Conversas de 1/2 minuto (45) -Advogados (II de II) e Jaguar. Por José Paulo Cavalcanti Filho

      Por José Paulo Cavalcanti Filho  –  Escritor, poeta, membro das Academias Pernambucana de Letras, Brasileira de Letras e Portuguesa de Letras. É  um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Integrou a Comissão da Verdade   –   ADVOGADOS (Final). Agora, o complemento da coluna anterior. Dedicada, em seu mês, aos advogados, em livro que estou escrevendo (título da coluna). Antes, bom lembrar como tudo começou: “Lei de 11 de agosto de 1827. Dom Pedro Primeiro por graça de Deos e unanime Acclamão dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brasil fazemos saber a todos os nossos Sudditos que a Assembleia Geral Decretou e Nós Queremos a Lei seguinte: Art. 1. Crear-se-hão dous Cursos de Sciencias Juridicas e Sociais, hum na Cidade de S.paulo e outro na de Olinda, e nelles no espaço de cinco anos e em nome Cadeiras, se ensinarão as matérias seguinte:… Dada no Palacio do Rio de Janeiro aos onze dias do mez de Agosto de mil oitocentos e vinte-sete. Sexto da Independecia e do Imperio”. Pois é, foi assim. E vamos logo às conversas:

 MARCELO NAVARRO RIBEIRO DANTAS, ministro do STJ. Cerimônia de entrega do Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade, em que fui um dos seis membros. Marcelo disse, de minha gravata,

– É a mais bonita que já vi.

Entreguei, na hora. E ele

– Vou guardar para usar em sua posse na Academia Brasileira de Letras.

E usou mesmo (em 2022), oito anos depois, trata-se de um vidente.

* * *

O barzinho que frequenta, na Praia de Pirangi (RN), tem nome curioso (mandou foto), Comeu Morreu ? bar, lanchonete e bodega. Nele, esta placa (outra foto)

? Pão na chapa:

Com manteiga, 2,50.

Com margarina, 2,00.

Sem manteiga, 1,50.

Sem margarina, 1,00.

* * *

Também mandou foto de cartaz em outro bar, daquela mesma praia, que dizia num português castiço

? Horário:

Abrimos quando chegarmos

Fechamos quando sairmos

Se vier e não estivermos

É porque não chegamos ou já saímos.

* * *

Outra de barraca por ele vista, em suas andanças matinais na praia,

? Horário de funcionamento:

Nós abrimos às 8:00h ou 9:00h, às vezes às 10:00h.

Fechamos às 18:00 ou 19:00, às vezes às 20:00h.

Às vezes, nem abrimos!

* * *

E mais uma, de certo Bar Cu do Mundo. Perguntei se ficava na sua terra e respondeu, como poeta,

? Se for, erraram no título, que deveria ser Barco do Mundo.

* * *

Ao pensar nas dores da alma, escreveu

– Amargura?

Amar cura.

Solidariedade?

Só lhe dar a idade.

Morri?

Amar, ri.

Sentimento?

Sem ti minto.

Jamais?

Já, mas…

 RAMADA CURTO, advogado e dramaturgo. Na Primeira República, deputado e ministro das Finanças. Em Portugal, esteve presente nos mais célebres processos-crime de seu tempo. Neste caso um cliente havia dito ser, o autor da ação, um filho da puta. E Ramada começou a fala chamando atenção para o fato de que, muitas vezes, utilizamos essa expressão como se fosse um elogio

? Ganda filho da puta, és o melhor de todos!

? Dá cá um abraço, meu grande filho da puta!

E concluiu suas alegações dizendo, ao juiz do feito,

? Até aposto que, neste momento, V.Exa. está a pensar o seguinte: vejam algo que este filho da puta não se havia de ter lembrado, só para safar o seu cliente!

Na hora de ler a sentença o juiz, olhando para o réu

? O senhor está absolvido, mas bem pode agradecer ao filho da puta do seu advogado.

