O fácil caminho do lucro

     Por  Eliakim Araujo

O lucro do Banco do Brasil, anunciado esta semana, de10,03 bilhões de reais no primeiro semestre do ano é o maior da história dos bancos no país.  Ao lado do BB, todos os grandes banco privados apresentaram enorme lucratividade.  Itaú Unibanco e Bradesco lucraram, no mesmo período, 7,23 bilhões de reais o primeiro e 5,87 bilhões o segundo.

Longe de ser motivo de euforia, esses números devem ser motivo de preocupação. Por uma questão muito simples. Como pode um país que possui milhões de seres humanos vivendo abaixo da linha de pobreza ter um sistema bancário com tamanha lucratividade?

Além das taxas e serviços, muitas delas cobradas ilegalmente,  por desconhecimento do consumidor, certamente é no spread que os bancos brasileiros estão enchendo seus cofres e o bolso de seus acionistas que botam o dinheiro para trabalhar por eles.   O spread é a diferença entre a taxa de juros que o banco paga para captar recursos e a taxa de juros que ele cobra para emprestar dinheiro.

E essa diferença é tão absurda que podemos dizer que a principal fonte de receita dos bancos é proveniente de uma agiotagem oficializada, ou, se quiserem, uma gatunagem com o dinheiro alheio.   Veja estes números que foram publicados no blog Clique aqui

Quando olhamos para os números no curto prazo, já enxergamos um abismo. O CDB (Certificado de Depósito Bancário), o papel que você recebe quando empresta ao banco, está rendendo atualmente 7,8% ao ano, em média.   Já o crédito pessoal, aquele dinheiro que você toma emprestado sem nenhuma garantia, rende 73% ao ano para a instituição financeira. Ao pensarmos em como isso ficaria no longo prazo, então, a diferença é muito mais gritante.
 

O banco que  que emitiu um CDB a R$ 100,00 para uma pessoa física em 1º de julho de 1994, início do Plano Real, teria que devolver, hoje, R$ 2.038 a esse cliente. Descontado o Imposto de Renda, o pequeno investidor poderia resgatar R$ 1.733. Considerando que a inflação foi de 333% no período, a rentabilidade real dessa aplicação foi de 370%.  No caminho inverso, se porventura uma pessoa física tivesse tomado emprestados R$ 100,00 em 1994 e nada tivesse pagado nesse período e nem mesmo renegociado, sua dívida estaria hoje na casa dos milhões. Mais precisamente, ele deveria R$ 7.205.180,78”. 

Ou seja, em 19 anos ,  uma aplicação de R$ 100,00 vira R$ 2 mil; mas, se for uma dívida de R$ 100,00,   vira mais de R$ 7 milhões.  Não é uma aberração?  Essa é a prática de um sistema que não pode nem ser chamado de perverso,  ele é cruel, sobretudo porque quem vai ao banco buscar um empréstimo está, geralmente, em difícil situação financeira. Pois é destes que os bancos arrancam o couro, pois sabem que eles não têm para quem apelar.

Apesar desses lucros fabulosos, os bancos continuam  a) atendendo mal aos que são obrigados a enfrentar filas nas agências, apesar de uma lei fajuta que limita o tempo de permanência do cliente no local; b) pagando salários de fome a seus funcionários,  que além de tudo trabalham em péssimas condições materiais;  e c) cobrando taxas e serviços de quem usa e de quem não usa o sistema.  Experimente deixar uma conta parada por algum tempo… você vai ter uma desagradável surpresa quando checar seu saldo mais adiante.

Alguma coisa está errada nesse cruel sistema bancário brasileiro. Não podem os bancos ter esses lucros exorbitantes enquanto milhões de brasileiros vivem em extrema pobreza – apesar dos avanços sociais dos últimos dez anos.  Nos casos específicos do BB e da Caixa Econômica, bancos operados por gente nomeada pelo governo federal,  penso que estes deveriam canalizar seus recursos para atender as camadas mais carentes da população, mesmo que seus balançso apresentem lucros menores. .

Mas, é forçoso reconhecer,  são os bancos públicos que investem parte de seus lucros em projetos sociais muitas vezes a fundo quase perdido para alavancar programas de ajuda aos menos favorecidos,  enquanto dos bancos privados não se arranca um centavo para o mesmo fim.  Também é dos bancos públicos o mérito da iniciativa de promover uma redução das taxas de juros. E se uma redução maior não conseguem é porque a pressão dos bancos privados é grande para “preservar a competição no  mercado”.

Está mais do que na hora de o governo intervir nesse sistema injusto, que beneficia meia dúzia de banqueiros e investidores em detrimento de milhões que são obrigados a recorrer aos bancos na hora do aperto. Intervir nessas taxas de juros imorais e abrir linhas de crédito para quem realmente precisa de socorro financeiro devem ser prioridades.  Ao lado da reforma política, é urgente pensar em uma reforma do nosso sistema bancário.

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