C H A R G E

Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – Recife não é apenas um lugar. É um estado de espírito. Uma cidade que pulsa na memória do Brasil, que guarda em suas ruas o perfume da história, o som do frevo, o sussurro das marés. É onde o passado e o presente se dão as mãos em pedra, suor e poesia. Por isso, qualquer gesto que mexa com suas entranhas exige mais que administração: exige amor.
E foi exatamente esse amor que se sentiu ferido quando a Prefeitura do Recife anunciou que colocaria a Rua do Bom Jesus para “adoção” por empresas privadas. A mesma rua eleita como uma das mais bonitas do mundo. A mesma que abriga a primeira sinagoga das Américas. A mesma que acolhe, todo domingo, a feirinha de artesanato, de memórias, de resistências.
Ao propor esse gesto, travestido de modernização, a gestão municipal abriu ferida profunda no coração do Recife. Porque o que se entrega não é só a rua, mas o direito da cidade de cuidar da sua história com as próprias mãos. E diante disso, uma pergunta passou a ecoar: será que o prefeito está querendo se ver livre do Recife?
A resposta pode estar nas ações. Primeiro vieram os parques, entregues à iniciativa privada. Agora, a rua mais simbólica da cidade. Tudo com a justificativa de que é melhor “adoção” do que abandono. Mas e o papel do poder público? Onde está o compromisso de manter vivo o que nos define?
A verdade é que o Recife parece, hoje, uma cidade deixada à própria sorte. A gestão atual já não governa com os olhos voltados para a capital, mas com a ambição projetada para 2026. A candidatura de João Campos ao Governo de Pernambuco já não é bastidor, é estrada aberta. Ele circula pelo interior, constrói palanques, mas deixa Recife sem rumo.
E a pergunta que muitos fazem nas redes sociais é inevitável: se eleito governador em 2026, o prefeito vai fazer o mesmo que está fazendo com o Recife? Vai abandonar Pernambuco para cuidar da sua candidatura à presidência? Do Palácio das Princesas, mirar Brasília?
Nas redes sociais, o sentimento é cada vez mais forte. Como disse o jornalista Otacílio B. Carazzin: “está definitivamente comprovado que o prefeito João Campos não ama o Recife”. Uma frase que resume o que milhares sentem. Um lamento que é também grito.
Mas nem tudo está perdido. Ainda há tempo de reconectar a cidade ao seu destino. Ainda há força nas mãos do povo para exigir respeito, transparência, compromisso. O Recife não quer ser mercadoria simbólica, nem vitrine de projeto pessoal. Quer ser cuidado. Quer ser amado.
Porque quem ama o Recife, não o abandona. E quem o abandona, perde o direito de representá-lo.
Esse é o nosso testamento. Assinado em pedra, memória e sangue.
Por Luiz Barreto – Escritor, membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco
Nessa data foi assassinado no Recife o advogado, jornalista e político Dr. Trajano Chacon.
Na rua da Imperatriz, esquina com o Beco dos Ferreiros – como era então chamada a rua Sete de Setembro – quando Dr. Trajano Chacon com sua mulher, tinham saído do teatro Helvética, participando das celebrações do Dia do Advogado, ele foi brutalmente assassinado a golpes de paus e canos de ferro, por quatro ou cinco homens. Esses, depois foram identificados como policiais que pertenciam a Força Pública do Estado, comandada pelo 1º tenente do exército, Francisco Mello, que foi preso, dois dias depois, sendo este considerado um crime político. O 1º tenente Francisco Mello era subordinado ao governador general Dantas Barreto e todos os culpados pelo crime, após julgamentos, foram inocentados.
Naquela oportunidade, ferido e ensanguentado o Dr. Trajano Chacom foi levado para a farmácia “Universal”, na própria rua da Imperatriz, sendo, em seguida, socorrido pelo médico Augusto Chacon, seu irmão, que logo desenganou o paciente. Levando-o para sua casa, na rua da Imperatriz, comparecendo logo depois para prestar solidariedade e assistência médica os facultativos Drs. Arnóbio Marques, Arthur Cavalcanti e Alfredo Costa.
Registre-se ainda, que em 11 de agosto de 1827, Dom Pedro I, criava em uma única Lei, a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, e a Faculdade de Direito de Olinda, em Pernambuco.
Essa data passou a ser celebrada como o Dia do Magistrado, Dia do Advogado e o Dia do Estudante. É feriado na nossa Universidade Federal de Pernambuco, sendo uma pena que essa data, tão festejada antigamente, agora, as autoridades se esqueceram desse importante dia para a cultura pernambucana e do país.
Em tempos passados, era costume dos estudantes de direito reunirem-se, nessa data, para um almoço em um restaurante da cidade e terminada a refeição levantarem-se a correr, sem pagarem a conta.