estávamos todos no mesmo palanque, juntos. Em 2012, eu entendi que naquela circunstância uma solução fora daquilo que estava desenhado figurava melhor. Essa frente não se dissolveu ali. A frente se dissolveu quando Eduardo se lançou candidato. Lançou uma candidatura assumindo todos os riscos da sua decisão. Vocês jamais vão me ver descontruindo o governo de Eduardo, porque eu participei o governo, eu ajudei o governo. Quem apresentou o governador a algumas ferramentas de gestão fui eu. Quero dizer que o governador assimilou muito bem essas ferramentas, que é um mérito dele. Mas não vou desqualificar o governo que participei. O pernambucano ficou mais exigente com o governo. Se já tivemos mais, não vamos nos conformar com menos. O processo eleitoral serve para isso.”

Saúde
“Tenho uma preocupação com essas propostas que se materializam em prédios (em relação à proposta de Paulo Câmara de construir três novos hospitais). É algo reducionista tratar a sua proposta com prédios. Acho que nosso compromisso primeiro é melhorara a atenção básica na área de saúde. E aproveitar a rede hospitalar existente, fazendo ela atuar de forma mais integrada, em rede. E talvez, sim, fazer alguns investimentos em algumas áreas que são essenciais. Há um problema novo no País, no setor de traumatologia. Há uma epidemia com esses acidentes de moto. Essa fazendo uma demanda adicional. Então, em algumas áreas, numa questão especializada, é possível fazer uma intervenção. A questão das UPAs. É um bom projeto essas UPAs Especialidades, mas falta médico. Então, saúde não se faz só com equipamento, mas com o investimento em pessoal, na gestão e trabalhando em rede.”

Impugnação “laranja”
“Um cidadão entrou no TRE (pedindo a cassação de Armando e de João Paulo), e aí eu chamei de “operação desastrada”, duplamente desastrada. Primeiro porque o objeto em si não há razão de impugnação. Segundo, que a operação foi tão mal orientada que eles perderam o prazo, entraram fora do prazo. Eu cheguei a dizer que me pareceu uma ação estranha. Não tenho conhecimento da área cítrica (quando indagado se o advogado que entrou com a ação seria um laranja).”

Inovação e tecnologia
“A área de TI (tecnologia da informação) é fundamental pois ela é transversal. Tem um efeito sobre a produtividade do sistema. E Pernambuco tem uma infraestrutura de conhecimento e suporte. Por isso, esse caso do Porto Digital, esse cluster da área de TI é estratégica teve esse desenvolvimento fantástico. Área de TI é estratégica. Temos a área de expansão da banda larga, de criar telecentros no interior. Em Suma há uma série de questões importantes nessa área. Se não tivermos um ambiente inovador, não teremos uma indústria competitiva.”

Desmobilização em Suape
“É um problema gravíssimo. Só na refinaria tivemos no pique da obra 45 mil pessoas trabalhando. É uma cidade de médio porte e todas as pessoas trabalhavam na obra. Se tivéssemos um ambiente de maior racionalidade, o mais correto seria trabalhar a expansão da refinaria. Seria mais barato do que fazer uma premium no Ceará ou no Maranhão. Agora você pergunta se politicamente é possível. É complicado. É um desafio grande fazer o reaproveitamento desse contingente.”

Usinas
“É um dos problemas mais sérios de Pernambuco é a situação da Zona da Mata. Ela tem os priores indicadores socioeconômico. E o pior agora e o grande desemprego provocado pelo fechamento de várias unidades produtoras de açúcar. E em função, aí sim, tenho que reconhecer, dos equívocos da política do governo federal. A compressão do preço da gasolina, que prejudicou fortemente o etanol, que é atrelado ao preço da gasolina. E o Governo para compensar a Petrobras, pela inexistência de uma política realista para o preço da gasolina, terminou tirando a Cide, que era um espaço de proteção do etanol. Resultado, as usinas estão tendo dificuldades no Brasil inteiro. Mesmo nas áreas mais produtivas, unidades fecharam. Então o quadro é grave. A solução tem que se dar em dois níveis: mudança na política do Governo Federal, acabando com essa compressão no preço dos combustíveis e a criação de um subsídio social para a plantação de cana no Nordeste.”

Relação com Paulo Câmara
“Tenho Paulo (Câmara) na conta de uma pessoa educada (os dois não se cumprimentaram durante evento em Serrita, no domingo). Ele tem que ter cuidado para não virar um candidato franquia, que você dá o ritmo e ele desempenha aquele papel. Há uma diferença entre representar e apresentar. Se a Lide quiser fazer um debate presencial, eu estou à disposição e o tratarei com maior respeito.”