Com o mote publicitário “é dinheiro sujo”, da lavra de João Santana, mesmo marqueteiro da presidente Dilma e do ex Lula, o PT vai às ruas coletar 1,5 milhão de assinaturas para impedir financiamento privado em campanhas eleitorais. Mas o tiro, pensado para purgar o mensalão que emporcalhou a imagem do partido, pode ricochetear, expondo a sigla a novos constrangimentos.
O presidente do PT Rui Falcão (SP) dá o tom: diz que acabar com dinheiro privado na eleição, adotando o financiamento público exclusivo é “a melhor maneira de combater a corrupção”. O senador Jorge Viana (PT-AC) vai mais longe: “que seja feita a lei do dinheiro limpo”.
E a outra face da moeda?
Admitida como verdade a tese que propalam, é sujo o dinheiro que irrigou com R$ 112 milhões a campanha da atual presidente? Só passou a ser sujo agora? E o deles, é sujo? Ou só é sujo o dinheiro arrecadado pelos adversários? Será que além do confesso caixa 2, os recursos contabilizados que os mensaleiros receberam eram dinheiro sujo?
A proposta petista embute ainda o voto em lista e a convocação de assembleia constituinte exclusiva para a reforma política. A campanha começa oficialmente na terça-feira, em São Paulo. Depois irá a Brasília, Rio e Belo Horizonte.
O ato paulistano terá a presença de Lula, que, sem constrangimento algum, defende que o financiamento privado seja crime inafiançável. O mesmo Lula que ainda presidente da República confessou na patética entrevista de Paris que seu partido praticara caixa 2. À época Lula não devia considerar sujo o dinheiro das doações privadas que recebera, senão somaria cadeia – e sem fiança – ao absurdo da admissão do crime que ajudou a reelegê-lo.
Com esse histórico, difícil crer na boa fé do PT. Sabe que financiamento público não tem a virtude de acabar com a corrupção eleitoral, nem mesmo de reduzi-la. Quanto mais em um País que não pune ilegalidades nem quando o presidente da República admite a prática de crime realizado em seu benefício.
Financiamento eleitoral nem de longe é o cerne do problema. Esse reside na corrupção em si, na tolerância que se tem com ela, na impunidade. Nesse sentido, o julgamento do mensalão foi um marco. Mas a mensagem não pode se dissolver em retrocessos como a ascensão de Renan Calheiros (PMDB-AL) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), no assento dos mensaleiros José Genoínio e João Paulo Cunha, ambos PT-SP, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. No retorno dos faxinados ao Governo só para garantir minutos para a campanha de reeleição de Dilma.
Definitivamente o xis da questão é outro. É falta de vergonha na cara.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência ‘Lu Fernandes Comunicação e Imprensa’.