 ROBERTO ROSAS, advogado. Lembrou que perguntaram ao Ministro Orozimbo Nonato, do Supremo,

– O senhor foi juiz?

– Fui.

– E quando largou o apito?

 RUI BARBOSA, advogado e homem público. Ruy usava um tipo de óculos diferente, sem hastes, pendurado no nariz. E, com esses óculos, também marcava a páginas dos livros que estava lendo. Com frequência, fechava o dito livro e lá se perdia mais um. No inventário de sua biblioteca, depois de sua morte, acharam mais de 40. Certa vez aquele homem culto, fundador (em 1897) da Academia Brasileira de Letras e seu Presidente (em 1908/19, até ser sucedido por Carlos de Laet), considerado Águia de Haia na II Conferência da Paz (1907), por não encontrar os ditos óculos, perguntou à gorda cozinheira que estava no ponto

? Que ônibus é esse?

E ela, olhando aquele velhinho com dó,

? O senhor me desculpe mas eu também sou analfabeta.

* * *

A única gravação que se tem, com sua voz, é homenagens à mulher. Trecho

? A mulher foi, tem sido e será sempre, um bálsamo para todas as feridas do coração. Um raio de sol que nos alumia, nas trevas cerradas de uma existência atribulada. A estrela que nos aponta para o Norte, nesta pedregosa senda da vida. Enfim, o consolo para todos os desalentos, o alívio para todas as dores, a mão que nos sustenta quando, já exaustos, corremos a precipitar-nos no abismo da morte ou da degradação moral.

No Senado, ante críticas feitas por um partidário do presidente Hermes da Fonseca que o acusava de ser velho, respondeu

? Que nada, tenho ainda muita força.

O que levou seus inimigos a distribuir, pelas ruas do Rio, maldosa quadrinha implicando a mulher de Ruy

? Ao ouvir-lhe a gabolice

Maria Augusta se abrasa

Se tem tanta quanto disse

Por que não gasta em casa?

 SIGMARINGA SEIXAS, advogado e homem público. Redigi, para o governo (FHC), o Decreto 3.551 (publicado em 4 de agosto de 2000); que, atendendo recomendação da UNESCO (1985), instituiu o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. Até ganhei da UNESCO uma comenda, por isso. E decidimos comemorar no primeiro desses patrimônios escolhidos, um Quarup ? ritual, em homenagem aos mortos ilustres, celebrado pelos povos indígenas do alto Xingu. Na hora da viagem houve imprevisto e não pude ir. Na volta, Sig disse como foi

? Durante o dia, mil mosquitos em nossa volta. E, de noite, dois mil. Não dava nem para respirar. Você foi sábio, ao correr de lá.

 SOBRAL PINTO, advogado. Miguel Arraes (governador de Pernambuco) estava em Fernando de Noronha, preso. Sobral requereu Habeas Corpus para ele ? negado, claro, pela justiça da Ditadura. José Almino (da Casa Rui Barbosa), filho mais velho, perguntou quanto seriam seus honorários e Sobral

? Nada, não recebo dinheiro de comunista.

 SYLENO RIBEIRO, advogado. Dayse de Vasconcelos Mayer, amiga antiga, indo ensinar Direito em Portugal o procura e diz

? Vim me despedir, Syleno, por ter certeza de que vou morrer muito cedo.

E ele, famoso por sua sinceridade absoluta,

? E não acha muito tarde para morrer cedo?

* * *

Jaguar

SAUDADES DO AMIGO JAGUAR. Luiz Gravatá mandou, no zap, um desenho do ratinho Sig (criação do cartunista) chorando. Foi a senha. Mais um entre tantas mortes de amigos queridos. Mais uma. Lembrei de Pessoa (Passos da cruz),

“Fosse eu apenas, não sei onde ou como,

Num crepúsculo de espadas.

