Cartas de Berlim: Prenzlberg e a gentrificação,

por Albert Steinberger

O Mauerpark é a cara desta nova Berlim multicultural com todas as suas qualidades e paradoxos. O nome significa “parque do muro” e é no domingo que ele lota. A área verde era, na época da guerra fria, uma parte da chamada “terra de ninguém”.

Assim era chamado a faixa de terra entre os dois muros, cheios de minas terrestres, cachorros e torres de vigilância, que dividiam a Alemanha capitalista da comunista.

A parafernália militar deu lugar a músicos e outros artistas de rua que buscam plateia, enquanto milhares de jovens dos mais diferentes estilos aproveitam o fim de semana com uma garrafa de cerveja em punho. Piqueniques e grelhas de churrasco se espalham pelo gramado verde.

Uma das principais atrações é um karaoke montado em um anfiteatro. Toda a aparelhagem de som fica acoplada a uma bicicleta e é trazida por Joe Hatchiban.

É facil notar pelo sotaque que ele também é gringo por aqui, ou Ausländer como dizem os alemães. Desde 2009, ele montou ali um espaço para quem quiser soltar a voz e que hoje em dia virou uma atração da cidade.

 

Karaoke no Mauerpark

Do outro lado do parque, um Flohmarkt (mercado de pulgas) oferece vinis de Jazz, badulaques, camisas, bicicletas de origem duvidosa e muitas barraquinhas de comida.

O inglês é quase mais falado do que o próprio alemão e no rosto e no estilo das pessoas é possível notar a mistura de nacionalidades e culturas.

O Mauerpark fica em Prenzlauer Berg, um dos bairros da moda de Berlim. Eu moro aqui, mas sinto um certo preconceito dos berlinenses quando dou meu endereço. Estrangeiro em Prenzlauer Berg é sinônimo de hipster.

OK, é inegável que o bairro é cheio deles, mas não somente. Jornalistas, artistas, professores ou entusiastas de karaoke vêm dos mais diversos países. Em sua maioria, da França, dos Estados Unidos, da Itália e, após a crise européia, da Espanha. De qualquer forma, esta é uma das causas da região ter virado um símbolo da gentrificação que ronda a cidade.

Gentrificação, inclusive, é a palavra da moda entre os berlinenses no momento, já que vários bairros passam pela mesma situação. Com o aumento dos preços dos aluguéis, os moradores locais antigos se mudam para a entrada de novos inquilinos (muitos deles estrangeiros), capazes de arcar com os reajustes.

Se comparados com os aluguéis de qualquer capital européia, ainda é barato morar em Berlim. No entanto, se a referência for o que era cobrado há dez anos, os valores inflacionados assustam.

Historicamente, o local é um bairro de operários, que moravam em cortiços e, até hoje, pela região é possível ver algumas das antigas fábricas, que dão um charme especial a Prenzlauer Berg. Na época da República Democrática Alemã, intelectuais, artistas e estudantes moravam aqui e organizavam protestos contra o regime totalitário da época.

Hoje em dia, a bandeira é outra. Os moradores antigos brigam contra o aumento abusivo de aluguéis. Já os estrangeiros se multiplicam de maneira rápida. Ao caminhar pelas ruas do bairro, a impressão é que um baby boom está em andamento.

E, assim, Prenzlberg, como é chamada pelos berlinenses, vai procurando o tênue equilíbrio entre a gentrificação e o multiculturalismo.

Albert Steinberger é repórter freelancer, ciclista e curioso. Formado em Jornalismo pela UnB, fez um mestrado em Jornalismo de Televisão na Golsmiths College, University of London. Atualmente, mora em Berlim de onde trabalha como repórter multimídia para jornais, sites e TVs.

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