Após inauguração, computadores são retirados de escola no Rio

ATITUDE POLÍTICA MESQUINHA E ENGANOSA

A Secretaria Estadual de Educação informou que os computadores instalados eram provisórios

 O Estado de S. Paulo
 Na semana seguinte à inauguração do Colégio Estadual Jornalista Rodolfo Fernandes, em 11 de março, com a presença do então governador Sérgio Cabral (PMDB) e de seu vice, Luiz Fernando Pezão, todos os computadores de um dos laboratórios de informática foram retirados pela Secretaria Estadual de Educação (Seeduc), sem nem sequer terem sido usados pelos alunos. Na época a escola foi considerada por Cabral como parte da “nova fase da educação”, pois “muda o patamar de qualidade do desempenho dos alunos”. O colégio, que custou oficialmente R$ 14 milhões, tem 928 estudantes matriculados.

A retirada dos computadores foi revelada por um professor da rede de ensino do Estado do Rio, que fez um desabafo no Facebook. “O governador chega, a escola está linda, prontinha, ele tira muitas fotos, dá muitas declarações, faz até um discurso (foi vaiado, não entendi o motivo), a imprensa publica em sites, TV e jornal, afinal de contas é uma novíssima escola na zona norte do RJ, tudo lindo, perfeito. O governador vai embora… junto com ele leva todos os computadores do laboratório, telefones e projetores da escola. Era só pra tirar as fotos pra imprensa, triste vida”, escreveu.

A Seeduc informou que os computadores instalados para a inauguração eram provisórios. “O Colégio Estadual Rodolfo Fernandes foi programado para receber um laboratório móvel de informática com netbooks. No entanto, como era sabido que os equipamentos não chegariam em fevereiro, mês em que a unidade foi inaugurada, a Seeduc optou por prover com computadores da sede administrativa”. A nota informa que os equipamentos foram retirados para a chegada dos netbooks, que ainda não foram enviados à escola.

Fotos de “antes e depois” postadas na internet mostram a sala equipada, no dia da inauguração da escola; e vazia, depois que os computadores foram levados. O post foi compartilhado por 90 pessoas até a noite de quarta-feira, 9, e recebeu dezenas de comentários. O professor acabou retirando a postagem. “Confesso que não imaginei tamanha repercussão em um post na minha página”, disse ele ao Estado. O professor pediu para não ter o nome divulgado, por temer represálias.

Inacabada. A escola começou a funcionar em 10 de fevereiro, uma semana após as outras instituições da rede, mas ainda estava inacabada. “O refeitório não existia, estava fechado. Eram dados lanches aos alunos, biscoitos e achocolatados. Banheiros e bebedouros funcionavam somente no terceiro andar”.

Inicialmente a Seeduc informara, na noite de quarta-feira, que os equipamentos foram levados para que o laboratório passasse por “adequação às exigências do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)”. Diante do questionamento do Estado sobre o motivo de a escola não ter sido erguida já dentro dos parâmetros exigidos, a assessoria de imprensa informou que houve um engano: o colégio estava programado para receber um laboratório móvel de informática com netbooks, e não os computadores do Programa Nacional de Tecnologia Educacional.

Ainda de acordo com a assessoria, a escola é equipada com duas linhas telefônicas, dois projetores e quatro aparelhos de Data Show, que permanecem na instituição. A nota informa ainda que banheiros e bebedouros funcionavam desde os primeiros dias de aula. Na tarde desta quarta, a equipe do Estado esteve na escola, mas não foi autorizada a entrar. Uma representante da escola, identificada como Jaqueline, confirmou que a unidade ainda está em obra, faltando “detalhes” como acabamento nas paredes, maçanetas e redes de proteção na quadra de esportes e nos guarda-corpos do segundo e terceiro andares.

Alunos. Os alunos do 1º ano do turno da tarde confirmaram o relato do professor. Eles disseram que os computadores do laboratório de informática são obsoletos e não têm permissão para usá-los. Contaram que a biblioteca está fechada e os livros aos quais têm acesso são velhos e depositados em um carrinho de mercado. Ainda segundo os alunos, alguns banheiros ainda estão em obras e outros já estão entupidos.

“A escola é tipo teatro: eles mostraram tudo quando o governador veio (para a inauguração) e depois tiraram”, disse Driele Soares, de 16 anos. Ela queixou-se da falta de professores. “Nem todas as turmas têm todas as aulas. Quando um professor falta, temos tempo vago e podemos sair da escola a hora que quisermos”.

“Aqui tem computador, laboratório de ciências, biblioteca com livros, mas nada pode ser usado”, afirmou Brenda Lourenço, de 15. Ela também disse que as refeições não são suficientes para os três turnos. “Nem sempre tem almoço ou jantar para todo mundo e, quando isso acontece, eles servem lanche. Já fecharam o refeitório porque a comida acabou.”

Matheus Luiz, de 17, cursou o ensino fundamental em escola particular e ingressou na Rodolfo Fernandes para fazer o ensino médio. “O que mostraram na televisão não foi o que eu encontrei aqui. A escola é bonita, mas faltam professores e equipamentos para estudarmos”.

 

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