Morrendo entre bandeiras desfraldadas

Na última tarde de um império em chamas…

Todas essas perdas entre tantas bandeiras desfraldadas do passado. E como despedida lembro, triste, duas historinhas (entre muitas) dele de que fui testemunha:

  1. Indo para Petrópolis, na frente do carro, Jaguar. Atrás, no meio, Nássara. Gênio. E surdo. Faziam as perguntas, Jaguar escrevia num caderno, mostrava e ele ia respondendo. Falou quase duas horas, sem parar. Já chegando, Jaguar arrancou do caderno as folhas com perguntas, fez um bolo, abriu a janela e disse

? Isso é que eu chamo jogar conversa fora.

E jogou mesmo.

2. Na Lagoa Azul, fiz as apresentações. Ele

– Muito prazer, dona Lectícia. Por falar nisso e o Thomas?

–  Thomas? Que Thomas?

– Eu tomo o que tiver, mas prefiro cachaça.

Previdente, Jaguar deixou escrito quais eram suas últimas vontades. E tudo (muito) natural. “Já que a minha vida é uma bagunça sem remédio, pelo menos resolvi planejar direito a minha morte. Para começar, decidi ser cremado e que as cinzas sejam espalhadas pelos bares que bebi. Vai faltar cinza, foi o comentário de Chico OPF. Se acharem que é muito bar para pouca cinza, basta incinerar um pangaré velho para inteirar”. Viva Jaguar!!!

ANSIEDADE E DECISÃO. Por CLAUDEMIR GOMES

 

  Por CLAUDEMIR GOMES –  Os amigos costumam dizer que escrevo sobre esportes, mas misturo tudo. Confesso que não me vejo escrevendo. Converso com o computador. Nesse monólogo tento repassar, de forma clara, o meu pensamento. Desde que ingressei no jornalismo, como integrante da excelente equipe de esportes do Diário de Pernambuco, comandada pelo mestre Adonias de Moura, aprendi que o futebol é uma fonte inesgotável de saber, e de sabedoria.

O futebol mais popular do planeta explica tudo. Nos mostra a vida como ela é. Basta ficar atento aos detalhes.

Esta semana, ao me deliciar com um texto postado nas redes sociais pelo poeta e amigo, Xico Bizerra – UM QUASE POETA – onde ele presta homenagem a alguns gigantes da literatura como Drumont, Bandeira, Neruda, Bardo, Pessoa…, pincei a frase: “Tudo a dizer-lhe, nada a falar”.

As atenções do futebol pernambucano, no momento, se concentram no confronto do Santa Cruz com o América de Natal, hoje a noite, na Arena Pernambuco, primeiro jogo do mata, mata que vai definir o acesso, de um dos dois clubes, para o Brasileiro da Série C, no próximo ano. A expectativa, emoldurada por grande tensão, me induziu a enviar um vídeo para o amigo, José Gustavo, um dos maiores amantes do Santa Cruz que conheço na atualidade. Sua resposta foi surpreendente:

“Tô uma pilha desde domingo… kkk”.

José Gustavo é um jornalista com grande conhecimento da história do Santa Cruz. Já testemunhou, e vivenciou de formas diversas, momentos memoráveis na trajetória do Clube do Arruda. Chorou de tristeza e se banhou de alegria. Aprendeu que, no futebol o que conta é o momento. E todo momento é moldado pelas circunstâncias. Eis porque Guga está com os nervos à flor da pele.

Foi-se o tempo em que, num confronto entre Santa Cruz e América/RN se apostava no Tricolor do Arruda sem medo. Nunes, Ramon, Luciano Velozo, Givanildo, Zé do Carmo, Ricardo Rocha, Luiz Neto, Birigui, Marlon, Pedrinho, Jarbas, Betinho… têm muito a contar sobre a soberania do Santa nesta queda de braço.

Hoje cedo perguntei a Val – o taxista – torcedor do Santa Cruz raiz, que comprou seu ingresso tão logo as vendas foram iniciadas: “Se você fosse fazer a preleção hoje, na Arena, o que diria aos jogadores?” O silêncio foi sua resposta.

“Tudo a dizer-lhe, nada a falar”, como poetizou Xico Bizerra.

Em momentos decisivos como este que o Santa Cruz vivencia neste sábado, a ansiedade é um adversário difícil de se transpor. O problema é que, apesar de o jogo ser uma decisão coletiva, ela atua de forma individual, e cada jogador reage diferente. Uns não dormem direito; outros vão várias vezes ao sanitário; outros ficam taciturnos, mas também existe o grupo dos que não se abalam.

Os narradores costumam alertar: “Chegou a hora de separar os homens dos meninos”. Sabemos que não é tão simples assim.

Ninguém melhor que o mestre Silvio Ferreira, amante que conhece todos os cubículos dos bastidores do Arruda, para falar sobre essa ansiedade que torna ainda mais tênue a linha que separa o sucesso do fracasso.

Jogadores e ex-jogadores se referem a ela como: “Um friozinho na barriga”.

Meu cunhado, Luciano Macedo, que desde domingo passado anda travestido de tricolor – bermuda com escudo do Santa Cruz; chinelo com marca do clube; camisa e boné tricolor – me liga para saber o que acho do jogo.

“Tudo a dizer-lhe, nada a falar”.

O futebol é arte. Tal qual a poesia.

Ministro da Educação prestigia Prefeitura do Recife e agenda ignora Governo do Estado

Camilo Santana visita o Recife com foco em parcerias federais e municipais, sem confirmação de participação da governadora Raquel Lyra, o que acende alertas sobre o alinhamento entre União e Estado

O ministro da Educação, Camilo Santana, desembarca nesta quarta-feira (27) no Recife com uma agenda oficial centrada em compromissos com instituições federais e a Prefeitura do Recife, liderada por João Campos. Em nenhum momento, a programação divulgada contempla atividades no Palácio do Campo das Princesas ou uma agenda conjunta com a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra.

O ponto mais simbólico da visita será a assinatura de convênios e anúncio de investimentos para o Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), com cerimônia marcada para acontecer no prédio da Prefeitura do Recife. O ato contará com a participação direta do prefeito João Campos, que já protagonizou acordos expressivos com o governo federal em áreas como educação básica e infraestrutura escolar.

Até o momento do fechamento desta matéria, a presença da governadora Raquel Lyra não constava na agenda oficial do Governo do Estado, o que reforça a percepção de ausência institucional do Executivo estadual nos compromissos do ministro da Educação em solo pernambucano. A governadora, apesar de chefiar a rede estadual de ensino, também não foi confirmada nas demais atividades do dia, incluindo o aulão do ENEM que ocorrerá no Ginásio Pernambucano, escola da rede estadual, no turno da manhã.

O gesto do Ministério da Educação pode ser interpretado como um sinal estratégico de aproximação com a Prefeitura do Recife e uma valorização do capital político de João Campos, nome em crescente projeção nacional. Ao mesmo tempo, a exclusão da esfera estadual da agenda reforça uma possível linha de distanciamento ou prudência institucional em relação ao governo de Raquel Lyra, cuja base política não integra o núcleo duro de apoio ao presidente Lula.

Nos bastidores, a leitura é de que há um movimento de reconfiguração de alianças em Pernambuco, onde o governo federal parece escolher com cautela os palanques que deseja valorizar. A presença destacada do ministro ao lado do prefeito do Recife, e a ausência da governadora nos anúncios oficiais, ainda que de forma velada, envia um recado que certamente será percebido por atores políticos locais.

A matéria não aponta rompimentos, mas evidencia um cenário onde o simbolismo dos gestos institucionais tem peso político. A escolha de onde e com quem anunciar investimentos, especialmente em ano pré-eleitoral, é parte fundamental do xadrez federativo e sinaliza muito mais do que o simples cumprimento de uma agenda.